Respeito e cidadania
O presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT, Nelson Matias Pereira, disse que o objetivo do evento é garantir direitos para os homossexuais. "A gente não quer que nenhum cidadão perca a vida por causa da orientação sexual", afirmou.
O secretário estadual de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, pediu que os gays procurem a polícia para denunciar os crimes cometidos contra eles. "A política de segurança incluiu a proteção a todo cidadão", falou durante a abertura do evento.
O presidente da Associação Brasileira GLT, Toni Reis, lembrou que muitos homossexuais já sofreram agressões por causa da opção sexual, 20% de acordo com uma pesquisa da associação. Ele pediu que a homofobia seja considerada crime no país. "Hoje é um dia de comemoração e de respeito", disse.
Para Marta Suplicy a situação está melhorando no país. "Mudou o sentimento da nação em relação ao cidadão homossexual. É difícil você conseguir que alguém se posicione claramente homofóbico. As pessoas sabem que é politicamente incorreto", afirmou a ministra.
Além dessas autoridades, estiveram presentes na abertura do evento o ministro dos Esportes. Orlando Silva, o secretário da coordenação das subprefeituras, Andrea Matarazzo e o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho.
O grande número de pessoas que compareceram neste domingo (10) à 11ª Parada do Orgulho GLBT em São Paulo começa a preocupar os organizadores do evento. "Essa grandeza começa a preocupar um pouco. Esse crescimento é importante, mas ele tem que acontecer com qualidade", diz Nelson Matias Pereira, presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT.
Os organizadores ainda não fecharam o número de pessoas que se concentraram na Avenida Paulista e na Rua da Consolação, na região central da cidade, durante a parada, mas acreditam que ele possa ter chegado a 4 milhões. "Colocar tanta gente nesse espaço e terminar na paz total é um sucesso", diz Pereira.
Ele citou como exemplo do que preocupa a organização a grande concentração de pessoas em torno dos trios na Avenida Paulista. Por volta das 14h, era quase impossível andar em frente ao Museu de Artes de São Paulo (Masp). "Era uma massa humana muito grande. E qualquer coisa poderia causar uma tragédia", afirmou.
Os trios elétricos chegaram ao fim da Parada, em frente à Igreja da Consolação, por volta das 19h30, quando foi encerrado o evento. Meia hora depois, ainda era possível ver uma grande quantidade de pessoas descendo a Rua da Consolação em direção à Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo.
Para o presidente da associação, a maior preocupação é com algumas pessoas que o evento acaba atraindo. "Começa a atrair gente estranha à Parada. Tem vindo muita gente que não tem afinidade com a comunidade". No próximo ano, a associação irá pensar em uma maneira de melhorar o fluxo de pessoas.
"A logística tem que ser melhorada", disse Pereira. Um dos pontos a ser repensado são os trios elétricos, que chegaram a 23 este ano. "Talvez coloquemos só os trios da militância (excluindo, por exemplo, trios de boates GLS)." Apesar da preocupação, Pereira avaliou como positiva a 11ª Parada do Orgulho GLB. "A avaliação que a gente faz é que foi um sucesso".
Rua vira pista de dança
A 11ª Parada do Orgulho GLBT de São Paulo transformou a Avenida Paulista e ruas próximas em verdadeiras pistas de dança para um público estimado em mais de 3 milhões de pessoas. Na tarde deste domingo (10), os organizadores do evento chegaram a elevar a estimativa de público que antes era de 3,3 milhões para 3,5 milhões.
Os 23 trios elétricos tocaram em volume alto batidas eletrônicas e hits de bandas como Erasure, Pet Shop Boys e New Order. Sucessos de Xuxa e do Balão Mágico provocaram euforia em milhares de participantes na passagem do trio elétrico Trash 80's, que relembra sucessos dos anos 80.
Por volta das 15h30, vias próximas Avenida Paulista, principalmente na altura do Masp, estavam praticamente intransitáveis tal era o volume de participantes.
"Tem mais gente do que no ano passado", afirmou André Guimarães, um dos organizadores. O Centro de Operações da Polícia Militar informou que neste ano não vai divulgar estimativas de público.
Socorro e tumulto
Apesar de não possuírem uma estimativa de atendimentos, o posto do Corpo de Bombeiros no Masp prestou socorro a dezenas de pessoas que tiveram queda de pressão em razão do calor.
Uma briga entre participantes da Parada provocou empurra-empurra por volta das 15h na frente do Masp, ponto de partida dos trios elétricos rumo à Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo. O tumulto foi controlado e não houve feridos. Flagrantes
Um homem foi detido na tarde deste domingo na Rua da Consolação por suspeita de agredir dois policiais militares durante a Parada. Ele foi levado ao 4º Distrito Policial. Segundo a polícia, a agressão ocorreu por volta das 16h15, quando os policiais militares tentaram abordar o homem para solicitar seus documentos por causa de uma suspeita de participação em um roubo. Ele teria resistido, causando ferimento nas mãos direitas dos policiais. De acordo com o sargento Augusto, um dos agredidos, o homem não portava documentos.
Outro flagrante era registrado no 4º DP por volta das 16h30. Carla Andrade da Silva, de 20 anos, teve o celular roubado na Avenida Paulista por quatro rapazes enquanto acompanhava o evento. O grupo que estava com ela reconheceu um dos supostos ladrões a poucos metros do local do roubo.
