Cláudia Cruz seria a única controladora da conta em nome da offshore Köpek.| Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Denunciada pelos crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, Cláudia Cruz, esposa do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente afastado da Câmara dos Deputados, tinha total consciência da origem ilícita do dinheiro que abastecia a conta na Suíça da qual ela era a única controladora.

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“Não é crível que ela não soubesse de nada”, afirmou o procurador da República, Diogo Costa Martins, mencionando o depoimento de Cláudia ao juiz federal Sergio Moro no final de abril. Na ocasião, ela afirmou desconhecer a origem do dinheiro e qual era o rendimento de um deputado federal.

Dinheiro da Petrobras era usado para compras de luxo e educação dos filhos de Cunha

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Para a força-tarefa, Cláudia é a única controladora da conta em nome da offshore Köpek, na Suíça, por meio da qual pagou despesas de cartão de crédito no exterior. O valor seria incompatível com os salários e o patrimônio lícito de seu marido e ela não teria conseguido provar que os valores depositados na conta tinham origem lícita, o que, segundo o procurador seria facilmente comprovado caso o dinheiro tivesse de fato origem lícita.

“Ela cometeu dois crimes diferentes de lavagem de dinheiro: um na ocultação dos valores no exterior e outro na conversão de dinheiro público em bens de luxo”, disse o procurador da República, Deltan Dallagnol, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (9), após o recebimento da denúncia contra Cláudia Cruz pelo juiz federal Sergio Moro.

De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, o dinheiro depositado na conta de Cláudia Cruz foi utilizado na aquisição de artigos de grife como bolsas, sapatos e roupas femininas. Outra parte dos recursos teria sido utilizado para pagar os estudos de filhos do deputado na Inglaterra e nos Estados Unidos, bem como a mensalidade de uma academia de tênis na Flórida. Os gastos, de acordo com o MPF, totalizaram US$ 854.387,31 -- cerca de R$ 2,8 milhões. Cláudia ainda manteve depósitos não declarados superiores a US$ 100 mil em um prazo de sete anos -- o que constitui crime contra o sistema financeiro nacional.

Os procuradores também afirmaram que ainda não tem provas concretas sobre a atuação da filha de Eduardo Cunha, Danielle Cunha, e que devem continuar as investigações. “Ela era beneficiária do cartão de crédito. Não há comprovação de uma participação ativa”, disse Dallagnol.

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Também viraram réus através dessa denúncia Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da Área Internacional da estatal petrolífera, pelo crime de corrupção passiva; João Augusto Rezende Henriques, operador que representava os interesses do PMDB no esquema, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas; e Idalécio Oliveira, empresário português proprietário da CBH (Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl), pelos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Os três estariam envolvidos no esquema de corrupção que levou o dinheiro desviado da Petrobras para a conta controlada por Cláudia Cruz.

Propina vinha de contratos da Petrobras

Segundo as investigações, as contas de Cunha escondidas no exterior eram utilizadas para receber e movimentar propinas. Por meio da mesma conta Köpek, Cláudia também se favoreceu de parte de valores de uma propina de cerca de US$ 1,5 milhão que seu marido recebeu para “viabilizar” a aquisição, pela Petrobras, de 50% do bloco 4 de um campo de exploração de petróleo na costa do Benin, na África, em 2011.

O MPF comprovou, por meio de documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça, que foram pagos cerca de R$ 36 milhões em valores convertidos -- um terço do total do negócio -- para que a compra fosse fechada.

Os procuradores disseram que ainda desconhecer o destino do restante do dinheiro, que, de acordo com eles, podem estar escondidos em outras offshores em nome de outros agentes políticos. “Não podemos descartar esta hipótese”, disse Costa Mattos.

Para a Força-Tarefa, a dificuldade de firmar um valor de mercado sob o campo de exploração em Benin facilitou o desvio de dinheiro. “Em um bem ilíquido como este, é mais fácil firmar valores fictícios para favorecer o pagamento de propinas”, afirmou Dallagnol.

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“Instituições devem dar respostas”

Deltan Dallagnol também fez menção ao processo de cassação que o deputado federal Eduardo Cunha está sendo submetido na Câmara dos Deputados por ter mentido sobre a posse de contas no exterior. De acordo com o procurador, cada instituição deve dar a sua resposta para o caso. “Essa é uma situação que extrapola qualquer nível de bom senso. O MPF está dando a sua resposta hoje. Cabe à Câmara dos Deputados dar a sua resposta”, afirmou.