De um mês pra cá, as tardes do ambulante Wanderley Santos, de 63 anos, têm sido de marasmo e, por conseguinte, de poucas vendas. Ele é o último vendedor de camisetas, bandeiras e “pixulecos” que ainda marca ponto na praça localizada em frente à sede da Justiça Federal, no bairro Juvevê, em Curitiba. Longe do furor registrado em meses anteriores, quando protestos se sucediam nos arredores do prédio de onde o juiz Sérgio Moro despacha, o comerciante viu o movimento arrefecer.
“É... [o movimento] caiu bastante. Não está tão tumultuado como estava em março. Nos fins de semana, até vem um ou outro grupo de turista. Mas, em geral, é isso”, disse, apontando a praça vazia.
Enquanto espera pelos clientes, Wanderley faz palavras cruzadas e sudoku, para passar o tempo. Ele não revela quanto chegou a ganhar no auge das manifestações pró-Lava Jato – diz que “comércio varia muito” –, mas assente que as vendas rarearam. Na tarde desta quinta-feira (6), só duas camisetas da “República de Curitiba” (a R$ 40, cada) e um pequeno boneco inflável que representa o ex-presidente Lula, usando roupa de presidiário (o chamado “pixuleco”, comercializado a R$ 20), tinham saído.
“Na semana passada, eu fiquei três dias sem vender nada, nada”, contou. “’Pixuleco’ tá em baixa. Parece que o pessoal perdeu o interesse”, resigna-se. As bandeiras do Brasil e adereços com as cores da nação também têm encalhado.
Já que a “febre verde e amarela”, como ele diz, parece ter passado, Wanderley tem cogitado deixar o ponto. Pouco a pouco, ele já tem trocado a Justiça Federal por outras aglomerações, como jogos de futebol, shows e eventos religiosos. “O nosso ramo oscila. Então a gente vai onde tem mais gente. Eu não tenho vindo todo dia. Ontem [quarta-feira (15)], fiquei só um pouco e fui para o jogo do Coxa”, apontou.
“Que caiam todos”
Wanderley define que acompanha política “meio de longe”. Ainda que não estivesse muito seguro, votou em Aécio Neves (PSDB) nas últimas eleições, “mas por falta de opção”. Se considera um apoiador da operação Lava Jato e torce para que “caiam todos os corruptos”.
“Na verdade, tem ‘pixuleco’ do Lula e da Dilma porque são os que vendem mais. Mas se fosse fazer de todo mundo fez maracutaia ia faltar corda de varal pra pendurar aqui”, disse. “Tomara que o cara aí pegue todos”, completou, apontando para uma camiseta que estampa o rosto de Moro.
Apesar disso, o vendedor entende que as consequência da Lava Jato confundiram o cenário político e o eleitorado. “Nós vamos votar em quem? Parece que não sobrou um. O povo está quebrado”, concluiu.
“Acampamento da Justiça” coleta assinaturas, mas movimento é fraco
O “Acampamento da Justiça” – movimento iniciado no dia 16 de março, quando o juiz Sérgio Moro vazou um áudio em que o ex-presidente Lula mencionava preocupação com a “República de Curitiba” – permanece montado na praça em frente ao prédio da Justiça Federal. Barracas deram lugar para um contêiner, alugado pelos membros do grupo. O fluxo de militantes, no entanto, também caiu consideravelmente. Os “acampados” deixaram até de dormir no local, como faziam no ápice dos protestos.
Na tarde de quinta-feira (15), apenas Elizeth Sgrance de Souza tomava conta do acampamento e tentava coletar adeptos para um abaixo-assinado que propõe “dez medidas contra a corrupção”. No período em que a reportagem permaneceu no local, duas mulheres assinaram a proposta e pegaram adesivos em que se lia “Eu apoio a Lava-Jato”.
“Antes, mais gente vinha todos os dias. As pessoas vêm mais por causa das novidades, quando tem alguma fase nova [da operação]. Mais à noite, costuma vir mais gente”, disse.
O “Acampamento” também exibe camisetas da “República de Curitiba” e de Sérgio Moro que, segundo os militantes, são “doadas” a quem colaborar com o movimento com R$ 40. O dinheiro, segundo Elizeth, é destinado a custear despesas do acampamento.
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