A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta segunda-feira a 29.ª etapa da Operação Lava Jato. Agentes cumprem mandados em Brasília, Pernambuco e Rio de Janeiro. O nome desta fase é Repescagem e envolve o condenado no mensalão João Cláudio Genu, ex-tesoureiro do PP e ex-assessor do ex-deputado José Janene (PP-PR), que já é falecido.
Foram cumpridos 6 mandados de busca e apreensão, 1 mandado de prisão preventiva e 2 mandados de prisão temporária nas cidades de Brasília, Rio de Janeiro e Recife. Genu foi preso em um hospital de Brasília como acompanhante de uma pessoa. A prisão dele é preventiva, sem data para expirar. A nova fase da Lava Jato inclusive foi batizada de Repescagem em razão de Genu ter sido envolvido no mensalão e, agora, na Lava Jato.
“Desde a primeira fase [da Lava Jato] estamos colhendo provas sobre esse esquema . Um dos membros da quadrilha que idealizou o mensalão foi repescado pela Lava Jato, com provas cabais de mais um esquema de desvio de verba da Petrobras,” disse o delegado da PF Luciano Flores.
Apontado como sócio de Genu, Lucas Amorim Alves foi preso temporariamente. O empresário Humberto do Amaral Carrilho, dono de uma rede de postos do ramo de combustíveis suspeito de ganhar contratos da Petrobras sem licitação, é o outra pessoa com mandado de prisão temporária (de cinco dias) expedido na 29.ª fase da operação. Esposa e cunhada de Genu também foram alvo de busca esta manhã por serem sócias dele.
Os mandados foram expedidos pela 13.ª Vara Federal de Curitiba em procedimento que investiga os crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção passiva a ativa envolvendo verbas desviadas do esquema criminoso revelado no âmbito da Petrobras.
A participação de Genu
Genu era tesoureiro do PP e um dos principais assessores do ex-deputado federal José Janene (morto em 2010). Janene, por sua vez, é apontado nas investigações da Lava Jato como um dos mentores do esquema. O paranaense foi o responsável pela indicação de Paulo Roberto Costa, um dos principais delatores da Lava Jato, à diretoria de Abastecimento da Petrobras. Em delação, Costa revelou os detalhes do esquema que abasteceu campanhas políticas do PT, PMDB e PP.
As investigações apontaram Genu como um dos beneficiários no esquema. O ex-assessor do PP foi citado pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa. De acordo com os depoimento de Youssef, Genu operava uma “pequena parte” do esquema, por meio de um escritório de Niterói, no Rio de Janeiro.
Youssef afirmou que, na divisão dos valores recebidos na Diretoria de Abastecimento, ele ficava com 5% dos valores. O ex-diretor Paulo Roberto Costa ficava com 30%, 5% iam para Genu e outros 60% para o PP. Youssef afirmou que R$ 13 milhões foram entregues ao PP, a Genu e a Costa entre 2010 e 2011. Durante entrevista coletiva na manhã desta segunda, integrantes da força-tarefa da Lava Jato disseram que a distribuição da propina ocorria da seguinte forma: 15% para Alberto Youssef, 15% para Genu e 70% para Paulo Roberto Costa.De acordo com os investigadores, o dinheiro sacado por ele era para benefício próprio. Genu, segundo a Lava Jato, recebeu cerca de R$ 7 milhões em propina
De acordo com os delatores, Genu participou de reuniões sobre a engenharia criminosa antes e depois da morte do deputado. Os encontros com Youssef envolvendo propina do esquema teriam acontecido até 2013. O entregador de Youssef, Rafael Angulo contou em delação ter feito repasses em dinheiro para Genu no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo. As entregas variavam de R$ 5 mil a R$ 200 mil. Em um dos episódios, Angulo afirmou que chegou a um dos destinos com o dinheiro grudado ao corpo e que Genu foi buscá-lo no aeroporto. De acordo com o relato, o ex-assessor estava no banco da frente do carro e Angulo sentou atrás, tirando o dinheiro discretamente e colocando em uma pasta que já estava no local.
Mensalão
Genu também havia sido denunciado na Ação Penal 470 do STF (Mensalão), acusado de sacar cerca de R$ 1,1 milhão de propinas em espécie das contas da empresa SMP&B Comunicação Ltda., controlada por Marcos Valério Fernandes de Souza, para entrega a parlamentares federais do PP.
Naquela ação, foi condenado no julgamento pelo plenário do Supremo Tribunal Federal por corrupção e lavagem, mas houve prescrição quanto a corrupção e lavagem, sendo posteriormente absolvido no julgamento dos sucessivos embargos infringentes sob o argumento de atipicidade.
As investigações da 29.ª fase da Lava Jato apontam que Genu continuou recebendo repasses mensais de propinas mesmo durante o julgamento do mensalão e após ter sido condenado, até o ano de 2013. A PF classificou esse fato como um “deboche”. “Hoje esperamos que esse deboche tenha dado lugar ao respeito ás instituições”, disse o delegado Luciano Flores.
A defesa de Genu informou que, por enquanto, não vai se pronunciar sobre as acusações.
Outros envolvidos
Contra Lucas Amorim Alves, em razão de ser sócio de Genu em diversas empresas, há, segundo a força-tarefa da Lava Jato, fortes indícios de que participou do esquema de lavagem de dinheiro do esquema. Ora o dinheiro era recebido do doleiro Alberto Yousseff, ora de Carlos Charter, dono do Posto da Torre em Brasília – local onde a investigação da Lava Jato começou.
Outro suspeito da nova fase da operação é Humberto do Amaral Carrilho, empresário do setor de combustíveis de Pernambuco. Carrilho não foi preso, embora haja mandado contra ele, porque está em viagem ao exterior.
Segundo a PF, o delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, afirmou que Carrilho, dono da empresa Distribuidora Equador, propôs entre 2008 e 2009 à estatal a construção de um terminal de derivados de petróleo Itacotiara, no Amazonas.
O projeto, de acordo com Costa foi aceito e a empresa foi contratada pela Petrobras sem licitação, sob a alegação de que era um contrato de exclusividade. Costa disse que recebeu pagamentos de Carrilho até fevereiro de 201 em função da intermediação que ele fez para facilitar o negócio.
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