O PSL e o PSC – dois partidos que estão longe de figurarem entre as principais siglas do país – passam por uma reformulação para crescer por meio da atração da “nova direita”. O “nanico” PSL pretende se tornar um partido libertário, defendendo posições liberais tanto no âmbito da economia quanto nos costumes. Já o PSC, que chegou a fazer parte da base de apoio de Dilma Rousseff, filiou no último dia 2 o deputado Jair Bolsonaro (ex-PP), notório defensor da ditadura militar, e aposta no conservadorismo social, mas também na liberalização da economia.
Esses dois movimentos estiveram presentes em Curitiba na semana passada. Na quinta-feira (2), o diretor executivo da Fundação PSL, Fabio Ostermann, e o jornalista Leandro Narloch deram uma palestra no hotel Slaviero Suites. Bolsonaro foi recebido em Curitiba na quinta-feira (2) por uma pequena multidão de admiradores. Ele também participou de evento na Assembleia Legislativa e de manifestação a favor da Operação Lava Jato.
O PSL, hoje, é um partido “nanico”, com dois deputados federais – entre eles, o paranaense Alfredo Kaefer. Já o PSC pode ser considerado um partido médio, com 13 – incluindo o paranaense Hidekazu Takayama. Em âmbito estadual e municipal, o partido elegeu a maior bancada da Assembleia e da Câmara de Curitiba, em ambos os casos seguindo o “rastro” de Ratinho Jr – que nesta semana deixou o PSC e se filiou ao PSD.
Liberalismo total
As duas correntes de “direita” são bastante diferentes entre si. Ostermann, inclusive, não gosta de colocar o posicionamento do PSL em termos de esquerda e direita. “Somos liberais com uma profunda preocupação social. Preferimos trabalhar em um espectro político com um segundo eixo, que opõe o autoritarismo e a liberdade”, afirma.
Segundo Ostermann, o partido une alguns posicionamentos identificados hoje com a esquerda e outros com a direita – sempre no sentido de reduzir a influência do Estado sobre o indivíduo. A legenda defende, por exemplo, o casamento igualitário e se propõe a colocar a criminalização das drogas em debate – posições hoje identificadas com a esquerda. Por outro lado, defende a privatização das estatais e a redução do tamanho do Estado – posições marcadamente de direita.
Essas posições podem ir de encontro às propostas defendidas pelos atuais filiados do partido – muitos deles ligados a igrejas evangélicas e defensores de um Estado grande. Segundo Ostermann, o partido está aberto ao diálogo com essas lideranças e pretende ser “plural” dentro de suas diretrizes. Caso a discordância seja insuperável, a legenda não deve “criar constrangimentos” para que atuais filiados deixem o partido. Entretanto, ele frisa que, desde sua fundação, o PSL defende essas posições em seu regimento.
Ostermann defende, também, que o partido fomente sua democracia interna e tenha um processo decisório acessível a seus filiados. De acordo com ele, o partido está desenvolvendo ferramentas online para discutir o programa da legenda, e também para um sistema de prévias eleitorais – este pode ficar somente para 2018. “A gente não pode defender democracia e liberdade só da porta para fora”, diz.
Novos conservadores
Já o PSC mira no eleitorado conservador que defende valores liberais para a economia. Segundo Bernardo Santoro, membro do diretório nacional e responsável pelo plano de governo do candidato à Presidência em 2014, Pastor Everaldo, o reforço do aspecto conservador é algo que já existia no partido desde 2013. “O partido vem se caracterizando cada vez mais como um partido conservador nos costumes e liberal na economia, e está atraindo cada vez mais filiados”, diz.
Pré-candidato, Bolsonaro defende estado mínimo e nega ser homofóbico
Leia a matéria completaBolsonaro, a nova “estrela” do partido, por exemplo, ganhou projeção com um discurso radicalmente conservador – inclusive com afirmações racistas, machistas e homofóbicas. Santoro nega que o deputado seja uma pessoa preconceituosa. “Eu conheço Bolsonaro pessoalmente e posso te garantir que ele não tem preconceito com ninguém. O que ele defende é que as minorias são instrumentalizadas pela esquerda para um discurso de ódio”, diz. “Quem é racista é a esquerda, ao dividir a sociedade em raças”.
A proposta do partido, entretanto, vai além do conservadorismo social, e inclui também uma visão liberal da economia – o que contraria posições estatistas de Bolsonaro. Segundo Santoro, ainda há divergências, mas o deputado tem mudado algumas dessas visões sobre a economia e deve defender um plano de governo liberal para 2018 – quando deve ser candidato à presidência.
Histórico
O PSL é um dos muitos partidos “nanicos” surgidos no final dos anos 90, e sempre foi presidido por Luciano Bivar – que foi candidato à presidência em 2006. Desde sua fundação, nunca elegeu mais do que um deputado federal – em 2016, conseguiu um segundo deputado com a filiação do ex-tucano Kaefer.
Já o PSC surgiu em 1990. Até meados dos anos 2000, era também um “nanico”, mas cresceu para nove deputados em 2006 e 17 em 2010 – hoje, tem 2014. Curiosamente, o partido cresceu na base de apoio do governo Lula, e se coligou com o PT nas eleições presidenciais de 2010. Antes disso, havia lançado candidatos próprios à presidência em 1998 e 1994.
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