Foram empossados, na manhã desta quinta-feira, os 513 deputados e 27 senadores eleitos em outubro. Na Câmara, mais de 3.500 convidados acompanharam a cerimônia, marcada por vaias e aplausos. No Senado, um constrangimento. O presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), esqueceu de dar posse ao ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB). Alertado por Perillo, que disse "o senhor esqueceu Goiás", Renan se desculpou dizendo que "não ia colocar a culpa nos outros pela falha", mas cometeu novo erro, ao chamar Perillo de "Marcondes".
Durante a solenidade, um dos senadores mais assediados foi o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB-AL). Ele disse que chega à Casa para somar e com vontade de aprender.
- São 14 anos depois de um sofrimento brutal a que fui submetido, a uma humilhação que sofri, a todo um processo muito difícil. A gente aprende com o sofrimento - afirmou, referindo-se ao período em que ficou longe da vida política.
Em 1992, envolvido em denúncias de corrupção, Collor renunciou à Presidência da República, livrando-se do processo de impeachment aprovado pelo Congresso.
- Agora sou um cristão novo aqui no Senado. Espero conhecer, aprofundar conhecimentos, saber os trâmites, me ambientar - completou.
Climas bastante diferentes esperam os parlamentares. Enquanto o Senado vive uma transição relativamente tranqüila, na Câmara os dias que antecederam a posse foram de enorme movimentação, motivada pela eleição dos dirigentes da Casa, primeira grande tarefa do grupo que chega .
Promessa de parlamento pró-Lula
Caso a promessa de fidelidade dos aliados se cumpra, o novo Congresso será majoritariamente pró-Lula. Considerando apenas o número de deputados que integram a coalizão de 11 partidos que apóiam o governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá 355 dos 513 parlamentares (69%) ao seu lado. Os governistas já saíram em maior número das eleições, mas a base cresceu no troca-troca partidário entre eleição e posse.
A eleição para a presidência da Câmara e para outros dez cargos da Mesa Diretora será disputada por rês blocos partidários, formados às pressas com o objetivo de garantir aos grandes e médios partidos o controle dos principais postos de comando. A exemplo do que ocorreu na Câmara, o Senado também está formando blocos para disputar os cargos da Mesa Diretora . Na manhã desta quinta-feira, sete partidos - PT, PP, PSB, PTB, PCdoB, PR e PRB - fecharam um acordo que reúne 25 senadores e se torna a segunda maior bancada na Casa. Se for mantido, o bloco formado por PFL e PSDB continuará sendo a maior bancada, com 30 deputados, seguido pelo PMDB, com 20 parlamentares.
No Senado, o governo espera o apoio de 48 senadores, mas sabe que isso não acontecerá. O PDT, por exemplo, tem quatro parlamentares, mas dois são da oposição. No PMDB, os 20 senadores não aderiram integralmente ao Palácio. O governo sabe que política não se traduz em números e que enfrentará defecções, mas vislumbra um início de mandato tranqüilo.
Câmara renovada em 43%
A Câmara que assume hoje foi renovada em 47%: 243 novos deputados tomarão posse, alguns já velhos conhecidos de seus eleitores por terem ocupado cargos públicos. Novos na política, só 43, a maioria representando evangélicos ou oriundos de rádio e televisão.
Em termos de escolaridade, 413 parlamentares têm curso superior, e 493 têm mais de 31 anos. No quesito profissão, a categoria que lidera a composição da nova Câmara é a dos profissionais liberais: 265. A segunda maior representação profissional é a dos empresários, que elegeram 120 parlamentares. Os assalariados são representados por 88 deputados.
A nova legislatura terá um grupo considerável de deputados que precisam se explicar à Justiça. No caso dos novos, ganharam foro privilegiado e seus processos serão remetidos automaticamente ao Supremo Tribunal Federal. Apenas na bancada do Rio, um terço dos eleitos responde a processos.
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