
Reação
Direção do DEM admite incômodo
Agência O Globo
O presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), afirmou ontem que a situação do seu partido é "incômoda". Ele atribuiu o desconforto às gravações da Polícia Federal citadas em reportagem do jornal O Globo. Nelas, o senador Demóstenes Torres (GO) pede dinheiro e vaza informações de reuniões oficiais a Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Ele é acusado de chefiar a exploração ilegal de jogos em Goiás. "Pelas denúncias não esclarecidas a situação é incômoda. Existe uma série de denúncias. Os fatos mencionados e os esclarecimentos se impõe. Onde há dúvida, há incômodo. Os fatos mencionados no jornal têm que ser esclarecidos", disse Agripino. Segundo o senador, o partido quer os esclarecimentos dos fatos. "A posição do partido é conhecida pela própria posição do Demóstenes. Ele fez um discurso e concluiu o discurso dizendo que queria ser investigado. Essa é a posição do partido. O partido quer que as denúncias que existam fiquem esclarecidas conforme ele próprio pediu para ser investigado."
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, avalia se pede ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para investigar o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), envolvido em denúncias de cobrança de propina e favorecimento pela máfia dos caça-níqueis em seu estado. A situação do parlamentar da oposição se complicou nesta sexta, após a divulgação de informações, pela revista Carta Capital, de que receberia 30% da arrecadação do bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o jogo ilegal para alimentar o caixa 2 de campanha eleitoral.
Segundo a reportagem, publicada no site da revista, três relatórios do delegado Deuselino Valadares dos Santos, ex-chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da Polícia Federal em Goiás, informam que o senador recebia comissão sobre a arrecadação do esquema, que teria arrecadado R$ 170 milhões em seis anos. A parte do parlamentar seria de R$ 50 milhões, dinheiro que seria destinado à sua futura campanha ao governo do estado.
Os documentos integrariam relatório da Operação Monte Carlo, que prendeu 35 pessoas em 29 de fevereiro, entre elas Cachoeira e o próprio delegado. Deuselino teria parado suas investigações depois de ser "comprado" pelo grupo do bicheiro e Demóstenes. Também estariam envolvidos os deputados federais Carlos Alberto Leréia (PSDB), Jovair Arantes (PTB) e Rubens Otoni (PT).
Um dos relatórios citados relataria que, após uma investida da PF para estourar um cassino do advogado Ruy Cruvinel, envolvido no bicho, ele contou que, dos R$ 200 mil mensais arrecadados, 50% iriam para Cachoeira e outros 30% para o senador.
Uma outra reportagem, do jornal O Globo, diz que grampos da PF revelaram que Demóstenes pediu dinheiro e vazou informações oficiais a Cachoeira. Numa das gravações, o senador apareceria solicitando ao bicheiro que lhe pagasse uma despesa de R$ 3 mil com táxi aéreo. Em outra, faria confidências sobre reuniões reservadas com autoridades.
Enviado pela Justiça à Procuradoria-Geral da República em 2009, o caso ficou parado por dois anos e meio. Os senadores Randolfe Rodrigues (Psol-AP) e Pedro Taques (PDT-MT) e o deputado Chico Alencar (PSol-RJ) vão pedir explicações a Gurgel sobre quais providências tomou em 2009 sobre o relatório, que também aponta o envolvimento dos deputados Carlos Leréia (PSDB) e Sandes Junior (PP) com Cachoeira. Segundo Randolfe, com os novos fatos, tornou-se "inevitável" que o caso seja analisado pela Corregedoria ou pelo Conselho de Ética do Senado.
Outro lado
O advogado de Demóstenes, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse que seu cliente nega "peremptoriamente" as acusações de que recebia 30% da arrecadação de Cachoeira. Segundo ele, a matéria é "uma ofensa" e os relatórios da PF citados são "fantasiosos". O senador informou ao advogado que uma pessoa próxima de Cruvinel disse que ele negou ter implicado o senador em depoimento.
Sobre o suposto pedido de dinheiro ao bicheiro, o advogado informou que o senador só vai se pronunciar depois de conhecer as denúncias. Ontem, ele protocolou na PGR o segundo pedido em 12 dias para ter acesso aos documentos. Leréia não se pronunciou nesta sexta. Os demais não foram localizados pela reportagem.
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