Um dos mais próximos ministros da presidente Dilma Rousseff, Jaques Wagner, da Defesa, compara a atual crise política à vivida por Luiz Inácio Lula da Silva em 2005. “Eu já vivi momentos, não iguais, mas semelhantes, seja pessoalmente, seja no governo do ex-presidente Lula. Não sei se números (das pesquisas de aprovação do governo) eram iguais. Mas eram situações ruins, difíceis, e ele (Lula) ganhou a eleição (em 2006). Ela (Dilma) está terminando o terceiro mês de 48 (meses). O fato é que muita água ainda vai passar debaixo desta ponte”, disse Wagner, em viagem à Amazônia, na terça-feira, 24.
Sempre que conseguia sinal no telefone, o ministro da Defesa tentava se comunicar com Brasília, para acompanhar os desdobramentos de mais um dia de tensão em negociações com o Congresso, no qual o governo sofreu nova derrota referente às dívidas dos Estados. Wagner inaugurou um destacamento da Aeronáutica em Eirunepé, a 1.100 quilômetros de Manaus, acompanhou o trabalho de ação social das Forças Armadas na região e voou de helicóptero em Porto Velho. Entre os compromissos, concedeu esta entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Perguntado se o País vive, de fato, um “caos político” como diz a análise interna da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Wagner retruca dizendo já ter vivido momentos, não iguais segundo ele, mas semelhantes, seja pessoalmente, seja no governo do ex-presidente Lula. “Não sei se números (das pesquisas) eram iguais. Mas eram situações ruins, difíceis, e ele (Lula) ganhou a eleição (em 2006). Ela (Dilma) está terminando o 3º mês de 48 (meses de 2.º mandato). A pesquisa sempre é a fotografia da conjuntura (62% dos brasileiros consideram o governo Dilma ruim ou péssimo, segundo o Datafolha)”. Prega que é necessário ter paciência, foco, perseverança, porque, diz, quando bate o desespero, aí vem o caos, aí não se consegue organizar para superar o momento. E vaticina: “muita água ainda vai passar debaixo desta ponte”.
Lembrado de que, no momento, só se tem notícia ruim, o ministro justifica dizendo que a comunicação vai mal, mas que não gosta, entretanto, de apontar um único culpado. “Estamos juntando três elementos que levaram a este número das pesquisas: denúncias de corrupção, aperto fiscal e tensão na base, que estão sendo superadas”. Apesar disso, repete que, com paciência, com diálogo com a sociedade e com o Congresso Nacional, com aprovação do ajuste, é possível ultrapassar isso. E volta a dar novo prognóstico: “Têm muito chão para andar.”
Com este quadro negativo vem a dúvida sobre as chances do PT para 2018, considerando as passeatas nas ruas. Seria a Volta com Lula de novo?, questiona a reportagem. “Aí é futurologia. Lula continua sendo o candidato mais forte que o PT tem, isso está em qualquer pesquisa que quiser ver. Faltam 3 anos e 9 meses para as eleições. Está muito longe para as eleições e campanha política de médio e longo prazo não funciona assim. Uma coisa é uma análise racional. Outra coisa é a eleição, que é um momento emocional para a maioria da população.”
Haveria no ministro o temor de que o PT possa ser rejeitado nas eleições municipais, que estão mais perto? “Depende do tempo de recuperação da gente”, responde. “Se acontecer como eu estou prevendo que, no fim do ano, vamos recuperar economia, quem tiver de ser punido já terá sido punido, a gente já terá melhorado a relação na base aliada no Congresso... Então, é só você lembrar de 2005, quando diziam que Lula estava fora e ele ganhou no 2º turno (foi reeleito no ano seguinte). Eu não sei enxergar tão longe. É o imponderável.
Quando perguntado se iria para a Casa Civil, no lugar de Mercadante, Jaques Wagner é rápido: “Esqueça”. Mesmo sob o argumento da reportagem de que haveria neste momento pressões para que Mercadante saia, o ministro é taxativo: “Sem chance de ele sair.”
Mas querem que ele tenha menos poder e saia da articulação, argumenta a reportagem. “Ela (Dilma) quer separar a gestão da articulação. Mas isso não significa que o chefe da Casa Civil fique de fora da coordenação política porque ele é um coordenador. Articulação é ação de todos. Todo ministro é político e está sentado lá representando um partido da base. Não tem articulador político que opere sozinho. Todo mundo tem de ajudar nisso.”
Em relação à questão de como convencer o PT a apoiar o ajuste fiscal e trazê-lo para votar com o governo, Jaques Wagner diz não achar que o PT esteja resistindo. Avalia que ele tem dúvidas que estão sendo esclarecidas em reuniões sucessivas. Que o ajuste são medidas que visam contenção de gastos. E que o que mais sensibiliza o PT são medidas que não são ajuste fiscal, mas que corrigem desvios, erros de programas sociais, como seguro-desemprego.
Daria então para ceder? “O local para debater isso é no Congresso. Não sei qual é a banda de folga. É evidente que o Executivo vai conversar. Não sei se dá para negociar. Quem define isso é a junta orçamentária, de que eu não participo. Mas é claro que tudo que vai pro Congresso você tem de admitir que vai ter puxa daqui e estica dali. Mas a imagem que eu tenho é a de que a margem é muito estreita, pela necessidade de fazer o ajuste. Só que o protagonismo da discussão é do Parlamento. Não tem como fazer negociação antes.”