A Polícia Federal (PF) quer indiciar o ex-deputado federal e atual presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson, por formação de quadrilha, no inquérito que investiga irregularidades na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Para um policial que atua no caso e preferiu não se identificar, depois de um ano e sete meses de investigação está definitivamente comprovado que Jefferson comandou o loteamento da Diretoria de Administração dos Correios para desviar recursos para o PTB.
De acordo com o investigador, o indiciamento de Jefferson se justifica por declarações do ex-deputado à CPI dos Correios, pelos depoimentos do ex-chefe do Departamento de Compras da estatal, Maurício Marinho, e por um motivo inusitado: a "confissão" feita pelo ex-deputado no livro "Nervos de Aço", lançado em setembro do ano passado pela editora Top Books.
Para a PF, o presidente do PTB se complicou ao revelar na obra os interesses do partido nos Correios. À página 208, o livro afirma: "Voltando ao caso dos Correios, é evidente que as nomeações feitas pelo PTB se prendiam, sim, a uma estratégia de captação de recursos eleitorais. Nunca neguei isso. Só que absolutamente nada foi captado para o PTB. Porque a turma do PT corria na frente". A PF pretende indiciar Jefferson pelo crime de formação de quadrilha por entender que o ex-deputado se uniu a outras pessoas para desviar recursos.
Para embasar o indiciamento, a PF também deve inserir no relatório final do inquérito dos Correios, que deve ser enviado à Justiça Federal nas próximas semanas, um trecho do livro em que Jefferson revela os critérios adotados em processos licitatórios: "O leitor pode se perguntar: mas os fornecedores das estatais não são escolhidos por licitação? São. Mas toda licitação tem critérios objetivos e subjetivos. E aqui afirmo abertamente: se nos critérios técnicos duas empresas empatam, se as duas atendem ao interesse da estatal, acho perfeitamente natural que a escolhida seja aquela mais afinada com o partido representado naquela diretoria. Isso é muito mais justo e democrático do que favorecer sempre as mesmas empresas, vinculadas aos mesmos interesses", escreveu Jefferson, à página 206.
Ainda segundo o investigador, as confissões do ex-chefe de Compras dos Correios, Maurício Marinho, também complicaram a situação do ex-deputado. Numa série de depoimentos à Polícia Federal, com quem colabora para tentar a delação premiada, Marinho teria comprovado como os indicados de Jefferson fraudavam licitações, extorquiam empresários fornecedores da estatal e efetuavam renovações contratuais irregulares.
Intimação
Na sexta-feira(9) à tarde, após diversas tentativas frustradas, a PF conseguiu finalmente intimar Jefferson a prestar depoimento na próxima semana, mas o ex-deputado não deve comparecer. Alegou, por meio do advogado, que estará em compromissos em Buenos Aires, na Argentina. O depoimento era a oportunidade aguardada pela PF para formalizar o indiciamento na presença de Jefferson.
Procurado pelo G1, o delegado da Polícia Federal responsável pelo inquérito dos Correios, Daniel França, evitou comentar o caso. França afirmou que só se manifestará após a entrega do relatório final à Justiça.
Quadrilha
No relatório final do inquérito, também devem ser indiciados pelo crime de formação de quadrilha Maurício Marinho, o genro de Jefferson, Marcus Vinícius Vasconcelos, o ex-diretor da estatal, Antônio Osório, e seu ex-assessor Fernando Godoy. O G1 deixou recado no celular da assessoria de Jefferson, mas não obteve retorno. Os advogados de Osório, Marcus Vinícius e Marinho não foram localizados.
O escândalo nos Correios teve início em maio de 2005, quando a revista "Veja" revelou trechos de vídeo em que Marinho recebe R$ 3 mil de propina.
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