Aníbal Khury criou 88 cidades do estado
O ex-deputado estadual Aníbal Khury, falecido em 1999, teve papel decisivo para "montar" a atual geografia política paranaense. Ele desempenhou papel importante na articulação da criação de 88 municípios paranaenses, de acordo com a diretoria legislativa da Assembléia. Ou seja, 22% das 399 cidades paranaenses nasceram sob as bênçãos de Khury, que foi deputado e presidente da Assembléia em diversas legislaturas. São "crias" diretas ou indiretas do ex-deputado municípios como Umuarama, Fazenda Rio Grande, Pinhais e Dr. Ulysses.
José Richa personificou a redemocratização
O ex-governador José Richa (19342003) acabou personificando o político paranaense que lutou pela democracia contra o regime autoritário. Por isso, acabou sendo o governador da redemocratização: foi o primeiro a ser eleito após a abertura política, em 1982. E governou o estado de 1983 a 1986. "O discurso de José Richa era o da transparência e da participação política num Estado de Direito. Ele obteve grande destaque no Paraná, em sua oposição contra o regime militar", afirma o cientista político Ricardo Oliveira, da UFPR.
O professor de Ciências Políticas Carlos Strapazzon, do Centro Universitário Curitiba, acrescenta que a preocupação de Richa com os movimentos sociais e a distribuição de renda o distingue dentre os governadores que o antecederam. "Ele é um dos políticos que deixou saudade e é lembrado pela sua preocupação com os problemas sociais." Talvez por essas qualidades é que o ex-governador seja tão lembrado nos discursos de seu filho, o atual prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB).
O Dia de Finados é a data em que os mortos são lembrados. Normalmente, eles deixam aos seus familiares alguns bens materiais, ensinamentos e a saudade. Mas, para um grupo pequeno de homens, ligado à política, o legado após a morte é mais duradouro e atinge muito mais pessoas: obras, realizações, mudança de rumos do estado e da nação. Na política, há várias lideranças que continuam a ter influência mesmo depois de mortas no dia-a-dia do Paraná. É o caso dos ex-governadores Bento Munhoz da Rocha (1905 1973), Ney Braga (19172000), Pedro Viriato Parigot de Sousa e José Richa (19342003), e do ex-deputado Aníbal Khury (19241999).
Bento, Ney e Parigot, por exemplo, tiveram importante papel no processo de integração e modernização do estado, lançando as bases de infra-estrutura que permitiu a industrialização. Richa foi um dos líderes da redemocratização. E Aníbal Khury mudou a geografia política do estado.
De família tradicional, Bento Munhoz da Rocha é considerado o principal integrador do estado. Ele articulou, quando era deputado constituinte, em 1946, a reincorporação do território do Iguaçu ao Paraná. Entre 1943 e 1946, o Paraná havia perdido cerca de um quarto de suas terras, nas regiões Oeste e Sudoeste, para a criação do território do Iguaçu.
Sua gestão como governador (19511955) também foi marcante. "Ele moldou o Paraná no campo administrativo, através da integração territorial, e consolidou Curitiba como a capital política e cultural do estado", diz o cientista político Carlos Strapazzon, do Centro Universitário Curitiba. Naquela época, a integração se mostrava necessária pois, em meados do século 20, era grande o risco de desagregação do estado, conforme mostra o sociólogo José Pedro Kunhavalik, no livro "A Construção do Paraná Moderno". Havia descontentamento da população do Oeste e do Sudoeste, regiões colonizadas por gaúchos e catarinenses, que se sentiam abandonados pelo governo estadual. Enquanto isso, o Norte paranaense permanecia ligado economicamente a São Paulo. Cogitava-se inclusive a criação de um novo estado, o Paranapanema, desmembrando a região do Paraná. Bento conseguiu impedir essa desagregação do estado.
Strapazzon afirma que, nessa época, Curitiba também corria o risco de perder o status de capital do estado. Segundo ele, Londrina vivia o "boom" cafeeiro e era comum se falar na mudança da capital. "A consolidação de Curitiba como a capital do estado se deve a Bento Munhoz", diz o professor. O ex-governador contribuiu para que Curitiba se tornasse uma cidade universitária, incentivando a instalação da PUCPR e construindo a Biblioteca Pública do Paraná e o Teatro Guaíra. No plano político-administrativo, Curitiba deve também a Bento Munhoz a construção dos prédios da administração estadual no Centro Cívico. "Essas construções faziam parte do projeto de Bento Munhoz de centralização política e cultural do estado em Curitiba", diz Strapazzon.
O cientista político Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR, considera Bento Munhoz o mais intelectual dos governadores que o Paraná já teve. Embora tivesse formação de engenharia, Bento Munhoz foi professor de sociologia na UFPR e publicou 14 obras, como ensaísta ou sociólogo.
Já Ney Braga é tido como o modernizador do Paraná, lançando em seu primeiro mandato, de 1961 a 1964, o Plano de Desenvolvimento Econômico do Paraná, que criava as bases de infra-estrutura do estado. "Antes de Ney Braga, o Paraná era produtor de café e de erva mate. Não tinha integração por estradas. Londrina e Maringá, por exemplo, se comunicavam com Sorocaba e com o Porto de Santos", afirma Strapazzon. Ney Braga fez a primeira ligação terrestre do norte do Paraná com Paranaguá a Rodovia do Café , reativando também o porto e ligando os "dois Paranás".
O ex-governador criou também uma série de empresas estatais para fomentar a economia: a Sanepar; a Companhia de Desenvolvimento do Paraná (Codepar), que veio a se transformar mais tarde no Banco de Desenvolvimento do Paraná (Badep); além de ter sido o principal articulador do BRDE, num acordo com o governo de Santa Catarina e a União. "Foi também o Ney Braga quem turbinou a Copel, que tinha sido criada pelo Bento Munhoz", lembra Strapazzon. Segundo ele, no governo de Bento Munhoz apenas 30 municípios do Paraná tinham energia elétrica, enquanto que, no fim da gestão Braga, eram 120 municípios com eletricidade.
Segundo Oliveira, Braga teve também um papel importantíssimo na formação de um grupo político cujo herdeiro mais recente foi o ex-governador Jaime Lerner. "No campo político nacional, ele era líder de um grupo com expressão em Brasília. Foi ministro por duas vezes, da Agricultura (no governo Castelo Branco, de 1965 a 1966) e da Educação (no governo Ernesto Geisel, entre 1974 a 1978)". Também ajudou a fazer outros ministros, como Karlos Rischbieter (ministro da Fazenda de João Figueiredo, entre 1979 e 1980) e Euro Brandão (ministro da Educação do governo Geisel, entre 1979 e 1980). Essa expressão política fez com que Braga voltasse a ser governador do Paraná entre 1979 e 1982, por eleições indiretas.
Strapazzon ressalta também a importância de Pedro Viriato Parigot de Sousa, que foi diretor-presidente da Copel de 1961 a 1970, vindo a se tornar governador do estado em 1971. "Ele foi o responsável pelo planejamento estratégico de energia elétrica do Paraná, dando seqüência a projetos de usinas hidrelétricas do período de Ney Braga", afima Strapazzon.
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