Opositores do governo Luiz Inácio Lula da Silva que integraram a CPI dos Correios afirmam que a principal lacuna deixada tanto pelas investigações no Congresso Nacional quanto na denúncia da Procuradoria-Geral da República que será analisada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) é o destino de parte do dinheiro que passou pelo chamado valerioduto.
A denúncia que será avaliada pelos ministros do STF a partir de 2 de agosto afirma que as contas das agências do empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza receberam mais de R$ 100 milhões de diversas fontes, entre elas desvios de verba de contratos com órgãos públicos. Os pagamentos realizados a parlamentares e ao publicitário Duda Mendonça, no entanto, não chegam a R$ 15 milhões.
"Retiraram toda a possibilidade de irmos atrás do destino do dinheiro", disse o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), integrante da CPI dos Correios que diz concordar com o relator da comissão, Osmar Serraglio (PMDB-PR). O peemedebista afirmou em entrevista publicada ontem pelo jornal O Estado de S.Paulo que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi "blindado" pelos petistas.
A CPI dos Correios foi instalada em 2005, logo depois das denúncias do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) segundo as quais o comando do PT estava comprando apoio ao governo Lula no Congresso Nacional.
"Foi feita uma blindagem geral aos principais petistas que apareceram ao longo das investigações", resumiu o deputado ACM Neto (DEM-BA), que foi sub-relator da CPI dos Correios.
Segundo ele, o governo passou a atuar "com mais força" do meio para o fim dos trabalhos da comissão, depois do depoimento do publicitário Duda Mendonça, que confessou ter recebido dinheiro no exterior como pagamento pela campanha de Lula em 2002. "No começo da CPI, o governo estava desarticulado."
A estratégia usada pelo governo à época foi criar a CPI da Compra de Votos, conhecida como "CPI do Mensalão", totalmente controlada por governistas. "Foi uma CPI que não levou a lugar nenhum", afirmou Lorenzoni.
A oposição tentou reagir na CPI dos Bingos, que ficou conhecida como a "CPI do Fim do Mundo", pois investigava qualquer coisa que pudesse atingir o governo federal e Lula. Mas também acabou não conseguindo levar à frente as investigações que se propunha a realizar. "O governo não deixou quebrar o sigilo do Paulo Okamoto de jeito nenhum", afirmou Lorenzoni.
A reportagem procurou ontem petistas a fim de que relembrassem os trabalhos das CPIs instaladas no Congresso entre 2005 e 2006, mas ninguém quis dar entrevistas. Há no partido a disposição de não falar do assunto nesse período prejulgamento.
Os advogados de Dirceu reagiram às declarações de Serraglio sobre a "blindagem" do ex-ministro na CPI dos Correios afirmando que seu cliente teve sigilos quebrados e nada foi achado.
A "blindagem" a Dirceu durante a CPI dos Correios não teria sido a única responsável pela falta de produção de provas mais contundentes para o julgamento do escândalo, segundo o relator da comissão. Entre os exemplos citados pelo deputado, estão a "negligência" na investigação das relações entre o valerioduto e a Brasil Telecom.
Serraglio acredita que trâmites com a Caixa Econômica Federal deveriam ter sido mais explorados. Para ele, faltou empenho também para revirar as contas no exterior da família do publicitário Duda Mendonça, que admitiu ter recebido pagamentos nas Bahamas.
"O Duda disse que só tinha uma conta fora do País e, depois, descobrimos que a família inteira dele também tinha esse tipo de conta, ou seja, merecia, sim, mais atenção", disse ontem Serraglio. "Conseguimos fornecer que houve, sim, a associação de dinheiro público; que, indiscutivelmente, houve apropriação de dinheiro do Banco do Brasil, uma instituição de capital misto. Prova tem, mas vai daquilo que os ministros do Supremo precisam para se convencer", afirmou o parlamentar peemedebista. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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