Uma imagem capturada pelo fotojornalista Henry Milleo, da Gazeta do Povo, flagrou uma conversa entre vereadores de Curitiba no aplicativo de celular WhatsApp em que o parlamentar Cristiano Santos (PV) sugere responder à chamada de presença no plenário em nome de Rogério Campos (PSC). A conversa ocorreu em um grupo de vereadores da Câmara de Curitiba e o registro foi feito na segunda-feira (29).
No bate-papo, a vereadora Julieta Reis (DEM) alerta os colegas Paulo Salamuni (PV) e Cristiano Santos que a chamada está acontecendo. Em seguida, Santos diz: “Rogério, quer que eu aperte o seu?”, numa referência ao botão que marca a presença. De acordo com os vereadores, trata-se apenas de uma brincadeira entre os parlamentares. “Os vereadores brincam muito entre eles”, diz Julieta. “Isso [um marcar presença para o outro] não acontece”, completa.
Presidente da Câmara garante que fiscaliza presença no plenário
O presidente da Câmara de Curitiba, Ailton Araújo (PSC), diz que a prática de um vereador responder chamada por outro não ocorre na Casa. “Nós não temos nenhum pianista porque a presidência está de olho.” Araújo garante que realiza a fiscalização de quem está presente na sessão, assim como os demais parlamentares. “Temos que cuidar da imagem da Casa”, diz ele. O presidente cita o exemplo de uma sessão em que o vereador Pastor Valdemir Soares (PRB) marcou presença, mas não estava no plenário. Araújo teria perguntado onde estava o parlamentar e descobriu que ele estava, de fato, na Câmara. “Eu não tinha visto o Pastor Valdemir Soares e apareceu na tela a presença dele. Eu ia cobrar onde estava o vereador e, felizmente, alguém me mostrou que ele estava na porta.”
Numa primeira entrevista à reportagem, Cristiano Santos disse que o grupo foi criado para permitir uma comunicação interna. “Um orienta o outro. Nós estamos aqui, não estamos ausentes”, afirmou. “Até onde eu sei ninguém nunca fez isso [responder à chamada] para mim e posso garantir que nunca fiz para ninguém.”
“Era o momento da chamada e o Cristiano fez uma brincadeira. Nunca nenhum vereador apertou a chamada para outro”, garantiu Rogério Campos, que recebeu presença na sessão. De acordo com o parlamentar, o grupo “Vereadores de Curitiba” não engloba todos os parlamentares da Casa. “É mais um grupo de vereadores que são amigos .”
O vereador Paulo Salamuni (PV) disse que o grupo não é oficial e que o episódio foi uma brincadeira. “Nesses grupos de WhatsApp tem muita ironia, brincadeiras. ‘Pianista’ aqui não é possível”, afirmou.
Vídeos
O vereador Cristiano Santos, num segundo contato com a reportagem, explicou ainda que, no horário em que enviou a mensagem no grupo de WhatsApp, não estava na Câmara. A mensagem flagrada pela reportagem é das 9h43 e o parlamentar chegou à Câmara somente às 9h48, conforme vídeos das câmeras de segurança enviados à Gazeta do Povo. “Não havia me atentado à questão do horário. No momento da chamada não podia responder à chamada nem por mim, quanto mais por outra pessoa”, disse Cristiano Santos. “Foi uma brincadeira minha, jamais tive má-fé”, garantiu o vereador.
Outro documento da Câmara mostra que o vereador não estava na Casa no horário em que enviou a mensagem. Um requerimento protocolado na segunda-feira (29) às 12h05 pelo parlamentar justifica a falta de Cristiano Santos na 1.ª chamada. Segundo o requerimento 402.00172.2015, Santos se atrasou “em razão do trânsito”. “O vereador chegou ao plenário logo após a 1.ª chamada, não comprometendo sua participação nos debates e votações constantes da Ordem do Dia”, diz o texto.
Painel da Câmara agora só mostra votos depois da votação
Desde a segunda-feira passada (29), o painel da Câmara de Curitiba só exibe os votos de cada parlamentar após o fim da votação. A mudança na exibição dos votos, que anteriormente apareciam no painel em tempo real, foi proposta pelo vereador Bruno Pessuti (PSC).
O presidente da Casa, Ailton Araújo (PSC), aprova a mudança e diz que isso garante menos oscilações nas votações. “É para evitar que os vereadores fiquem indecisos aguardando posicionamento dos colegas, quando cada um deve votar de acordo com a sua consciência”, diz o presidente.
Segundo Araújo, esse novo procedimento traz mais tranquilidade para o presidente da Casa, que em caso de empate tem que votar para decidir o assunto. Assim, os vereadores não podem alegar que o presidente encerrou a votação para garantir um resultado de seu interesse. “Não se sabe o resultado até declarar encerrada a votação”, justifica.
De acordo com Bruno Pessuti, a ideia da mudança foi inspirada na maneira como a Câmara Federal realiza as votações. “Acontecia muitas vezes de o vereador mudar sua intenção de voto durante o processo de votação por verificar que outra pessoa que exerce uma liderança tinha votado de forma diferente”, diz ele.
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