José Dirceu é transportado em carro da PF após ser preso.| Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Após 15 dias de trégua graças ao recesso parlamentar, o PT planejava virar a página da turbulenta relação com o Congresso Nacional a partir desta semana. As denúncias contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a promessa de liberação de R$ 4,9 bilhões em emendas parlamentares e o apoio de governadores contra a “pauta-bomba” ditavam a esperança por uma nova fase. Expectativa que caiu por terra com a 17.ª fase da Operação Lava Jato, que prendeu o ex-ministro José Dirceu.

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O que é “pixuleco”?

É nome dado à 17ª fase da Lava Jato, uma referência à expressão pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari ao dinheiro cobrado de empreiteiras que tinham contratos com a Petrobras

Batizada de “Pixuleco”, nome dado pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto ao dinheiro cobrado de empreiteiras que tinham contratos com a Petrobras, a operação minou o ânimo dos petistas e incendeou a oposição. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire, falou abertamente em “necessidade de novo governo” e abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

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Relator da CPI dos Correios, que investigou o mensalão e pautou o julgamento que levou à condenação do ex-ministro José Dirceu, em 2012, Osmar Serraglio (PMDB-PR) defendeu uma alternativa de “concertação” entre vários partidos para “salvar o país”. “Estamos numa situação comparável a um pós-guerra”, disse o peemedebista.

Em outra ponta, o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), e o do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), convergiram sobre o encurralamento do ex-presidente Lula. “Falta pouco para a investigação chegar a Lula”, avaliou o goiano. Para Bueno, as declarações dos investigadores de que os desvios na Petrobras tiveram José Dirceu como um de seus “criadores” (entre 2003 e 2005) remetem a origem do escândalo ao ex-presidente. “E não tem mais como dizer que não sabia, como fez no mensalão, que a população não vai engolir”, afirmou.

Força-tarefa descarta, por ora, prisão de Lula

  • são paulo, curitiba e brasília

Nos bastidores da política, os rumores são de que a prisão do ex-ministro José Dirceu seria uma etapa anterior ao indiciamento e possível detenção do ex-presidente Lula por uma suposta participação no esquema investigado pela Operação Lava Jato. Lula, por ora, não é investigado.

O procurador Carlos Fernando Lima, que integra a Lava Jato disse a jornalistas nesta manhã de segunda-feira (3) não haver, por enquanto, “possibilidade real” de Lula ser preso em meio às investigações do esquema de corrupção instalado na Petrobras. “Não existe possibilidade real”, respondeu ao ser questionado sobre uma possível prisão do ex-presidente petista. Ele voltou a ressalvar, no entanto, que a operação não se exime de analisar todas as pessoas que possam efetivamente ter participado dos fatos. “Temos uma ideia boa e clara de onde podemos chegar, mas isso é fato sigiloso”, afirmou o procurador.

Já o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, que também integra a força-tarefa da Lava Jato, disse que esquema de corrupção sistematizada na Petrobras teve início no governo Lula. “Começa com a introdução desses diretores, Paulo Roberto Costa [na Diretoria de Abastecimento] e Renato Duque [Serviços]”, disse o procurador.

Acuado, o líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), desqualificou a operação e voltou a falar sobre “perseguição ao PT”. Machado atacou o juiz federal Sergio Moro, que estaria trabalhando “com base em suposições” e para “institucionalizar um golpe”. Nas redes sociais, o filho do ex-ministro e deputado federal, Zeca Dirceu (PT-PR), escreveu que há uma “demonstração clara da ausência de imparcialidade” devido ao fato de investigados e citados na Lava Jato do PSDB e de outros partidos não estarem presos.

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A operação, na prática, cercou a ala do PT no Congresso mais ligada a Lula. Até agora, esses parlamentares viam o ex-presidente como um “plano B” para um possível colapso da gestão Dilma. Se ele for atingido pela Lava Jato, não restam soluções a curto prazo, nem para 2018.

Do lado “dilmista” (minoritário em relação aos “lulistas”), a estratégia é tentar blindar a presidente. Durante o julgamento do mensalão, Dilma manteve-se afastada dos posicionamentos do partido favoráveis aos ex-dirigentes condenados pelo STF – como Dirceu e José Genoino. Líder do governo na Câmara e vice-presidente nacional do PT, José Guimarães (CE) foi mais moderado que Sibá Machado e disse que a “Lava Jato não pode paralisar o país”. Na mesma linha, o ministro da Defesa, Jaques Wagner, disse que o Brasil precisa se acostumar a viver entre dois canais, mas seguir adiante – um deles é o das investigações, o outro do funcionamento das empresas e da economia.

A tese do “olhar para o futuro” também deve pautar o discurso de Dilma durante o horário eleitoral do PT na quinta-feira. Nos planos dela, a ideia era conseguir uma aparição menos sujeita aos panelaços que foram comuns ao longo do primeiro semestre.

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