Opinião do leitor
Os próprios parlamentares não chegaram a se surpreender com o resultado da pesquisa divulgada nesta quinta-feira pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que mostra que os políticos e os partidos são as instituições mais desacreditadas pelos brasileiros. Os políticos têm a desconfiança de 81,9% dos entrevistados e só 11,1% de confiança. Não souberam avaliar 7%. Os partidos não são confiáveis para 75,9% dos entrevistados, enquanto 16,1 % confiam neles.
- O Congresso não tem dado um bom exemplo, tem entrado em atrito com a sociedade, tem enfrentado o sentimento social. Nós temos que trabalhar para reverter essa posição. Até achei que fosse pior - disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
O senador Jefferson Peres (PDT-AM) também concorda com o resultado da pesquisa:
- O Congresso é medíocre e o nível moral também caiu.
Para a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), só mesmo uma reforma política será capaz de mudar este quadro negativo.
- Com tanta exposição dos problemas que o Congresso tem, eu não poderia imaginar que o resultado fosse diferente. Eu volto a dizer, se é ruim e tem problemas, nós precisamos melhorar e aperfeiçoar a representação dos partidos no processo eleitoral. A reforma política, de uma vez por todas, precisa acontecer, pelo menos em pequenas etapas. Agora, qualquer democracia não sobrevive sem Congresso Nacional, ou seja, sem representação.
Na Câmara, a reação não foi diferente. Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), a situação seria outra se os políticos acusados de crimes como corrupção fossem punidos:
- No Brasil, o que está acontecendo é que os maus exemplos estão prevalecendo e a resposta e a punição para estes maus exemplos não estão acontecendo - disse.
O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), admite que a imagem do Congresso está muito desgastada perante à opinião pública:
- Quando há uma denúncia ou até mesmo um escândalo, isso traz prejuízos graves. Como o Poder Legislativo, além do Congresso, está diluído no Brasil inteiro, então se qualquer um comete algum tipo de erro, o conjunto paga por aquele erro também.PF e Forças Armadas são as instituições mais confiáveis
Ainda segundo a pesquisa, Polícia Federal e as Forças Armadas são as instituições mais confiáveis, com a aprovação de, respectivamente, 75,5% e 74,7% dos entrevistados. (Leia mais na BBC Brasil) As questões sobre Justiça revelam uma confiança maior no âmbito local. O Poder Judiciário de um modo geral tem a confiança de 41,8% dos entrevistados, mas o Juizado de Pequenas Causas goza de uma confiança maior, de 71,8%.
A falta de credibilidade da classe política reflete-se ainda no mau desempenho da Câmara dos Deputados e do Senado. De acordo com a pesquisa, 83,1 % dos entrevistados não confiam nos deputados e 80,7 % têm o mesmo sentimento em relação aos senadores.
- Os resultados não nos surpreenderam pelos indicativos, mas pelos percentuais. A rejeição da população às instituições políticas é muito forte - observou Alexandre de Araújo Garcia, presidente da Opinião Consultoria, empresa que realizou a pesquisa.
Encerrada em 20 de agosto, a pesquisa não captou a reação à absolvição de Renan Calheiros (PMDB-AL), no plenário do Senado, da acusação de quebra de decoro parlamentar.
- Se a pesquisa fosse em seguida (à absolvição), os percentuais poderiam sofrer uma interferência mais forte - disse Garcia, que considerou o resultado um reflexo do momento político e do que vem aparecendo com freqüência na mídia.
Os entrevistados, em ampla maioria (94,3 %), também consideram que um político processado na Justiça não pode concorrer às eleições. A reforma política foi considerada importante por 95,4 % dos entrevistados.
A pesquisa foi feita de 4 a 20 de agosto, com 2.011 pessoas, em todos os estados, com distribuição proporcional à população.
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