Procurador de Justiça licenciado, o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), disse nesta terça-feira (7) que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, "faltou com lealdade à sua instituição, o Ministério Público, ao ignorar os indícios quanto ao enriquecimento do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci". Demóstenes fez essa declaração na companhia do líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), após obterem mais duas assinaturas de apoio à CPI de Palocci: as do ex-procurador da República Pedro Taques (MT) e de Cristovam Buarque (DF), ambos senadores do PDT. Álvaro Dias, por sua vez, disse que o arquivamento das representações da oposição que pediam investigações contra Palocci permite fazer a ilação entre a decisão do procurador-geral e sua intenção de agradar ao governo para renovar o mandato por mais dois anos.
"Procurador, como o nome diz, é quem procura os princípios republicanos da lealdade, da honestidade, da moralidade. Só que Roberto Gurgel agiu como homem de governo, não como homem de Estado", afirmou Demóstenes. "Ele faltou com a lealdade inclusive à sua instituição, o Ministério Público, que nós lutamos tanto para que tivesse independência e autonomia", disse.
O líder do DEM prevê que o "mau passo" de Gurgel deve se refletir contra a instituição. "Porque é uma instituição que rotineiramente é muito dura, mas o procurador não viu o que todos os brasileiros viram: indícios. Indícios quer dizer início de prova, algo que mereça ser investigado. Nós não pedimos a condenação de Palocci, pedimos a investigação da pessoa dele", afirmou. Na avaliação de Demóstenes, Gurgel provocou o efeito contrário ao "agir mal", estimulando os senadores a assinarem a CPI de Palocci.
"É evidente que há uma motivação, que é a sua recondução ao cargo. Essa é uma motivação, e nós temos o direito de fazer ilações a respeito dela", afirmou Álvaro Dias. "Eu não posso assegurar que tenha sido esta a razão fundamental para a sua decisão. De qualquer maneira, nós não concordamos com essa decisão, mas ela não nos desarma. A oposição tem o dever de continuar investigando o ministro Palocci", alegou o senador paranaense.
Dias considera que Palocci tornou-se "uma presença incômoda no governo, que atrapalha o governo, que faz mal ao País e que não é insubstituível". "Ao contrário, é estranho que o ministro Palocci seja considerado insubstituível pelo governo. Passa a ideia que há um forte comprometimento da campanha eleitoral da presidente Dilma com a movimentação financeira que possibilitou a ele aumentar seu patrimônio de forma exorbitante", declarou.
O líder disse que a decisão de Gurgel, em vez de encerrar a crise, contribuiu para a expansão da discussão e para a obtenção de novas assinaturas de apoio à CPI de Palocci. "Não vamos nos desarmar diante desses fatos, que são gravíssimos", assegurou. "O que surpreende é a postura do governo. É a postura de leniência em relação a essas denúncias que comprometem a presidência da República, pois passa a ideia de que há um comprometimento da campanha eleitoral com essa movimentação financeira", completou.