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Operação Lacraia

PF prende quadrilha acusada de fraudes em cartórios

Uma operação da Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira 32 pessoas acusadas de participar de um esquema de falsificação de títulos de terra em três estados. Desde as primeiras horas da manhã, cerca de 200 agentes cumpriram mandados de prisão em Goiás, São Paulo e principalmente Mato Grosso, onde o grupo operava.

A quadrilha é acusada de fraudes em cartórios, grilagem de terras, crime contra o sistema financeiro e corrupção de servidores públicos.

Além de determinar a prisão dos acusados, o juiz federal Julier Sebastião da Silva decidiu pelo envio de parte do inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF), em razão da presença de diálogos que mencionam o senador Jaime Campos (DEM-MT). Em uma das interceptações telefônicas gravadas com autorização da Justiça, duas acusadas citam o nome do senador que, conforme uma delas, teria atuado para que a Justiça restabelecesse a tabeliã à frente do cartório.

A operação, apelidada de Lacraia, deteve tabeliões, funcionários de cartórios, servidores públicos, empresários, fazendeiros e corretores de imóveis, cumprindo também 38 mandados de busca e apreensão. De acordo com a PF, a quadrilha atuava há dez anos.Ainda a segundo a PF, a chefe da quadrilha é Helena da Costa Jacarandá, que até a semana passada era a tabeliã do Cartório de Registro de Imóveis de Barra do Garças, 500 quilômetros a oeste de Cuiabá (MT). A quadrilha conseguiu se infiltrar também no Incra de Barra do Garças, onde a servidora Ailda de Deus Silva ficava responsável por fornecer Certificados de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR) de terras que nem sequer existiam. Ailda também foi presa, como mentora da quadrilha.

Para obter empréstimos e financiamentos bancários, o grupo falsificava registros e títulos de propriedades rurais, duplicava documentos e, por meio de scanners, copiava assinaturas de outras pessoas nos papéis que estavam sendo manipulados. Como garantia para os empréstimos, a quadrilha apresentava escrituras de terras, em sua maioria, da União ou inexistentes.

Os empréstimos não eram pagos, já que os imóveis dados em garantia nunca existiram, o que impedia a execução do devedor. A PF não conseguiu estimar o montante do golpe, mas as operações bancárias eram, em média, de R$ 100 mil. Segundo o delegado Éder Magalhães, que chefia a "Operação Lacraia", houve dezenas de empréstimos.

A quadrilha contava ainda com a colaboração de tabeliães e funcionários dos cartórios. Em média, cada documento era negociado por R$ 5 mil, mas, segundo a PF, em alguns casos, chegava a R$ 40 mil. Os pagamentos eram feitos em contas de laranjas.

Entre os presos está uma servidora do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que era responsável pela emissão de Certificados de Cadastro de Imóvel Rural.

O grupo de beneficiários é formado por empresários e fazendeiros. Dois deles são os irmãos Serineu Osmar Tura e Celso Tura, de Água Boa (MT). Com documentação falsa, eles conseguiram escriturar uma fazenda, o que lhes garantiu R$ 10 milhões.

A quadrilha usava um mecanismo inusitado para envelhecer documentos e dar a eles aparência de antigos. Ao contrário dos grileiros tradicionais, que colocavam os papéis dentro de uma caixa cheia de grilos – daí o termo grilagem -, o "bando das lacraias" preferia envelhecê-los no forno microondas, que amarelava os papéis.

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