"Azarão"
Rivais em 2007, Fruet e Chinaglia se reencontram
Há oito anos, o prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT), era o azarão na disputa pela presidência da Câmara. Então filiado ao PSDB, ele lançou uma candidatura sem chances de vitória, mas que encampava os votos da "bancada da ética", que pedia ações de moralização da Casa após o escândalo do mensalão. Ficou em terceiro lugar, com 98 votos, atrás dos governistas Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Vencedor em 2007, Chinaglia visitou Fruet há duas semanas para pedir apoio. "Eles conversaram sobre aquela disputa, mas com muita cordialidade. Falaram que naquela época pesava muito mais o embate ideológico", diz o deputado federal e presidente do PT no Paraná, Ênio Verri, que acompanhou o encontro. O parlamentar negou o pessimismo em relação ao sucesso da campanha de Chinaglia. "Essa volta do Eduardo Cunha a Curitiba é a mostra de que eles estão sentindo o avanço da nossa candidatura. Nós temos tudo para vencer a eleição", diz o petista.
Favorito na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) começa a reta final da campanha em Curitiba. Às 17 horas, ele se encontra com o governador Beto Richa (PSDB) para tentar arrancar uma declaração de apoio formal do tucano. Em dezembro, já havia escolhido a capital paranaense para abrir o roteiro de viagens pelo país. E, na ocasião, visitou Richa.
Nesse intervalo, os dois principais adversários de Cunha Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG) também passaram pela cidade e se encontraram com o governador tucano.
Importância
A importância dada ao Paraná na disputa de 2015 é inédita e segue dois fundamentos estratégicos. O primeiro é a percepção de que as seis principais bancadas estaduais serão decisivas para fechar a eleição ainda no 1.º turno. O segundo é que as principais lideranças locais Richa e o prefeito Gustavo Fruet (PDT) teriam condições de pressionar aliados.
Com 30 cadeiras na Câmara, o Paraná fecha o grupo de seis maiores bancadas do país. Os deputados paranaenses junto com os de São Paulo (70), Minas Gerais (53), Rio de Janeiro (47), Bahia (39) e Rio Grande do Sul (31) somam com folga a maioria de 257 votos necessários para eleger o presidente da Casa. "Além da força do Paraná que todo Brasil conhece, o Beto Richa se consolidou como uma liderança nacional das mais importantes depois da forma como conquistou a reeleição", diz Delgado.
Partidos que estiveram na coligação de Richa elegeram 19 deputados no Paraná. O que não quer dizer, porém, que todos vão seguir as instruções do governador. E, até o momento, a posição oficial dele tem sido de neutralidade.
Proximidade
Formalmente, o PSDB apoia Delgado. Mas Richa teria laços mais estreitos e antigos com Cunha. Fontes próximas ao governador confirmam que o parlamentar carioca articulou um canal de diálogo entre o governo do estado e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello.
O ministro concedeu no ano passado uma decisão liminar que destravou empréstimos de cerca de R$ 3 bilhões negociados por Richa e que estavam emperrados na Secretaria do Tesouro Nacional. Outro nome que uniria os dois é o do ex-deputado estadual Tony Garcia. Procurado pela reportagem, Garcia negou participação na campanha de Cunha, mas admitiu a relação com o peemedebista.
Se o apoio de Richa se traduzir em votos, o deputado federal João Arruda (PMDB) estima que Cunha pode chegar a 22 votos. "Seria muito importante para a construção de uma vitória no 1.º turno. Mas não acredito que o Beto vai dizer claramente que desceu do muro", diz Arruda.
Ainda assim, a conta dependeria de várias "traições", como a dos dois paranaenses do PSB de Delgado: Luciano Ducci e Leopoldo Meyer. "Beto pode ter o posicionamento dele, mas eu voto no Delgado", garante Ducci.
Apesar de o PMDB ser o principal parceiro da coligação da presidente Dilma Rousseff, Cunha é visto quase como um candidato de oposição ao PT. Mais moderado, Delgado é visto como alternativa para os petistas para uma possibilidade de derrota "menos dura" no 2.º turno.
Voto secreto embaralha prognóstico do resultado
Uma modificação de última hora impediu que a emenda constitucional que instituiu o voto aberto para cassações de mandato, aprovada em 2013, fosse estendida para as eleições das mesas diretoras da Câmara e Senado, no próximo domingo. A manutenção do sigilo prejudica prognósticos e deve estimular traições na votação marcada para o próximo domingo.
"Difícil prever alguma coisa. Todo mundo pode falar que vota em alguém e depois mudar", diz o deputado Rubens Bueno (PPS). Além disso, há o jogo de interesses de cada parlamentar. "Claro que tem gente fazendo campanha agora querendo algo em troca depois, como alguma posição em uma comissão importante ou a relatoria de um projeto importante. Faz parte do jogo", relata o paranaense.
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