Campos e Marina: suspeita de terem recebido dinheiro de esquema que movimentou R$ 600 milhões.| Foto: Ivan Amorin/Gazeta do Povo/Arquivo

Um suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a compra do avião que caiu matando o ex-candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB) em agosto de 2014 pode ter servido para irrigar a campanha presidencial da chapa dele e de Marina Silva naquele ano. A Polícia Federal (PF) também suspeita que o esquema abasteceu as contas da eleição de Campos para governador de Pernambuco em 2010.

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Quatro pessoas foram presas na manhã desta terça-feira (21) na Operação Turbulência, deflagrada pela PF para investigar o suposto esquema em Pernambuco e Goiás suspeito de ter movimentado cerca de R$ 600 milhões desde 2010. Entre os detidos estão os empresários João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, Eduardo Freire Bezerra Leite e Apolo Santana Vieira. Eles são donos do Cessna Citation PR-AFA, aeronave envolvida no acidente que matou o ex-governador pernambucano. Foi a partir do avião que a PF descobriu operações suspeitas na conta de empresas envolvidas na sua aquisição.

“Vimos que a movimentação financeira não foi só para a compra do avião. Eles [empresas de fachadas e laranjas, segundo as investigações] intercambiavam muito entre si. Desde 2010 as empresas tinham transações volumosas, que se intensificaram em 2014. Por coincidência ou não, as transações caíram após o acidente”, detalhou a delegada Andréa Albuquerque.

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Avião em que Eduardo Campos morreu leva PF a caixa 2 de empreiteiras

Polícia Federal encontrou indícios de irregularidades em contas de empresas envolvidas na compra da aeronave. Investigação, a partir daí, concluiu esquema que envolvia firmas de fachada

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Dívidas de campanha

A empresa Câmara & Vasconcelos Locação – envolvida na compra da aeronave e já citada no âmbito da Lava Jato em delação premiada pelo doleiro Alberto Youssef – recebeu R$ 18,8 milhões da empreiteira OAS por locação e terraplanagem nas obras de transposição do Rio São Francisco. Esse montante, segundo os investigadores, pode ter servido para a aquisição da aeronave e também para outras despesas e dívidas de campanha. A Operação Turbulência compartilhou informações com a Lava Jato.

Os dados sobre o pagamento de R$ 18,8 milhões da OAS à Câmara & Vasconcelos estão em um dos quatro inquéritos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) tendo o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho como investigado. O esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que teria financiado a compra do avião, segundo a PF, se utilizou no total de 18 contas bancárias, entre pessoas físicas e jurídicas. Além das campanhas presidenciais e para governador de Pernambuco, a polícia suspeita que os recursos ilícitos foram injetados também na campanha ao Senado do ex-ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional).

A reportagem entrou em contato com a assessoria do PSB em Pernambuco e nacional. O partido informou que ainda irá se pronunciar oficialmente por meio de nota. A reportagem também entrou em contato com a assessoria de Marina Silva, que só se pronunciará ao longo da tarde.

Prisões

Embora não apareça no quadro societário da empresa, Paulo Cesar de Barros Morato é considerado pela PF como proprietário dela. Ele teve mandado de prisão preventiva expedido pela Justiça e não havia sido localizado.

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Dois empresários, Melo Filho e Bezerra Leite, foram presos ainda de madrugada, quando desembarcavam em São Paulo vindos do Recife. O último transportava US$ 10 mil em espécie e estava com viagem marcada para Miami, nos EUA. Os outros dois, Apolo Santana Vieira e Arthur Roberto Lapa Rosal, foram detidos na capital pernambucana.

Ao todo, foram cumpridos na Operação Turbulência 35 mandados de busca e apreensão e 16 de condução coercitiva, além do sequestro de embarcações, dois helicópteros e um avião.

Lava Jato

A Polícia Federal informou que a Operação Turbulência contou com informações compartilhadas da Operação Lava Jato. Segundo a PF em Pernambuco, base da Turbulência, foram utilizados dados reunidos pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba e também no âmbito da Procuradoria-Geral da República, cujos alvos são políticos com foro privilegiado.

O delegado Marcelo Diniz Cordeiro, superintendente da PF em Pernambuco, afirmou que ação deflagrada hoje reúne diversos documentos da Lava Jato que permitiram a identificação de empresas fantasmas que, segundo ele, contribuíram até para a aquisição da aeronave que era usada por Campos em sua campanha.

A investigação aponta para a OAS, uma das principais empreiteiras do cartel que se instalou na Petrobras entre 2004 e 2014, período em que foi montado esquema de propinas a deputados, senadores, governadores e ex-dirigentes da estatal petrolífera.

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Uma empresa fantasma descoberta pela Turbulência recebeu valores da OAS no âmbito das obras de transposição do Rio São Francisco. A PF identificou um repasse de R$ 18 milhões para a OAS – parte desse valor passou por conta da empresa de fachada.

A PF destacou que empresas fantasmas citadas por delações premiadas na Lava Jato em Curitiba e em Brasília foram usadas por operadores envolvidos nos crimes investigados pela Operação Turbulência. Informou, ainda, que o alvo da ação são os operadores que faziam a captação de recursos e distribuíam propinas a políticos. Em nome deles e em nome de familiares existem empresas fantasmas registradas também no Uruguai.

Morte de Campos

O ex-governador de Pernambuco morreu em Santos (SP), na manhã de 13 de agosto de 2014, após o avião em que viajava cair sobre um bairro residencial. O candidato à Presidência da República pelo PSB tinha 49 anos, deixando mulher e cinco filhos. O mais velho dos homens é chefe de gabinete do atual governador Paulo Câmara e deve disputar um mandato em 2018.

Segundo o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), a falta de conhecimento da aeronave e da área de pouso, além de erros de julgamento sob estresse fizeram com que os pilotos perdessem o controle do avião após arremeterem pouso.

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