Programa Minha Casa Minha Vida recebeu R$ 161,1 bilhões nos últimos quatro anos| Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo

O Ministério das Cidades informou no fim de semana que o ministro Aguinaldo Ribeiro solicitou à Polícia Federal que investigue as denúncias sobre a suposta cobrança de propina e desvios de recursos no programa Minha Casa Minha Vida, denunciada por reportagem do jornal O Globo na edição de sábado. O pedido foi feito diretamente ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que autorizou a investigação.

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Segundo a reportagem do jornal carioca, pequenos construtores subcontratados para tocar obras do Minha Casa Minha Vida em municípios com menos de 50 mil habitantes só obtinham os contratos se pagassem propinas — que variavam entre 10% e 32% do valor do imóvel construído — à empresa RCA, que tem como um dos sócios o ex-diretor de Produção Habitacional do Ministério das Cidades Daniel Vital Nolasco, filiado ao PCdoB. O dinheiro era depositado na conta da construtora Souza e Lima, criada pelo gerente-geral da RCA, Valmir Lima, e por Valdemar de Souza Júnior, engenheiro da empresa.

O dono da KL Construções, Rubens Amaral, por exemplo, afirmou à reportagem que repassou mais de R$ 400 mil para a RCA liberar o dinheiro das casas populares que construiu no Maranhão. Nesse caso, os recursos para as obras são liberados pelo Ministério das Cidades para o banco Luso Brasileiro, e a RCA atua como correspondente bancária dessa instituição.

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Em quatro anos, a União injetou R$ 161,1 bilhões em subsídios às moradias para as camadas mais baixas da população e para a classe média.

Convocação

Ontem, o deputado Otavio Leite (PSDB-RJ), presidente da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado (CSPCCO) da Câmara dos Deputados, disse que vai apresentar hoje um requerimento de convocação do ministro das Cidades, de técnicos do ministério e empresários para deporem sobre as denúncias. "Neste momento será valioso ouvir o ministro, a burocracia pública e denunciantes na Comissão, que tem legitimidade para convocá-los", disse Otavio Leite.

O líder do Mobilização Democrática (MD, ex-PPS) na Câmara, Rubens Bueno (PR), também anunciou que o partido vai apresentar um pedido para convocar o ministro das Cidades, o ex-diretor de Produção Habitacional do Ministério Daniel Vital Nolasco, filiado ao PCdoB, sócio da RCA Assessoria, além de empresários e representantes do banco Luso Brasileiro para dar explicações. "Já vimos esse filme no Ministério dos Esportes, comandado pelo PCdoB, onde ONGs ligadas a filiados do partido eram usadas para desviar dinheiro público. É preciso uma ampla investigação para rastrear onde foi parar o dinheiro da propina que, segundo a denúncia, era paga ao senhor Daniel Nolasco", cobra Bueno.

No dia 16, Ribeiro já havia determinado a abertura de uma sindicância interna e solicitado uma auditoria da Controladoria Geral da União (CGU).

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O outro lado: RCA nega cobrar taxa de empreiteiras em troca de obras

Agência o Globo

A RCA negou que exija o pagamento de qualquer taxa de construtoras em troca da participação delas em obras do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). Em nota enviada por sua assessoria, a RCA diz que "é remunerada pelos bancos que representa e aos quais presta serviços de assessoria e acompanhamento".

A RCA admite, no entanto, que "em casos pontuais" as construtoras escolhidas precisaram "contratar assistência técnica e empresas de projetos para dar início e seguimento às obras". E esse seria o motivo do pagamento.

"Do total de moradias populares já erguidas em processos com envolvimento da RCA, a companhia estima que em menos de 15% dos casos tenham ocorrido compras de projetos de empresas diferentes da responsável pela construção", diz a nota.

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A RCA sustentou também que não é ela quem escolhe as empreiteiras responsáveis pelas obras. "A RCA destaca ainda que a escolha das construtoras responsáveis pelas obras é feita pelo comitê de beneficiários de cada empreendimento, do qual a RCA não toma parte", diz a nota.

Até ser procurada pelo O Globo há duas semanas, a RCA mantinha em seu site um espaço destinado a editais onde fazia convocação de construtoras. Num deles, fraudou uma convocação. A empresa escolhida para executar obras no Espírito Santo tinha sede no mesmo endereço da RCA, em São Paulo.

Depois que foi indagada pela reportagem sobre a convocação fraudada, a empresa apagou o registro de seu site.