O delegado Ronaldo Urbano, coordenador geral da Delegacia de Repressão à Entorpecentes da Polícia Federal em Brasília, disse nesta sexta-feira que a rede de restaurantes Capricciosa e Satyricon no Rio de Janeiro foi bancada com o dinheiro de José Antonio de Palinhos Jorge Pereira, preso na quinta acusado de tráfico internacional de drogas. De acordo com o delegado, a próxima etapa da investigação será quebrar os sigilos bancário, telefônico e fiscal de todos os envolvidos e também de pessoas que tiveram negócios com o grupo. Segundo ele, o trabalho será feito em conjunto com a Receita Federal.
- Não fizemos estas quebras antes porque isto poderia chamar a atenção para as investigações e perderíamos o objetivo de prender os chefes da quadrilha em flagrante - disse.
O advogado Oscar Janequine disse que uma das sócias das redes de restaurantes Satyricon e Capricciosa, a sua cliente Sandra Tolpiakow, teve a prisão temporária decretada pela Justiça Federal de Goiânia. Ainda segundo o advogado, ela será levada para a Superintendência da Polícia Federal do Rio. A prisão faz parte da Operação Caravelas da Polícia Federal que apreendeu na tarde desta quinta-feira, num galpão no Mercado São Sebastião, de 1,6 tonelada de cocaína embalada dentro de peças de carne congelada preparadas para a exportação. É a maior apreensão de cocaína pura da história do estado. Funcionários de uma firma contratada pela Polícia Federal usaram uma serra elétrica para cortar a carne congelada.
A cocaína vinha da Colômbia, passava pelo Paraná e chegava ao Rio, onde era embutida nas peças de carne, e seguia para Lisboa, em Portugal. Toda a mercadoria apreendida nesta quinta-feira seria transportada dentro de 30 dias, num navio, para o país europeu. Lá, cada quilo da droga atingiria o preço de US$ 35 mil.
Os pacotes contendo cocaína chegaram na tarde desta sexta-feira à sede da Superintendência da Polícia Federal do Rio, na Praça Mauá. Os policiais comemoram a chegada da droga, transportada num furgão, soltando fogos de artifícios.
Durante a operação, sete pessoas foram presas, entre elas o empresário José Antônio de Palinhos, que a Polícia Federal afirma ser dono das redes de restaurantes Satyricon e de pizzarias Capricciosa. Bruno Leopardi, que está à frente das empresas, nega a informação e mostrou que o nome do acusado não aparece no quadro de sócios dos contratos sociais.
Palinhos foi sócio do dono dos dois restaurantes, o italiano Vladimiro Leopardi - que é padrasto de Bruno - nas empresas Chef Market Comércio Internacional Ltda. e no Frigorífico Mirhaggio Ltda., no período de 1994 a 1997. Vladimiro disse que rompeu a relação comercial com Palinhos devido a uma total incompatibilidade de comportamento moral. Ele contou que há cerca de 17 anos tinha uma empresa chamada Brasfish que exportava para uma empresa de Palinhos em Lisboa. Depois, ele veio para o Brasil e se tornou sócio de Vladmiro no Frigorífico Mirhaggio. Segundo Vladimiro, o ex-sócio costumava aparecer em seus restaurantes e, embora não gostasse, não podia proibi-lo.
Rodrigo Palinhos, filho do empresário preso, trabalhou até dois meses atrás como consultor na Capricciosa. Bruno Leopardi disse que não tinha como localizá-lo.
Palinhos também foi sócio, até 1997, de outro preso na operação da PF, Rocine Galdino de Souza, na empresa Eurofish Comércio de Pescado Ltda., que tinha sede em Botafogo. Para a Polícia Federal, José Antônio Palinhos é o financiador da quadrilha. O quilo da droga era comprado por cerca de US$ 4 mil e vendido em Portugal por US$ 35 mil. O delegado Regional Executivo da PF, Roberto Prel, disse que a próxima etapa da investigação estará voltada para os crimes de lavagem de dinheiro e envio de dinheiro para o exterior.
O esquema, investigado há mais de um ano, era chefiado de Portugal por Antônio dos Santos Damaso, preso no Barrashopping com Carlos Roberto da Rocha, o Tobe (irmão de Luís Carlos da Rocha, o Cabeça Branca, um dos maiores traficantes do Brasil, que está foragido no Suriname e fornecia a droga da Colômbia via Londrina).
Foram presos ainda Estilac Oliveira Reis, o arquiteto jurídico do esquema, na Estrada do Mendanha, em Campo Grande, onde tem uma empresa; a secretária de José Antônio de Palhinhos, Vânia de Oliveira Dias, em Ipanema; e Márcio Junqueira de Miranda, responsável pela embalagem da droga em cortes de "bucho bovino" (dobradinha), na Avenida Sernambetiba.
Segundo os agentes da PF, os traficantes usavam uma empresa de fachada para enviar a droga para o exterior. Todos os presos foram levados para a sede da Polícia Federal, na Praça Mauá.