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A Polícia Federal indiciou nesta segunda-feira quatro pessoas por envolvimento com o roubo de R$ 164 milhões do Banco Central de Fortaleza, ocorrido há nove dias. Os indiciados são os irmãos José Elizomarte, o Neném, e Dermival Fernandes; além do proprietário da J.E Transporte, Charles Moraes, e o motorista da empresa, Rogério Maciel. Os irmãos são donos da revendedora Brilhe Car, onde a quadrilha comprou em dinheiro dez veículos. A prisão temporária dos suspeitos, decretada na última quinta-feira, expira nesta segunda.

Também nesta segunda, a PF de Minas Gerais ouviu Rogério Maciel, que foi preso por conduzir um caminhão-cegonha com carros que continham dinheiro do assalto. Segundo a família do motorista, Rogério Maciel incrimina o dono da J.E, com quem estava no momento da prisão. Segundo o delegado Eliomar Lima Júnior, o motorista disse que "estranhou algumas ligações que Charles estava recebendo".

De acordo a polícia, Charles de Moraes pode ser a peça-chave das investigações, já que uma das casas usadas pela quadrilha durante o assalto pertence ao irmão dele. Moraes também é acusado de ter ajudado a quadrilha a comprar os dez carros.

O dono da J.E Transporte disse não saber como o dinheiro foi colocado dentro dos carros. No depoimento desta segunda, afirmou que só viajou na carreta "por imposição do cliente" e que foi contratado por Paulo Sérgio de Souza, nome falso de um dos bandidos, que teria se passado por empresário paulista.

Charles Moraes negou ainda que tivesse intermediado a compra dos automóveis e pagado R$ 980 mil em espécie com notas de R$ 50 roubadas do BC. Segundo ele, indicou a Brilhe Car ao falso Paulo Sérgio porque suas empresas têm parceria.

Já os donos da Brilhe Car reafirmaram em depoimento nesse fim de semana que a compra e o pagamento dos veículos foram feitos por Charles Moraes, que estaria fazendo o negócio em nome de empresários de São Paulo. Segundo eles, o dono da J.E Transporte pagou R$ 980 mil, mas o valor total dos carros que levou era de R$ 671 mil. A diferença - R$ 309 mil - seria referente à encomenda dele de uma camionete Xterra, da Nissan, e a débitos da J.E com a revendedora.

No total, foram recuperados cerca de R$ 5 milhões, quantia suspeita de ser parte dos R$ 164 milhões roubados do BC. Segundo a PF, o dinheiro recuperado já foi entregue à instituição.

A polícia ainda busca esclarecimentos para chegar a outros participantes do assalto, como os responsáveis pela fuga, pelo acesso ao mapa do prédio e pelo túnel de 80 metros que liga a casa em que estavam os bandidos até o cofre de segurança máxima do banco.

O BC já abriu uma comissão de sindicância para apurar falhas na segurança e a eventual participação de funcionários. O roubo de R$ 164,755 milhões será contabilizado como perda no balanço contábil do Banco Central. Se resultar em um prejuízo do BC neste ano, a perda ficará para o Tesouro Nacional. Os recursos roubados não estavam assegurados e se encontravam em circulação na rede bancária. O resultado da sindicância interna deve ser divulgado no próximo dia 8 de setembro.

Na última sexta-feira, dia 12, a Polícia Federal concluiu o trabalho de perícia nos 11 veículos apreendidos na cegonheira interceptada no dia 10 de agosto na BR-040, em Sete Lagoas, a 75 quilômetros de Belo Horizonte. Todos os veículos, inclusive a própria carreta, foram verificados, mas só foram encontrados volumes de dinheiro em três carros. Também foram coletadas impressões digitais, que serão comparadas com as de suspeitos do crime. Cerca de R$ 1,6 milhão estavam no interior e na caçamba de uma caminhonete Mitsubishi e outros R$ 2 milhões foram encontrados em uma pick-up Chevrolet Montana. Outros R$ 1,4 milhão foram encontrados por peritos nas portas traseiras de um Citröen C3. Os 11 carros e a carreta serão encaminhados pela PF para Fortaleza, mas a data e os detalhes da operação ainda não foram divulgados.

MAIS UMA CASA - A polícia localizou uma outra casa que pode ter sido usada pela quadrilha. O imóvel fica num bairro de classe média de Fortaleza, distante do local do crime. Policiais estão vigiando o local. No sábado à tarde, duas caminhonetes teriam entrado na casa. Segundo os vizinhos, era possível ouvir um barulho como se os carros estivessem sendo desmontados. A polícia acredita que a quadrilha poderia estar escondendo parte do dinheiro. Há suspeita que a casa seja de alguém que tenha participado de licitações para fazer obras no Banco Central.

A polícia investiga a compra de oito passagens aéreas, pagas à vista, com notas de R$ 50. Os passageiros ainda não foram identificados.

Não foi a primeira vez que uma caixa-forte do Banco Central foi arrombada por assaltantes. Houve nos últimos anos dois casos. O BC compartilhava os cofres Banco do Brasil para guardar dinheiro. Em Salvador, o assalto foi em julho de 1991 no valor equivalente de R$ 53,8 milhões. O roubo de Recife, também em 1991, foi de R$ 27,9 milhões.

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