Causou rebuliço nas redes sociais a notícia de que o Partido Nacional Corinthiano (PNC) deu entrada em processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para se tornar um partido formal. Apesar da polêmica, a chance de vermos um partido formal disputando eleições é baixa. Na prática, a nova legenda apenas ingressou em uma lista de 56 proto-partidos que buscam reconhecimento formal – e dessa extensa relação, pouquíssimos vão virar partidos formais nos próximos anos.
SOPA DE LETRINHAS
Vejas algumas curiosidades sobre os 56 partidos buscando reconhecimento do TSE:
Confundindo as letras
Algumas das siglas usadas pelos novos partidos já são de uso comum, com outros significados. Você não precisa, por exemplo, passar anos estudando para virar um PhD: basta torcer para que o Partido Humanista Democrático seja fundado. Já os vegetarianos vão se decepcionar que o PTS é só o Partido da Transformação Social. A própria sigla do partido do Corinthians, PNC, é muito usada na internet como ofensa.
O maior partido
Entre os possíveis novos partidos do país está o que deve ser o mais inclusivo de todos: o PSPB, Partido dos Servidores Públicos e Trabalhadores da Iniciativa Privada do Brasil. Só fica de fora do partido quem trabalha no terceiro do setor. A legenda, porém, está presente apenas em três estados, e não deve virar realidade no futuro próximo.
Vai dar briga
Como o alfabeto só tem 26 letras, é natural que partidos completamente diferentes acabem escolhendo a mesma sigla. Um exemplo é o PMB, que pode ser o Partido Militar Brasileiro ou o Partido da Mulher Brasileira. Há, também, o PE, Partido do Estudante ou Partido do Esporte. PEC, além de proposta de emenda à Constituição, poderá significar Partido Ecológico Cristão ou Partido Educação e Cidadania. A sigla só se torna definitiva após o registro: ou seja, quem chegar primeiro, leva.
Cristo para todos
Hoje, já há três partidos que levam “cristão” no nome: o Partido Social Cristão (PSC), o Partido Social Democrata Cristão (PSDC) e o Partido Trabalhista Cristão (PTC). Na fila de espera, há mais sete partidos cristãos, para todos os gostos: Partido Nacional Cristão, Partido Ecológico Cristão, Partido Liberal Cristão, Partido Progressista Cristão, Partido Republicano Cristão, Partido Republicano Cristão Brasileiro e, o mais genérico de todos, o Partido Cristão. Haja fé!
De novo, não!
A Arena foi símbolo de um período negro do Brasil, como legenda oficial da ditadura militar. Ainda assim, há quem queira sua volta. Em 2012, um grupo tentou refundar o partido. Felizmente, a ideia parece não ter ido adiante: desde então, apenas quatro diretórios foram fundados – um deles, aqui no Paraná. Após o fim da ditadura, a Arena se dividiu em dois partidos: o DEM e o PP, hoje envolvido até o pescoço com os escândalos da Operação Lava Jato.
Entre a ideia de formar um partido e um grupo organizado com direito a tempo de TV e acesso ao fundo partidário, o caminho é longo. O registro da existência do partido é apenas o primeiro passo, que pode ser conseguido com apenas cem assinaturas. Após registro do partido no TSE e de seus diretórios estaduais nos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), é necessário coletar pelo menos mais 484.169 assinaturas, em pelo menos nove unidades da federação diferentes. A maioria dos proto-partidos para por aí.
A logística de coleta de assinaturas é algo que a maior parte deles não possui – mesmo entre grupos mais organizados e estabelecidos, com ambições sérias de participar da política. Um exemplo é a Rede Sustentabilidade. Apesar de ser um movimento encabeçado por Marina Silva, que chegou a conseguir 22 milhões de votos para presidente, o partido ainda não saiu do papel pela dificuldade em conseguir essas assinaturas – ela até conseguiu atingir o mínimo em 2013, mas parte das rubricas foram consideradas inválidas pelo TSE.
Quem tem mais chances de se dar bem nesse jogo são proto-partidos usados por políticos já estabelecidos com finalidades bem específicas – atrair insatisfeitos para a oposição ou para o governo, por exemplo. O PSD, fundado por Gilberto Kassab em 2011, foi o maior “case de sucesso”. Sua função era clara, abrir uma brecha para que deputados e vereadores insatisfeitos com seu partido pudessem mudar de lado, sem medo da regra da fidelidade eleitoral. Deu certo: o partido já nasceu com a quarta maior bancada da Câmara Federal.
Uma regra de ouro para esses partidos é ter um nome e uma plataforma genéricos, que não sejam nem de centro, nem de esquerda, nem de direita – muito pelo contrário. É o caso do Partido Republicano da Ordem Social (Pros), por exemplo, que nasceu em 2013 com mais de 20 deputados. Nesse caso, ser um partido corinthiano é problema: uma bandeira tão específica e que desperta tanto ódio quanto paixão está longe da neutralidade.
Indicador
Um indicador possível para saber quão perto um partido está de virar realidade é a quantidade de registros em TREs. Apesar de líder do Brasileirão, o Corinthians nesse quesito está na zona de rebaixamento, com apenas três: Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte. Para fins de comparação, a Rede, de Marina, está em 14 estados, e o PL, nova empreitada de Kassab, tem diretório em 10.
Opinião
Por qualquer ponto de vista, o sonho – ou pesadelo – de uma democracia corinthiana está muito longe de virar realidade. Quem estava se animando com a ideia, pode se contentar com uma eventual candidatura de algum ídolo qualquer – nos últimos anos, Dinei, Marcelinho Carioca, Bobô e o dirigente Andrés Sanchez tentaram a sorte.
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