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“Não vejo problema em pagar para esses alunos e professores [um almoço]. Se eu posso pagar para prefeitos, porque não posso pagar para professores?”-Reni Pereira (PSB), justificando por que pagou refeição a alunos e professores de Roncador uma refeição que custou ao todo R$ 1,7 mil | Christian Rizzi / Gazeta do Povo
“Não vejo problema em pagar para esses alunos e professores [um almoço]. Se eu posso pagar para prefeitos, porque não posso pagar para professores?”-Reni Pereira (PSB), justificando por que pagou refeição a alunos e professores de Roncador uma refeição que custou ao todo R$ 1,7 mil| Foto: Christian Rizzi / Gazeta do Povo

Todos os deputados ou ex-parlamentares estaduais ouvidos pela Gazeta do Povo ressaltaram que os gastos com almoços e jantares pagos com dinheiro público seguem as regras da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). Segundo eles, os pagamentos se referem a refeições próprias, de assessores ou de pessoas que participaram de reuniões políticas. Por isso, dizem eles, não houve nenhuma irregularidade.

Segundo o ex-deputado Antonio Anibelli (PMDB), os parlamentares "jogam o jogo" da Assembleia. "Se é permitido um gasto x, é melhor usar. Mas não me recordo muito bem. Sei que foi um ano político, e havia muitas contas para prestar, agradecimentos a prefeitos e vereadores. Está tudo devidamente discriminado na Assembleia."

Stephanes Jr. (PMDB) também citou a visita a Curitiba de prefeitos e vereadores para explicar os gastos, principalmente no Restaurante Madalosso. "Os prefeitos vêm tratar de diversos assuntos, e eles sempre estão acompanhados de assessores, chefes de gabinetes ou secretários. Depois que visitamos as secretarias estaduais, geralmente os meus assessores acompanham o grupo ao Madalosso", afirmou. Em relação ao gasto de R$ 4 mil no Restaurante Santa Papa, o deputado disse que foi feito um pagamento único de despesas acumuladas ao longo do ano.

O deputado Enio Verri (PT) usou justificativa parecida para os gastos no Restaurante Meu Cantinho, em Maringá. "Eu tenho uma equipe de 20 assessores, mas apenas três estão comigo em Curitiba. Os outros todos trabalham no interior do estado, principalmente em Maringá. Esse pessoal almoça frequentemente neste restaurante, que é um local simples, bom e barato", disse.

O deputado Reni Pereira (PSB) reconheceu que pagou o almoço a um grupo de alunos e professores de escolas públicas das cidades de Roncador e Campina da Lagoa, da região Centro-Oeste do estado, que visitaram Foz do Iguaçu a convite do parlamentar. "Eu os convidei e paguei o almoço com a verba de ressarcimento, assim como eu faço quando algum prefeito do interior me visita em Curitiba." Questionado se a prática representa desvio de finalidade do uso do dinheiro público, Reni respondeu que não. "Não vejo problema em pagar para esses alunos e professores. Se eu posso pagar para prefeitos, porque não posso pagar para professores?", questionou.

O ex-deputado estadual Chico Noroeste (PR) não atendeu às ligações feitas pela reportagem entre quinta e sexta-feira passadas.

Artagão Jr. (PMDB), que teve um gasto de R$ 3 mil no Restaurante Três Pinheiros, em Guarapuava, disse que o local é seu principal ponto de apoio político. "Ele fica em frente à propriedade da minha família. Toda semana passo ali, e, como o local funciona 24 horas, faço várias refeições, inclusive de madrugada. Segundo ele, é comum realizar reuniões de "maior envergadura" no final do ano. "Geralmente as reuniões não podem ser no horário comercial, porque as pessoas têm outros trabalhos. Por isso aproveitamos o horário do almoço e da janta."

Mudanças

Artagão Jr. ressaltou ainda que ele, assim como outros deputados, não gastou toda a verba a que tinha direito – R$ 180 mil ao ano para cada deputado. Entretanto, ele concorda com mudanças na forma de ressarcimento dos gastos com alimentação, mas faz ressalvas. "Somos servidores do povo e por isso temos que fazer da melhor forma. Mas é preciso estudar bem como fazer. Se fosse pago um vale-refeição diário para cada assessor, por exemplo, talvez o gasto total ficasse ainda maior."

Para Teruo Kato (PMDB), a possibilidade de alteração do sistema pode ajudar a combater a tradição nacional de associar reuniões políticas com "boca-livre". "Aqui no Brasil há um costume de fazermos reuniões políticas no horário das refeições e a conta acaba sobrando para o deputado", disse.

Kato reconheceu ainda que os R$ 4,1 mil que gastou em dezembro com comida foram para reu-niões políticas com assessores e lideranças de Londrina. "Temos uma base política forte na cidade, ligada à colônia japonesa. Então esses encontros reúnem um grande número de pessoas", justifica.

O presidente da Assembleia, Valdir Rossoni (PSDB), disse que pretende mudar algumas regras da verba de ressarcimento, principalmente para dar mais transparência aos gastos dos deputados. Ainda não foram revelados detalhes das mudanças.

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