Depois do depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios, PFL e PSDB começam a falar abertamente na possibilidade de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o tom ainda é de cautela. Líderes dos dois partidos se reuniram em almoço nesta quinta-feira e iniciaram uma ampla consulta jurídica para identificar os crimes cometidos pelo PT na campanha eleitoral e a repercussão desses atos sobre o mandato presidencial. Participaram da conversa o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN), e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE)
- Vamos agir com prudência, mas com inflexibilidade no rumo. É inevitável o desfecho, mas não podemos ter precipitação - analisou Agripino.
O principal motivo para tantos cuidados é a avaliação de que a situação de Lula é diferente daquela que derrubou Fernando Collor em 1992. A oposição acredita que Lula ainda tem boa capacidade de mobilizar a opinião pública e teme que, ao pedir seu impeachment, termine por transformá-lo em vítima. Também há expectativa de alguma reação do presidente nas próximas horas, como um pronunciamento pela televisão, e cuidado com a repercussão dos fatos sobre a economia.
- Se eu fosse o presidente, faria alguma coisa - disse Tasso, ponderando:
- Impeachment é coisa séria e não pode ser jogado assim. Há muito a mastigar antes disso.
Mas houve gestos que avançaram em relação à posição oficial dos partidos de oposição. O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), por exemplo, afirmou que o impeachment era inevitável a essa altura e passou bom tempo na sessão da CPI ao lado do filho, o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Do lado tucano, o senador Álvaro Dias (PR) fez discurso no mesmo tom, no plenário.
- Este é o momento de maior melancolia que jamais vivi. Estamos no limiar de uma crise política sem precedentes. É inevitável, a partir de hoje, discutirmos a palavra impeachment.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), decretou o fim do governo Lula e considerou que é impossível não tratar da discussão do impeachment a partir de agora.
- O governo acabou. Impeachment, para o PSDB, era quase um palavrão. Agora, só um brasileiro muito alienado diria que isso não existe.
Segundo o senador, está clara a prática de crimes como sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e abertura ilegal de contas externas. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) afirmou que cada vez mais se confirma a participação do governo nas irregularidades apuradas pelas CPIs.
- O presidente está desgastado, a situação do governo piorou muito, mas não desejo o impeachment de Lula, quero derrotá-lo nas urnas em 2006. Não adianta pedir o impeachment nesse momento, mas está se configurando a presença do governo nesses atos ilícitos. É preciso investigar as estatais - disse.
EnqueteA "bomba" que caiu sobre o PT após o depoimento de Duda Mendonça já é suficiente para um pedido de impeachment de Lula?
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”