Presídio Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Um lugar construído para honrar um compromisso: oferecer segurança máxima. Mais de 200 agentes para vigiar 60 presos. Centenas de câmeras para cobrir todos os ângulos da cadeia. Nada ali pode passar despercebido. Nos quatro pavilhões, vistorias rigorosas.
É ali que está preso um dos traficantes de drogas mais temidos do mundo. Um colombiano que esteve no topo da lista dos criminosos mais procurados pelos Estados Unidos: Juan Carlos Ramirez Abadia, o Chupeta, capturado no Brasil no começo deste mês.
Até chegar ao local da entrevista com o traficante, no interior da penitenciária, é preciso passar por 20 portas, até a sala de videoconferência, que é o local que está mais distante dos outros presos.
Antes acostumado a usar roupas de grife, Abadia agora veste o modesto uniforme com o número da cela que ocupa. O rosto desfigurado por cirurgias plásticas impressiona e ele não esconde o desconforto da primeira entrevista em 20 anos de atividades ligadas ao narcotráfico.
Três agentes armados ficam na sala. E, ao lado, os advogados Sérgio Alambert e Gustavo Battaglin.
Abadia, que é um dos chefes do Cartel do Vale do Norte, afirma que sua prisão não é capaz de abalar o tráfico na Colômbia. "Eu estou preso e já tem gente me substituindo, depois vem outro, e outro. Isso não vai acabar nunca".
O cartel do traficante é acusado de despejar só nos Estados Unidos mais de mil toneladas de cocaína nos últimos anos.
Caçado, o colombiano montou no Brasil uma rede de proteção. Comprou documentos falsos. Ele também é acusado de pagar propina a policiais de São Paulo. A suspeita é alvo de investigação na Corregedoria da Polícia Civil. "Que eu saiba eu não entreguei a ninguém nada", se defende.
Três anos de esconderijos. E recentemente a desconfiança de que tantos disfarces já não faziam mais efeito. Policiais federais estavam cada dia mais perto do colombiano. "Percebi algumas coisas, movimentos estranhos e situações anormais". O traficante conta que chegou a alertar a companheira colombiana para o risco de serem descobertos. "Eu sempre disse a ela: mantenha-se afastada de todas as coisas porque eu sabia que em algum momento podia acontecer algum problema." Jessica está presa na sede da Polícia Federal, em São Paulo.
Abadia é dono de um patrimônio de US$ 1,8 bilhão, segundo o governo americano. Acusado de 315 assassinatos, ele colecionou muitos inimigos dentro e fora da Colômbia. Está jurado de morte.
"Penso que para o Brasil devo ser o que se chama aqui de uma batata quente. Melhor solução para ambos os governos é eu ir para os Estados Unidos."
A caminho da extradição, o traficante teme pela vida dos cinco filhos e muitos parentes que deixou para trás na Colômbia. E em nome deles fez um pacto de silêncio: diz que não vai contar nada sobre os cartéis de drogas. "Não vou fazer nenhum acordo. Vou assumir meus problemas sozinho."
O traficante sabe que pode sofrer vingança. Na Colômbia, ele é acusado de mandar matar famílias inteiras de inimigos e delatores.
Ramirez Abadia está isolado numa cela de apenas seis metros quadrados. De um lado, uma pequena cama, do outro, um banquinho, uma escrivaninha e uma prateleira, tudo de concreto. Ao fundo, uma torneira, um vaso sanitário e um chuveirinho. Nada de televisão, rádio nem visita íntima. O banho de sol: um por dia e de apenas duas horas.
O colombiano não tem contato com outros presos. O mais conhecido é o traficante Fernandinho Beira-Mar, que ocupa cela em outro pavilhão. Longe do luxo, da ostentação e do poder, Juan Carlos Ramirez Abadia se dá conta do que sobrou de uma história dedicada ao tráfico.
"De todas as pessoas que começaram comigo nesse negócio faz muitos anos, tem duas ou três. A maioria morreu e o resto foi extraditado. Sobrou pouca gente."
Aos 45 anos, o chefe de cartel de drogas não sabe quanto tempo mais vai ficar no Brasil. Mas tem uma certeza: só sai de Campo Grande para outros presídios de segurança máxima nos Estados Unidos. Um caminho sem volta. Invasão
A fazenda de Gustavo Durán Bautista, que tinha ligação com o cartel de Juan Carlos Ramirez Abadia, foi invadida neste domingo (26) de madrugada por integrantes do MST. A fazenda produzia e exportava frutas em caixas recheadas de cocaína. Pouco antes da invasão, o lugar foi assaltado.
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