A compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, em 2006, pode ter sido motivada por interesses políticos, e o fim do litígio com a sócia belga Astra Oil, que resultou na aquisição da totalidade das ações, pode ter rendido propinas entre US$ 80 milhões e US$ 100 milhões. As informações foram dadas a investigadores da Lava Jato na semana passada por um novo delator, Agosthilde Mônaco de Carvalho, funcionário da área internacional da estatal que participou do negócio.
LINHA DO TEMPO: Confira os imbróglios envolvendo a refinaria
Carvalho afirmou que, em 2006, quando a Petrobras pagou US$ 416 milhões por metade de Pasadena, todos sabiam que a refinaria estava sucateada, com diversos equipamentos enferrujados – daí o apelido de “ruivinha”. Ele disse ter ouvido de Nestor Ceveró, então diretor da área internacional, que matariam “dois coelhos com uma única cajadada”, pois ele, Cerveró, sabia que José Sérgio Gabrielli, presidente da estatal, tinha “alguns compromissos políticos a saldar” e, também, passariam a refinar óleo nos Estados Unidos.
Logo após a visita às instalações da refinaria no Texas, ao alertar sobre as más condições, Carvalho teria recebido um recado de Cerveró: “Não se meta Mônaco, isto é coisa da presidência”.
Segundo o delator, depois da compra a Petrobras passou a fazer, por “baixo do pano”, um plano para dobrar a capacidade de refino de Pasadena, o que necessitaria de alto investimento. Aos procuradores, Carvalho disse que soube que o litígio entre a Astra e a Petrobras começou porque a estatal tentou empurrar “goela abaixo” a ampliação da refinaria e a contratação da Odebrecht para fazer obra. De acordo com o depoimento, a Odebrecht envolveria também na reforma de Pasadena as empresas Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Queiróz Galvão e Ultratec.
Em nota, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli repudiou “qualquer ilação” de que a aquisição da refinaria de Pasadena serviria para “honrar compromissos políticos” ou ainda que teria o interesse de direcionar o projeto de reforma e ampliação de Pasadena à empresa Odebrecht. “As afirmações são mentirosas. Se alguém se locupletou com operações fraudulentas relacionadas com a aquisição, que pague por seus erros, depois das investigações policiais e o devido processo legal.”
O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, afirmou que as declarações dos delatores devem ser avaliadas com reservas. A Odebrecht informou ter sido procurada pela Petrobras, em 2006, e que manifestou interesse pela obra. Lembrou, porém, que a reforma de Pasadena não ocorreu.
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