• Carregando...

São Paulo (AE) – Andando pelas ruas de São Paulo, o deputado Professor Luizinho (PT-SP) ouviu o berro de um sujeito que passava de carro: "Seus traidores!" Esperando na fila de embarque do Aeroporto de Congonhas, José Eduardo Cardozo, também da bancada do PT paulista, viu uma passageira se aproximar com a pergunta irônica: "O senhor está levando dinheiro para Brasília nessa mala?" Transitando pelos corredores do Congresso, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) ficou perplexa com a nova catimba política de colegas de parlamento. "Não agüento o olharzinho malicioso de figuras de biografia duvidosa que agora fazem para nós uma cara de quem diz: vocês também, né?", reclama.

Meses depois do primeiros si-nais da crise que abalou o PT, os políticos da legenda estão atônitos, surpresos, envergonhados. Pela primeira vez em 25 anos de existência do partido, levam para casa o constrangimento coletivo de dever explicações éticas.

Entre os integrantes do partido, há quem divida os reflexos petistas diante da crise em três fases. A primeira foi a negação. Políticos e militantes acusaram uma tentativa de golpe das elites, esbravejaram contra as acusações. A segunda foi a depressão e apatia. A terceira, dizem eles, pode estar começando. Enquanto tentam assimilar as denúncias, os integrantes da legenda costuram as teorias da reação. Todas roçam a palavra "reconstrução".

Uma das teses quer redistribuir a propriedade da ética. "Estamos pagando o preço da generalização. Assim como já acreditamos que a ética era monopólio nosso, hoje sofremos com o contrário. O partido inteiro ficou associado às denúncias e os militantes estão perplexos. Temos que admitir que a ética na política pode ser encontrada independentemente do partido. E que partidos são feitos de homens e mulheres que podem errar", afirma o deputado federal paulista José Eduardo Cardozo. Professor de Direito da PUC-SP, ele já está se acostumando a ouvir dos alunos um bombardeio de perguntas sobre o escândalo. "Alguns até brincam, perguntam se estou no mensalão", conta.

Outra tese prega a reconstrução da maneira de existir do partido. Novo secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, defende uma reforma geral da máquina petista. A legenda, segundo ele, virou um mastodonte cheio de estruturas, sedes, equipamentos e eventos – um bicho pesado e difícil de financiar. Por isso precisa ser reformulado. Berzoini também quer a criação de novas maneiras de vigilância interna. "O PT presumiu a honestidade geral e descuidou de controles internos. Agora vamos ter que criar esses mecanismos ". Por vidas dúvidas, o novo secretário-geral discorda de Tarso Genro na conclusão do capital moral dilapidado: "Ain-da acredito que não houve perda total".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]