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Foi-se o tempo em que os dentes de leite extraídos das crianças serviam apenas para as mães guardarem como recordação. Uma equipe de cientistas do Rio de Janeiro está usando o material para obter células-tronco. O estudo, iniciado em março deste ano, tem se revelado promissor. De acordo com a especialista Sílvia Azevedo, o grupo já conseguiu desenvolver células de vários tipos.

- O material tem mostrado uma capacidade de diferenciação equivalente às das células-tronco obtidas a partir do cordão umbilical ou da medula óssea. Até agora, já conseguimos obter neurônios, células hepáticas (do fígado), do sangue e do coração - conta Sílvia, que é diretora-técnica da Cryopraxis, empresa por trás da pesquisa.

Durante o experimento, foram desenvolvidas três linhagens de células-tronco, obtidas a partir do dente de leite de uma adolescente extraído pelo cirurgião-dentista e pesquisador René Gerdes. O material ganhou o nome de Carol 1, Carol 2 e Carol 3, em homenagem à menina.

Para obter as células, Gerdes colocou o dente em uma solução com antibióticos. A medida é imprescindível uma vez que a boca é um local onde se encontram diversos microorganismos, que podem prejudicar a conservação do material.

- É importante esclarecer que não é possível obter as células a partir dos dentes que foram guardados pelos pais. Para que a experiência dê certo, é necessário que o dente de leite seja extraído por um profissional, que o colocará em uma substância especial para evitar a contaminação por parte dos microorganismos. Depois, as células são retiradas da polpa do dente e cultivadas em laboratório - explica Sílvia.

Para a pesquisadora, os dentes de leite podem ser, no futuro, uma boa fonte alternativa de obtenção de células-tronco. Em especial para as pessoas que não tiveram com guardar material do cordão umbilical.

- A nossa proposta é aprimorar a técnica para que as pessoas possam pegar os dentes de leite de seus filhos para obter as células-tronco, que serão guardadas caso a pessoa precise delas no futuro - diz Sílvia.

Ainda não há como prever quando a proposta poderá ser posta em prática. Segundo Sílvia, ainda há algumas questões a serem decifradas com relação à pesquisa.

- Estamos realizando estudos para ter certeza de que essas células não têm potencial carcinógeno. Em alguns casos, quando as células são induzidas a se multiplicar em laboratório, o processo pode ocorrer sem controle, fazendo com que um tumor surja - esclarece.

Outra desvantagem, segundo aponta Sílvia, é que o número de células-tronco extraídas a partir do dente de leite é menor do que da medula óssea ou cordão umbilical.

Por enquanto, a Cryopraxis só está realizando testes da eficácia do uso dessas células-tronco no tratamento de camundongos. No entanto, Sílvia acredita que, dentro de seis meses, estudos clínicos com humanos possam ser realizados.

- Tudo depende dos resultados obtidos com os modelos animais. Já conseguimos resultados positivos no tratamentos de danos ao fígado dos camundongos - conta a pesquisadora.

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