O suspeito foi agarrado e a PM, acionada, que o levou ao 4º DP. A vítima chorava muito enquanto esperava o boletim de ocorrência. "Eu me senti horrorizada", disse. Pelo menos outras cinco ocorrências de furto haviam sido registradas no local até as 16h30.
Descalça
A ministra do Turismo, Marta Suplicy, elogiou a 11ª edição do evento. "Foi lindo, tranqüilo, muito bonito como sempre", disse Marta, ao descer do trio elétrico e se retirar do evento por volta das 15h30.
Muito à vontade, a ex-prefeita de São Paulo chegou a tirar os sapatos e acenava com entusiasmo para a multidão. No caminho, muitas pessoas fantasiadas de super-heróis, chapeuzinho vermelho e até de poodle, que foi a roupa que mais chamou a atenção da ministra.
Cinco mil fotos
Quem seguiu os trios no chão viu máquinas fotográficas e celulares em punho para fotografar fantasias e superproduções. As drag queens fizeram sucesso. "Durante algumas horas nos tornamos celebridades. Parece que somos estrelas de novela. Participo da parada de São Paulo desde o início e acho que o assédio cresceu", afirmou Sissi Girl, de 36 anos, no meio da roda de pessoas vorazes por fotografias.
A drag queen profissional, que ficou quase uma hora produzindo o visual e cinco meses bordando o vestido, conta que em dia de parada chega a tirar, em média, cinco mil fotos.
Fé multicolorida
Com uma estola estilizada com as cores do arco-íris, Gelson, pastor há três anos, foi à 11ª Parada do Orgulho GLBT com o namorado, que o ajudava a divulgar a igreja. "Queremos dar visibilidade à Igreja da Comunidade Metropolitana. Muita gente não sabe que Deus não discrimina", afirmou. O pastor aproveitou a multidão para tentar atrair fiéis para a instituição cristã definida como "igreja inclusiva".
Fantasiado de "Bento 24", José Roberto Fernandes, de 56 anos, conta que fez da parada oportunidade para um alerta. Entretanto, o figurino adotado certamente chocaria a comunidade católica. Nas mãos, levou um cálice que, além de fichas brancas que simbolizam hóstias, também possui preservativos. Por onde passava, provocava a atenção do público que o cercava para fotografá-lo.
"Faço um alerta à hipocrisia da Igreja Católica que proíbe a camisinha. Não é um protesto, mas uma homenagem e um alerta à igreja", afirmou ele, que se disse católico praticante. Apesar da orientação da Igreja que proíbe homossexuais de comungar, José Roberto afirmou que participa da Eucaristia.
Protesto
Toni Reis, de 43 anos, e David Harrad, de 49 anos, foram à Parada Gay neste domingo (10) vestidos de noivos para protestar. Juntos há 18 anos, eles vestiram smoking e gravata borboleta rosa para pedir a liberação dos casamentos homossexuais. Há três anos, o inglês David correu o risco de ser deportado, mas um registro em cartório que constatou a união estável entre os dois permitiu que ele ficasse no país e seguisse ao lado de Toni.
"Somos noivos e estamos esperando há 18 anos a aprovação da lei", disse Toni logo que chegou ao evento que começará logo mais à tarde na Avenida Paulista, região central de São Paulo.
Pais e filhos
Muitas famílias vieram à região central para acompanhar a Parada. Pais e filhos se divertiram em meio aos trios elétricos. "Eu gosto, não tenho nada contra (a homossexualidade). Cada um vive como quer. Eu participo da Parada e apóio", disse a diarista Luzia Pirilo Sante, de 53 anos, que foi ao evento acompanhada da filha de 25 anos.
O bancário Paulo Rodrigues, de 53 anos, acompanhou o evento abraçado à mulher: "Eu acho um show à parte. É onde as pessoas conseguem expressar o que realmente sentem", disse o bancário, que afirma ter ensinado aos três filhos a importância de se respeitar a diversidade.
Famílias acompanharam da janela de casa a passagem da parada. Nos prédios da Rua da Consolação, as pessoas colocaram cadeiras próximas às janelas e assistiram à festa de camarote. Muitos moradores estavam preparados, com bandeiras das cores do arco-íris e apetrechos coloridos. 300 mil turistas
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), ao declarar aberta a Parada na manhã deste domingo (10), lembrou que é o evento que atrai o maior número de turistas a São Paulo. No ano passado, foram 200 mil pessoas e a expectativa é de que este ano chegue a 300 mil, de acordo com a previsão da São Paulo Turismo (SPTuris).
O investimento do governo municipal na festa foi de R$ 400 milhões, segundo Kassab. "A Parada merece esse investimento", comentou. O evento é o segundo que traz mais retorno financeiro à cidade, atrás apenas da corrida de Fórmula 1. Em 2006, o GP do Brasil trouxe R$ 150 milhões aos cofres municipais contra R$ 136 milhões da Parada.
Questionado por um jornalista, caso fosse gay, se Kassab assumiria a orientação sexual em uma campanha eleitoral, o prefeito disse que isso "é uma questão íntima". "Eu não sou. E é uma questão de foro íntimo de cada um". Kassab é um dos possíveis candidatos à prefeitura de São Paulo em 2008.
O prefeito anunciou que o evento fará uma compensação ambiental. Durante todo o percurso da Parada será medida a quantidade de CO2 emitida pelos trios elétricos que acompanham a caminhada. Depois, a organização do evento se comprometeu a plantar árvores para balancear o efeito da poluição.