Sob pressão do Palácio do Planalto, os três deputados petistas que integram o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados tentam nesta terça-feira (1.º) construir um discurso que justifique a posição contra a admissibilidade do pedido de cassação de mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Os três se reunirão antes da sessão do órgão deliberativo para definir uma posição em conjunto. Nesta terça, caberá ao Conselho de Ética dizer se há ou não indícios mínimos para prosseguir com o processo contra o peemedebista.
Com o placar apertado, Cunha ameaça deflagrar o impeachment contra a presidente Dilma Rousseff caso os parlamentares petistas votem pelo seu afastamento, o que levou o governo federal a pedir que eles não entrem em confronto com o peemedebista.
Com posição afinada ao Palácio do Planalto, o deputado federal José Geraldo (PT-PA) defendeu que os três petistas façam um “sacrifício pelo país” ao tentar evitar que seja iniciado o processo de afastamento de Dilma, avaliado por ele como “o pior do mundos”.
Segundo José Geraldo, a admissibilidade do pedido de cassação criaria uma instabilidade institucional no Congresso Nacional e poderia inviabilizar a votação das medidas do ajuste fiscal. “Eu defendo a reflexão que devemos votar pelo país, não pelo Cunha. Não acreditamos no Cunha, mas o que pode acontecer no país amanhã pode ser o pior dos mundos”, afirmou.
‘Poderoso’
O petista reconheceu que sua posição pode ser “incompreendida” pelos militantes e políticos do PT, mas afirmou que se sentirá “até poderoso” caso a salvação do peemedebista “salve o Brasil” da atual crise política. “A possibilidade de ter as duas Casas Legislativas enfraquecidas é muito ruim para o país”, disse, classificando a votação no Conselho de Ética como “processo político puro”.
A bancada petista passou a segunda-feira (30) em conversas com os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Casa Civil) para definir uma posição. O Palácio do Planalto pediu a deputados do partido que convençam os três petistas a não entrarem em conflito direto com Cunha.
O receio é de que uma instabilidade nas duas Casas inviabilize a votação da meta fiscal de 2015 e a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), o que poderá agravar ainda mais a crise política e retomar a ameaça de um impeachment.
O núcleo duro da presidente reconhece que, apesar do esforço do governo, a pressão da opinião pública sobre os três petistas poderá levá-los a se posicionarem favoravelmente ao prosseguimento do processo de afastamento de Cunha.
Acusação
Em conversas reservadas, Cunha acusou nesta segunda-feira (30) o Planalto de estar por trás de acusação de que ele teria recebido R$ 45 milhões do BTG Pactual para incluir mudança em uma emenda provisória.
Em almoço com o vice-presidente Michel Temer, ele acusou o governo federal pela denúncia e ameaçou deflagrar o processo de impeachment caso os deputados petistas votem pela cassação de seu mandato.
A contabilidade de aliados e adversários do peemedebista nesta segunda apontava para um cenário apertado: Cunha poderia receber 10 votos favoráveis, mas trabalha para obter os três do PT e também o de Paulo Azi (DEM-BA), o que lhe daria um placar folgado: 14 a 6 -o presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA) só vota em caso de desempate.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura