Loteamento
Cargos da Mesa Diretora e presidência de comissões já são negociados
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) ainda nem oficializou sua candidatura à sucessão de José Sarney (PMDB-AP) mas já costurou acordos para a formação de um chapão. Além dos cargos da Mesa Diretora, inclui ainda negociação de indicações para as comissões mais importantes. Os cargos são ocupados proporcionalmente, com base no tamanho das bancadas.
A negociação de Renan passa pela ida de Eunício Oliveira (PMDB-CE) para o cargo de líder da bancada; Vital do Rêgo (PMDB-PB) presidirá a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante do Senado. Romero Jucá (PMDB-RR) ocupará a 2ª vice-presidência da Mesa Diretora e Fernando Collor (PTB-AL) comandará a poderosa Comissão de Infraestrutura, hoje com o PSDB.
O vice-presidente da República, Michel Temer, disse ontem que não acredita que o retorno do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), ao comando do Senado afetará a credibilidade da Casa. Renan Calheiros é favorito para voltar a presidir o Senado, cargo ao qual renunciou no final de 2007 para evitar ser cassado por quebra de decoro parlamentar após uma série de acusações de irregularidades. Além disso, ao longo das últimas semanas, uma série de denúncias envolvendo Renan (veja matéria nesta página) também foram noticiadas.
"Não creio [que a eleição de Renan Calheiros afete a credibilidade do Senado]. Vai depender muito da gestão que ele queira fazer. Se ele fizer uma gestão correta, adequada, ao invés de prejudicá-lo, vai enaltecer", afirmou. Presidente de honra do PMDB, Temer fez ontem uma "visita de cortesia" ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Questionado por jornalistas se Renan Calheiros é um "bom nome" para comandar a Casa, Michel Temer disse que é "um nome escolhido pelo Senado, pelo partido, que tem tradição e pode fazer uma belíssima gestão".
Sobre a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, que tem dois peemedebista no páreo, Temer afirmou que a disputa "está caminhando". "O melhor candidato, que ganhar simpatia da bancada, será eleito", destacou, numa referência à disputa que tem entre os candidatos o líder do partido e favorito, Henrique Eduardo Alves (RN), e a atual vice-presidente da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES).
Planalto
Enquanto Temer fala em uma "belísima gestão" de Renan Calheiros na presidência do Senado, o Palácio do Planalto nega que tenha preferência pelo peemedebista e por Henrique Eduardo Alves para a presidência do Senado e da Câmara, respectivamente. "A deliberação de presidência e Mesa é autônoma e soberana do Congresso Nacional. A preferência nossa é que eles escolham, e que a gente possa continuar tendo essa relação produtiva, benéfica para o país, que nós tivemos ao longo desses dois anos", afirmou ontem a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti.
Questionada, a ministra se mostrou despreocupada sobre a conveniência de o governo ficar tão dependente do PMDB, que ocupa ministérios, a vice-presidência e agora tem grandes chances de ocupar também o mais alto cargo nas duas casas legislativas. Os cargos aumentarão o poder de barganha da sigla, que já tem a maior bancada no Senado e a segunda maior da Câmara. Se vitoriosos, os peemedebistas controlarão a pauta de votações das Casas, a criação de CPIs e ocasionais pedidos de impeachment da presidente da República.
"Eu não consigo vislumbrar nenhuma dificuldade a não ser as tensões naturais da relação entre Legislativo e Executivo. E isso aí, já estamos acostumados, enfrentamos e superamos", disse a ministra, após encontro com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS).
Influência do senador teria beneficiado construtora
Da Redação
A edição de ontem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que uma empresa ligada a um suposto laranja do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) seria uma das principais construtoras do programa Minha Casa, Minha Vida em Alagoas. Segundo a reportagem, a Construtora Uchôa pertence ao irmão de Tito Uchôa, marido de uma ex-assessora do gabinete de Renan. Tito também é sócio do filho de Renan, o deputado federal Renan Filho (PMDB).
A empresa faturou cerca de R$ 70 milhões do programa habitacional nos últimos dois anos. Segundo a reportagem, a construtora seria beneficiada pela influência de Renan na Caixa Econômica Federal em Alagoas e nas prefeituras do estado.
No último fim de semana, a revista Época revelou que Renan Calheiros e Renan Filho destinaram verba pública para uma empresa ligada a uma secretária do senador. Segundo a revista, os dois pagaram R$ 110 mil, oriundos da verba de gabinete, para o instituto de pesquisa Ibrape. A empresa tem como principal sócio Francivaldo Diniz, marido de Edênia Sales, secretária de Renan em seu escritório político em Maceió.
Caso parado
As investigações sobre o caso Mônica Veloso, que resultou na renúncia de Renan Calheiros à presidência do Senado em dezembro de 2007, estão paradas há quase dois anos na Procuradoria-Geral da República, segundo informações do jornal Folha de S.Paulo. À publicação, o procurador-geral, Roberto Gurgel, disse que irá se manifestar em breve sobre o caso.
Quando surgiram as suspeitas de que um lobista da empreiteira Mendes Júnior era o responsável por pagar a pensão da filha do senador com a jornalista Mônica Veloso, Renan apresentou notas fiscais referentes à venda de bois. Laudos da Polícia Federal, no entanto, indicavam que as notas possuíam informações divergentes. São as investigações sobre a veracidade dessas notas que estão paradas, aguardando uma decisão da PGR.