
Brasília - Os depoimentos de servidores da Câmara Federal e empresários do ramo de turismo de Brasília à comissão de sindicância que investigou a máfia das passagens revelaram que os bilhetes aéreos das cotas dos deputados eram vendidos para agências de turismo com desconto de até 35%. A investigação indica ainda que os parlamentares chegaram a fazer ligações oferecendo as sobras das cotas de passagens.
A suspeita é de que pelo menos cinco deputados tenham envolvimento direto com a máfia. Pelo esquema montado, as passagens eram adquiridas pelas agências com descontos que variavam de 15% a 35% e repassadas, na sequência, a preço de mercado para os clientes. No relatório da comissão, um dos depoimentos mais comprometedores é do sócio da agência Morena Turismo, Pedro Damião Pinto Rabelo.
O agente de turismo não nominou os políticos, mas afirmou durante depoimento à Polícia Legislativa em um inquérito aberto em 2005 que a venda das passagens compradas da cota dos parlamentares era destinada a "clientes que na sua maioria não tem qualquer vínculo com a Câmara.
A comissão também ouviu o servidor aposentado Elói dos Santos, que reconheceu que operava transações de compra de créditos de passagens e contou que havia um empenho especial dos deputados para realizar a negociação. O parecer da comissão aponta que Santos afirmou "receber a média de dez ligações por dia de pessoas lhe oferecendo créditos de passagens, sendo que a maioria dessas ligações são provenientes de parlamentares.
A reportagem não conseguiu localizar o agente de viagens nem o servidor. A comissão identificou que a máfia das passagens utilizava métodos diferentes para desviar os bilhetes da cota. O mais comum era o funcionário do gabinete vender bilhetes da cota dos parlamentares para agências de turismo. Essas empresas, por sua vez, revendiam as passagens para clientes e repassavam parte dos recursos para funcionários.
As companhias aéreas fornecem aos gabinetes senhas para que possam administrar a cota de passagens via internet. Com posse dos códigos, as agências podiam vender os bilhetes a terceiros.
Segundo reportagem publicada ontem pela Folha de S.Paulo, a venda de passagens aéreas da cota dos deputados federais rendeu R$ 118 mil para a ex-assessora de Nazareno Fonteles (PT-PI).
Rosimere Gomes da Silva afirmou em depoimento à comissão que vendia a um intermediário créditos não utilizados da cota de passagens do petista. O intermediário era Vagdar Fortunato Ferreira, cabeça do esquema, segundo o relatório. Ele tinha uma rede de servidores em gabinetes, de quem adquiria créditos de passagens e os repassava a agências. Rosimere e Ferreira não foram localizados.
O esquema veio à tona em abril, quando passagens da Câmara foram emitidas em nome do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e do ministro Eros Grau, que disseram ter comprado os bilhetes de agências de viagens e pediram investigação.
Segundo a comissão, os dois foram enganados. "Há indícios de crimes perpetrados na transação de emissão de bilhetes do excelentíssimo ministro Gilmar Mendes, razão pela qual se recomenda a remessa dos autos ao Ministério Público Federal, diz trecho do relatório.
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