Relatório da Polícia Federal (PF) sobre o celular do presidente da empreiteira Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, apreendido na 14.ª fase da Operação Lava Jato, revelam que ele mantinha contato com vários políticos, da base do governo e da oposição.Segundo a PF, ele se esforçava para utilizar siglas e mensagens codificadas para se referir a esses políticos e registrar algumas transações.
conexões internacionais
Os negócios internacionais das empresas envolvidas na Lava Jato e o suposto tráfico de influência de políticos brasileiros no exterior estão levando autoridades de outros países a abrirem investigações para apurar as suspeitas de corrupção. A Procuradoria-Geral da República (PGR) de Portugal recebeu das autoridades brasileiras pedido de cooperação para investigar negócios da Portugal Telecom (PT) envolvendo José Dirceu. Já o Legislativo do Peru vai investigar servidores envolvidos em suspeitas de irregularidades que incluem empresas brasileiras como a Odebrecht.
Segundo a PF, a sigla GA se refere a governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). MT seria o vice-presidente Michel Temer. GM, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. E ECunha, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Há também referência direta ao ex-presidente Lula no celular de Marcelo Odebrecht. “Dida”, por sua vez, seria Aldemir Bendine, presidente da Petrobras. E “Beto”, o secretário nacional de Justiça Beto Ferreira Martins.
Há ainda a sigla JS (neste caso a Polícia Federal utilizou no relatório uma tarja preta para não identificar o contato), FP (também com tarja preta). Na análise de 31 páginas, a Polícia Federal limita-se a transcrever as anotações da agenda do empreiteiro.
Em duas ocasiões, como revela a análise do material apreendido na residência de Marcelo Odebrecht, há registros na agenda do celular de encontros com políticos. Ele teria se reunido com Alckmin em outubro de 2014 e com Temer em 21 de novembro do ano passado, já depois da Juízo Final, etapa da Lava Jato que levou à prisão outros executivos de grandes empreiteiras do país. O detalhamento do encontro com o vice-presidente, contudo, aparece coberto por uma tarja preta no relatório.
Mais abaixo, há ainda o tópico “notas antigas”, no qual há referência “adiantar 15 p/JS” e em seguida a anotação “IPI até dez e PIS/Cofins até jan”. Ainda relacionado a este tópico há o título “Contribuição”, a partir do qual surgem várias referências de valores seguidas de siglas que a Polícia Federal ainda não conseguiu identificar claramente.
Outra anotação sugere doações eleitorais: “(…) MF/RA: não movimentar nada e reembolsaremos tudo e asseguraremos a família. Vamos segurar até o fim. Higienizar apetrechos MF e RA. Vazar doação campanha. Nova nota minha mídia? GA, FP, AM, MT, Lula? Ecunha? (…)” MF seria Márcio Farias e RA, Rogério Araújo, outros executivos da Lava Jato que foram inciados na segunda-feira (20) pela PF.
O juiz federal Sergio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato, intimou nesta terça-feira os defensores de Marcelo Odebrecht a explicarem as anotações e siglas de seu celular. Em despacho, Moro diz que o “trecho mais perturbador [que consta do celular] é a referência à utilização de ‘dissidentes PF’ junto com o trecho ‘trabalhar para parar/anular’ a investigação”
Para a Polícia Federal, há indícios ainda de que o empresário, preso desde 19 de junho, lançou mão de uma estratégia de confrontar as investigações da Lava Jato, buscando criar “obstáculos” e “cortinas de fumaça”, que contaria com “policiais federais dissidentes”, dupla postura perante a opinião pública, apoio estratégico de integrantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ataques às apurações internas da Petrobras.