O longo depoimento de mais de oito horas do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), serviu para esclarecer dúvidas da CPI do Cachoeira, mas não o tirou da mira das investigações parlamentares, como pretendiam os tucanos.
O relator da comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG), deixou claro que não ficou convencido das explicações de Perillo sobre a venda de sua casa em Goiânia, mesmo após o governador apresentar cópias dos cheques recebidos pelo negócio e a compensação bancária do pagamento.
"Precisamos reconhecer que quem pagou a casa o fez com um cheque da família do Carlos Cachoeira, essa empresa que deu o cheque (a Excitant Confecções) recebeu recursos das empresas fantasmas do Carlos Cachoeira", disse Cunha durante a sessão desta terça-feira.
"Quem intermediou o negócio com o senhor governador foi o senhor Wladimir Garcez, dos quadros do PSDB, que tem relação com o senhor governador e era assessor do Cachoeira. Nós precisamos considerar esses fatos", acrescentou Cunha.
Há semanas a CPI ouve pessoas envolvidas com o negócio e escutou pelo menos três versões diferentes sobre como foi o pagamento e quem efetivamente comprou o imóvel do governador.
O tucano disse que as versões se completavam e não se contradiziam, mas admitiu à CPI que o negócio envolveu uma empresa e um assessor próximo de Cachoeira.
Apesar disso, Perillo contou com a cordialidade da maior parte dos deputados e senadores, inclusive os do PT, que fizeram intervenções pontuais, sem forçar nas acusações contra o goiano.
A cordialidade era tanta que coube a Cunha tirar parte da tranquilidade do tucano ao pedir que ele fornecesse suas informações bancárias, fiscais e telefônicas espontaneamente à CPI, provocando a ira dos parlamentares do PSDB. Perillo rejeitou a possibilidade de compartilhar essas informações.
O ambiente tranquilo permitiu a Perillo dar forma à sua defesa e seguir o script traçado com a assessoria nos últimos dias: alinhar uma única versão para a venda de um imóvel em Goiânia, se distanciar de Carlinhos Cachoeira e não criar inimizades com os demais investigados pela CPI.
Por orientação de seus advogados, o governador não fez juízos de valor sobre Cachoeira, Garcez, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e até elogiou assessores que ele afastou depois das denúncias que envolviam seu governo.
Perillo só saiu do roteiro traçado quando se sentiu pressionado pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que queria saber sobre sua relação pessoal com Torres. O governador, então, ameaçou apresentar irregularidades em contratos da construtora Delta com o governo federal. A ameaça não se concretizou e nem estava combinada com os assessores e demais tucanos.
Para os tucanos, o goiano apresentou todas as explicações necessárias e deixou claro que não tinha relações pessoais ou fez negócios com Cachoeira.
"Houve uma frustração dos governistas", disse o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR).
O PSDB, aliás, estava em peso na comissão e os parlamentares da legenda permaneceram no plenário durante todo o depoimento. Perillo também preparou um ambiente amigável na CPI levando secretários, assessores e parlamentares goianos para assistir suas explicações.
AGNELO
O ambiente menos hostil do que o esperado para Perillo não quer dizer que o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), que será ouvido na quarta-feira pela CPI mista, deve esperar um céu de brigadeiro para seu depoimento.
Os tucanos estão se preparando para emparedar o petista e devem focar sua investigação nos tempos que ele comandava a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no governo Lula.
A estratégia se deve principalmente pela falta de informações contra Queiroz levantadas até agora pela CPI mista. Ele é apenas citado nas investigações Vegas e Monte Carlo, da Polícia Federal, que servem de base para a comissão.
"Querer comparar Agnelo a Perillo é uma ofensa ao Perillo, porque há anos o Agnelo vem sendo alvo de denúncias", disse Dias, indicando que a estratégia será o passado do governador e não sua gestão atual.
Ele admite que há pouco material na CPI contra o petista, mas isso não deve tirar o ímpeto dos tucanos. "Não sei se vamos conseguir colocá-lo em dificuldade, mas vamos tentar", afirmou.
Entre os petistas a maior preocupação com o depoimento de Agnelo é com sua falta de traquejo político, segundo revelou um membro do partido na CPI. Isso o diferencia de Perillo.
O governador do DF também tem inimizades dentro do PMDB no Congresso. É o caso do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF), que até julho do ano passado ocupava a secretaria de Obras do governo distrital.
"Como hoje, amanhã vai ser tranquilo", disse o vice-presidente da CPI, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), apostando na calmaria.
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