O ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa começou a depor há pouco à CPMI da Petrobras no Congresso Nacional e informou que não vai falar. Peça-chave das investigações de desvio de dinheiro da estatal conduzida pela Petrobras na operação Lava Jato, ele frustrou a expectativa de revelar uma lista de políticos que teriam recebido propina em contratos da empresa. No início do mês, veio a público que Costa aceitou fazer uma delação premiada e informou que dezenas de políticos receberam dinheiro desviado da Petrobras, entre eles os presidentes da Câmara e Senado, Henrique Eduardo Alves e Renan Calheiros, e o ministro Edison Lobão (leia abaixo). O ex-diretor se comprometeu a devolver US$ 23 milhões desviados da estatal.
Mesmo sem Paulo Roberto Costa falar, os parlamentares fizeram perguntas e debateram a possibilidade de fazer uma sessão fechada. Em votação, decidiram manter a sessão aberta devido a postura de Costa de não se pronunciar. Questionado pelo relator Marco Maia (PT-RS) sobre suposta corrupção na compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), ele disse que continuaria calado. Outros questionamentos foram feitos, e Costa se manteve calado.
Costa está preso desde março na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, no bairro Santa Cândida. Ele recebeu uma autorização especial do juiz federal Sérgio Moro para viajar a Brasília. Ele decolou na manhã dessa quarta-feira. O ex-funcionário da estatal fez um acordo recente de delação premiada e poderia se prejudicar se falasse sobre o caso, em sessão aberta, na CPMI.
O traslado do ex-diretor foi cercado de forte esquema de segurança. Desde o começo da tarde, três viaturas da Polícia Federal vigiam a entrada do Congresso. No caminho, manifestantes espalharam barris de petróleo pintados de verde e amarelo e com frases alusivas ao escândalo na empresa. Costa desembarcou com um visual diferente, um grande bigode branco e foi protegido do contato com a imprensa.
O ex-diretor está sem algemas, seguindo determinação judicial, e vai ficar isolado na sala até o momento do depoimento. A Polícia Federal foi responsável pelo transporte de Paulo Roberto até o Congresso. Dentro do Legislativo, a segurança do ex-diretor ficará a cargo da Polícia Legislativa.
Sem algemas
A Justiça do Paraná assegurou o transporte do ex-diretor sem o uso de algemas. Para o juiz Sérgio Moro, que cuida do caso em Curitiba, Paulo Roberto também tem o direito constitucional de permanecer calado durante o depoimento para não produzir provas contra si próprio.
O entendimento do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que ele não pode falar é equivocado. A nossa visão tem o respaldo constitucional", afirmou o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). Janot afirmou nesta quarta que o ex-diretor da Petrobras deverá permanecer calado no depoimento à CPI que investiga irregularidades na estatal. O procurador-geral disse que, como em tese Costa firmou acordo de delação premiada com a Justiça, a legislação impõe sigilo aos envolvidos no processo.
Deputado tucano leva foto de Dilma com ex-diretor da Petrobras à CPMI
O deputado federal Antonio Imbassahy (PSDB-BA) levou à sessão da CPMI da Petrobras uma foto da presidente Dilma Rousseff (PT) com o ex-diretor de Abastecimento da empresa, Paulo Roberto Costa, que presta depoimento agora aos parlamentares. Na imagem, feita durante o segundo mandato de Lula, Costa aparece escrevendo algo nas costas da petista. Ambos estão com macacões da Petrobras. A foto foi marcada com uma flecha amarela apontando para Costa. "Gostaria de saber o que o senhor estava escrevendo", perguntou o parlamentar tucano.
Eduardo Campos, Lobão, Renan e Cabral na lista de beneficiados por esquema na Petrobras
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa listou a relação de mais de 30 políticos envolvidos com esquema de corrupção na Petrobras. Em seu depoimento, Paulo Roberto Costa cita pelo menos 25 deputados federais, seis senadores, três governadores, um ministro de Estado e pelo menos três partidos políticos PT, PMDB e PP, que teriam tirado proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da Petrobras.
Entre os envolvidos estão o ministro Edison Lobão ( Minas e Energia), o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), os senadores estão Ciro Nogueira (PP-PI), Romero Jucá (PMDB-RR) e os deputados Cândido Vaccarezza (SP), João Pizzolatti (PP-SC), Mário Negromonte (PP). Entre os governadores, Paulo Roberto Costa cita o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), Roseana Sarney (PMDB), atual governadora do Maranhão, e Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco, morto no dia 13 de agosto em um acidente aéreo em Santos (SP).
Paulo Roberto Costa ocupou a diretoria da Petrobras entre 2004 e 2012, isto é, participou dos dois governos Lula e dos dois primeiros anos do governo Dilma Rousseff. Costa foi preso em março deste no, quando a Polícia Federal prendeu o ex-diretor sob acusação de participar de um megaesquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef. De acordo com Costa, a distribuição do dinheiro servia para garantir que os partidos aliados continuassem a apoiar o Palácio do Planalto no Congresso Nacional.
As investigações da PF já haviam revelado a existência de uma ampla rede de corrupção na Petrobras envolvendo funcionários da empresa, grandes empreiteiras, doleiros e políticos importantes. Os depoimentos de Paulo Roberto Costa estão sendo colhidos desde o dia 29 agosto pela Política Federal. Ao todo, já são mais de 40 horas de conversas gravadas, revela a revista.
Por envolver políticos, que têm direito a foro privilegiado, o caso está sendo acompanhado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
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