A Polícia Federal encerrou o inquérito sobre o desvio de dinheiro da Prefeitura de São Paulo e concluiu que os cofres públicos foram saqueados nas administrações de Celso Pitta e Paulo Maluf. A Justiça já está analisando pedido de prisão dos dois ex-prefeitos e de Flávio, filho de Maluf.

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No relatório que encerra três anos investigações, o delegado federal Protógenes Queiroz, que comandou o inquérito, escreveu:

"Paulo Salim Maluf, Flavio Maluf e Celso Pitta pilharam os cofres públicos da prefeitura municipal de São Paulo por mais de uma década. A fraude foi imensa e sem precedentes em toda historia de ilícitos contra o Sistema Financeiro Nacional".

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A assessoria de Paulo Maluf disse nesta segunda-feira que o pedido de prisão é uma cortina de fumaça para esconder o que chama de "Maracutaias de Brasília". Em relação às acusações de Vivaldo Alves, a nota diz que ele tentou extorquir dinheiro de Paulo Maluf.

Vivaldo nega. E reafirma tudo o que disse em depoimento.

O advogado do ex-prefeito Celso Pitta disse não ter participado da suposta tentativa de intimidação de testemunha e, por isso, confia que a prisão não será decretada.

Uma testemunha que se identificou como operador das contas de Maluf em Nova York afirmou que o ex-prefeito movimentou US$ 250 milhões em dinheiro de corrupção. Vivaldo Alves, doleiro da família Maluf é considerado testemunha chave no caso.

A polícia já havia identificado no exterior contas de empresas e de fundações relacionadas a Paulo Maluf e a seus filhos. E havia chegado também a contas em nome de integrantes da família Maluf lá fora. Mas faltava um operador. Em troca de segredos bancários, Vivaldo negociou redução de pena e depôs no inquérito em que estão indiciados Paulo Maluf, o filho dele, Flavio, e Celso Pitta - afilhado político e sucessor de Maluf na Prefeitura de São Paulo.

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Todos são acusados de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal, corrupção, peculato e formação de quadrilha. No depoimento à Polícia Federal, Vivaldo revelou que atuava a mando de Flávio Maluf.

- O Flávio procurou o senhor porque precisava movimentar uma conta no exterior? - pergunta um policial federal. Após a confirmação de Vivaldo, o policial pergunta novamente se ele teve autonomia para resolver a questão e se a decisão recaiu sobre o banco Safra

- Exatamente - responde Vivaldo.

Vivaldo afirma ter aberto três contas no Safra International Bank de Nova York. Todas as movimentações foram feitas por ordem de Flávio Maluf.

- A partir do Brasil, de fax e telefone - diz o doleiro.

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Interceptações telefônicas feitas legalmente demonstram para a polícia que Paulo Maluf e seu filho Flavio tentaram impedir que Vivaldo fizesse as revelações. A atitude, interpretada como intimidação de testemunha, foi um dos motivos que levaram ao pedido de prisão preventiva dos dois. Pedido que vai ser ainda vai ser analisado pela Justiça.

Dias antes do primeiro depoimento de Vivaldo, Flavio Maluf telefonou para o doleiro e marcou um encontro, realizado no escritório do advogado de Vivaldo. Flávio Maluf chegou às 17h45 do dia 21 de junho e saiu uma hora e meia depois. Vivaldo deixou o prédio em seguida. Segundo ele, foram três reuniões como essa, sempre com o mesmo objetivo.

- Eles pediam pra eu não falar nada, só falar na Justiça - afirmou Vivaldo em depoimento à Polícia Federal.

Vivaldo conta ainda que, numa das reuniões, o advogado dele recebeu um bilhete escrito pelo advogado de Flávio Maluf. Segundo o doleiro, no bilhete havia uma proposta de pagamento de uma grande quantia de dinheiro para ele não falar nada.

O bilhete foi assunto de uma das conversas gravadas entre Flávio Maluf e o pai. Flávio reclama da atitude do advogado da família.

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- Estava aí na mesa em cinco, né? O senhor sabe que ele pega um papel em branco e... - diz Flávio.

- Eu já soube, já soube... - responde Paulo Maluf.

Flavio diz como, na opinião dele, Vivaldo deveria ter sido orientado a se comportar diante da Polícia Federal:

- O problema era você chegar para o cara e dizer: "olha, está tudo em ordem. Você não se preocupe que está tudo acertado. Entra mudo e sai calado. E confia - disse na ligação telefônica gravada.

Mas Vivaldo disse aos policiais que já estava decidido.

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- Desde o princípio eu falei: "olha, eu vou depor e vou exatamente falar a verdade". Por quê? Uma verdade eu vou sustentá-la por dez anos. Uma mentira eu não vou agüentar cinco minutos - afirmou em um de seus depoimentos à PF.

O doleiro Vivaldo Alves, que operou contas no exterior para o ex-prefeito Paulo Maluf e seu filho, Flávio, declarou em depoimento à Polícia Federal que o registro das operações financeiras dele confere com as anotações do ex-tesoureiro da Mendes Junior - uma das empreiteiras acusadas de participar de desvio de dinheiro público na gestão de Paulo Maluf e de Celso Pitta.

O ex-tesoureiro citou 13 depósitos da empreiteira para a conta Chanani, da família Maluf, totalizando mais de US$ 10 milhões. Até os centavos estão relacionados. E Vivaldo declara que estes valores do relatório da tesouraria da Mendes Junior, constam literalmente no seu livro de conta corrente.

O publicitário Nelson Biondi afirmou que recebeu no Brasil o pagamento referente à campanha eleitoral de 1998 e que os valores foram declarados à Receita Federal.

O publicitário Duda Mendonça disse, por meio de seu advogado, que só vai se manifestar diante das autoridades.

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E a assessoria do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, informou que ele não recebeu qualquer solicitação de Paulo Maluf sobre inquéritos da Polícia Federal.

O Citibank de Nova York, onde Vivaldo Alves afirma ter depositado o dinheiro para Duda Mendonça, declarou que o grupo não divulga informações sobre contas de clientes.

O Safra National Bank de Nova York afirmou que desconhece a existência das operações que aparecem na reportagem.

E a Empreiteira Mendes Junior declarou que sempre atuou dentro da legalidade.