Dois novos delatores confessaram à Procuradoria-Geral da República que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cobrava propina para liberar dinheiro do FI-FGTS para empresas e recebia os valores em contas até agora desconhecidas, na Suíça e em Israel. A denúncia exclusiva foi publicada pela revista Época .
Segundo um documento obtido pela revista, a PGR afirma que reuniu provas de R$ 52 milhões em propina, divididas em 36 prestações. A revelação foi feita na delação premiada de Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior, da empreiteira Carioca Engenharia.
Ao contrário dos outros casos da Lava Jato, a dupla afirma que a propina foi cobrada diretamente por Eduardo Cunha, sem intermediários, em encontros pessoais. Os delatores detalham até os centavos da propina paga para receber R$ 3,5 bilhões do Fundo de Investimento do FGTS, o FI-FGTS, para uma obra no Rio. Há mais: o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, também trocou mensagens diretas com Cunha, justamente para tratar da liberação de valores do FGTS.
As evidências foram levadas ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, relator da operação Lava Jato que autorizou dezenas de buscas na última terça-feira (14). Entre os alvos, está Fábio Cleto, indicado para cuidar das loterias e do FGTS para uma diretoria da Caixa Econômica Federal. Ele era indicado por Cunha e foi nomeado com o aval da presidente Dilma Rousseff – ele deixou o cargo na semana passada. “Seguindo no esquema ilícito, Eduardo Cunha se valia de sua influência sobre Fábio Cleto para aprovar a liberação dos investimentos do FI-FGTS e cobrava valores neste sentido dos empresários interessados”, diz a PGR. Em 2014, o FI-FGTS tinha R$ 31,9 bilhões em ativo total e tinha participação em 44 projetos, segundo o seu relatório de gestão.
A delação premiada da Carioca Engenharia inclui até uma tabela com os valores das propinas. “Eduardo Cunha deu uma conta de um banco chamado ISRAEL DISCOUNT BANK para fazer a transferência de parte dos valores. O depoente preparou uma tabela, com data, conta de onde saiu e do destinatário dos valores, no montante total de US$ 3.984.297,05”, diz o documento.
Ricardo Pernambuco é taxativo: “em relação a estas transferências tem absoluta certeza que foram destinadas para Eduardo Cunha”, diz o delator. Há outras provas. A secretária de Pernambuco tentou, em 16 de agosto de 2011, agendar uma reunião com Cunha e enviou e-mail ao deputado, perguntado qual seria a pauta. Cunha foi curto e grosso: “Ele está a par. Só avisar q sou eu!”.
A operação Lava Jato descobriu mensagens diretas entre Eduardo Cunha e o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS. Pinheiro fala com Cunha sobre dinheiro do FGTS. Detalhe: a conversa foi travada por mensagens de celular em 7 de novembro do ano passado, uma semana antes do empreiteiro ser preso.
Diz Cunha: “Deixa que fdss entro a vero em cima dele e resolverei a nossa parte’. Quatro dias depois, Cunha vai além e garante que resolve dentro da Caixa Econômica e reclama do Ministério das Cidades. “Lá eu mudo isso tudo fácil mas cidades não”.
Além dos casos da Carioca Engenharia e OAS, a PGR recebeu da Justiça do Rio documentos de uma outra investigação, na qual um consultor também trazia anotações sobre a relação de Eduardo Cunha e Fábio Cleto. “A anotação indica que Eduardo Cunha e Fábio Cleto cobraram propina em troca de liberação de verbas do FI-FGTS”, diz a PGR.
Procurado pela Época, o advogado Alexandre Garcia de Souza, que defende Eduardo Cunha, afirma que não teve acesso ao material e que, dessa forma, não terá como prestar esclarecimentos. O diretor da Caixa Fábio Cleto não foi localizado.
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