Curitiba Com as atenções voltadas para as eleições internas do próximo dia 18, os líderes do Partido dos Trabalhadores do Paraná tentam resgatar a cultura do debate, da participação coletiva e mostram-se dispostos a retomar antigas lições de democracia. Durante três horas de debate, no último sábado, em Curitiba, os candidatos à presidência estadual deixaram claro que seguir esses princípios não é tão simples. Minutos depois de criticar imposições do diretório nacional, eles provaram que a tarefa mais difícil pode ser vencer o próprio autoritarismo.
O deputado estadual André Vargas, candidato à reeleição pelo Campo Majoritário, ergueu a voz diante de murmúrios na pletéia com um retumbante "posso falar ou não posso?". Logo em seguida, se recompôs: "Silêncio, por favor!". O mediador, Roberto Salomão, presidente do PT de Curitiba, tomou o microfone para dizer que os candidatos não podiam ser interrompidos, "a não ser por aplausos".
Houve deslizes que foram até aplaudidos. O deputado estadual Tadeu Veneri, da chapa Mudanças Já, falou que quer ser presidente do PT "para dizer o que a bancada tem que fazer". Ele se referia à bancada estadual do PT na Assembléia Legislativa, e arrancou palmas de militantes indignados com uma série de relatos de infidelidade partidária na hora das votações. "A bancada não pode ser maior que o partido", explicou.
O candidato Aderbal de Holleben Mello, que representa a chapa Sempre na Luta, disse que reconhece os méritos da atual diretoria, que instalou o PT mesmo em municípios onde não há petistas no governo, mas garantiu ter executado tarefa bem mais difícil. Ele alegou que, no início dos anos 80, teve que enfrentar inclusive xingamentos para defender o PT nas regiões Oeste e Sudoeste do Paraná. "Organizar o PT agora é muito mais fácil." Para deixar claro que pertence ao PT das antigas, pediu licença e se apropriou do slogan da chapa do ex-prefeito de Maringá, João Ivo Caleffi: "Quero meu PT de volta."
Para o deputado federal Florisvaldo Fier, o Dr. Rosinha, que concorre pela chapa Coragem de Mudar, a realização de debates semanais sobre a conjuntura política ampliaria a participação das bases. "Isso muda profundamente as decisões do partido." Ele defendeu ainda a reformulação do estatuto do PT.
Para o candidato da chapa Terra, Trabalho e Soberania, o professor Alfeo Luiz Cappellari, além de adotar uma postura interna mais democrática, o partido precisa definir posições. "O PT tem que ir de encontro ao governo Requião". Em sua avaliação, o diretório precisa ser mais incisivo ao se contrapor ao governo estadual, independentemente do assunto em questão.
Caleffi, da chapa Movimento Paraná, declarou que a participação das bases nas eleições do PT ganhou importância extra diante da crise política brasileira. Em sua avaliação, o mundo todo está acompanhando a reação da militância frente às denúncias de corrupção. "Temos que mostrar que ainda é possível manter um partido de esquerda forte."
Manifesto
* As mudanças adotadas na última década pelo PT estão vindo à tona durante a campanha para a presidência estadual. Ao defender a reafirmação do Manifesto do Partido dos Trabalhadores, de 1980, o candidato professor Alfeo Luiz Cappellari coloca em xeque a postura dos militantes de centro-esquerda.
* O documento defende a "emancipação das massas populares". A idéia é valorizar as bases, formadas por trabalhadores "cansados de servir de massa de manobra".
* "Somos um partido dos trabalhadores, não um partido para iludir os trabalhadores", afirma o texto, que define o PT como um partido que nasce das lutas sociais para representar os interesses das massas.