Numa madrugada de setembro de 2013, o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato bateu a porta de sua cobertura em Copacabana para não mais voltar. Condenado a pouco mais de 12 anos de prisão no processo do mensalão, fugiu para a Itália com uma mochila nas costas, uma pasta de couro no ombro e um plano B na cabeça (estudou todos os caminhos jurídicos para evitar uma eventual extradição) no caso de tudo dar errado. E deu. Nada planejado funcionou, nem o apelo à Corte Europeia de Direitos Humanos e o pedido de novo julgamento na Itália.
Embora tenha a esperança de que o Supremo Tribunal Federal (STF) faça sua revisão criminal (outro julgamento baseado em novas provas), Pizzolato sabe que pode ter outra frustração. Seus amigos, também. Eles já fazem as contas para a progressão de regime (semiaberto), em junho de 2016, quando ele tiver cumprido um sexto da pena, incluindo o tempo em que esteve preso na Itália.
Fica colada à Avenida Atlântica a cobertura onde o ex-diretor do BB vivia com a mulher, Andréa Haas, companheira de cerca de 30 anos que conheceu na faculdade de arquitetura no Rio Grande do Sul.
Andréa sabia dos planos de fuga. Encontrou com o marido na Europa um mês após ele ter deixado o Brasil com passaporte falso em nome do irmão, Celso, morto em 1978. Os dois se instalaram na casa de um sobrinho de Pizzolato que trabalha para a escuderia Ferrari e mora em Maranello, no Norte da Itália. Foi lá que a polícia italiana bateu para prender o ex-diretor do BB.
Levado para a penitenciária Casa Circondariale di Modena, Pizzolato foi solto em outubro de 2014. A liberdade durou até fevereiro, quando a Justiça italiana decidiu extraditá-lo. Foi então para a Penitenciária Sant’Anna de Modena.
Depressão
Andréa se mudou para ficar mais perto do marido. Podia visitá-lo seis horas por mês. Num desses encontros, ela contou a Pizzolato que o pai dele, Pedro, tinha morrido. Embora seja descendentes de alemães, Andréa só conseguiu ficar na Europa por conta da cidadania italiana que obteve por ser companheira de Pizzolato, neto de italianos. Pelas conversas que mantinha quase diariamente com a filha pelo Skype, o advogado João Francisco Haas conta que a sentiu abalada com a reviravolta no caso e com a iminente extradição de Pizzolato, que entrou num quadro depressivo.
Em defesa do genro, João Francisco publicou o livro, “O verdadeiro processo do mensalão”. Ele contesta a acusação de que o ex-diretor do BB usou dinheiro do esquema do mensalão para comprar a cobertura de Copacabana. O STF condenou Pizzolato por entender que ele autorizou a liberação de R$ 73 milhões da Visa Net para a DNA Propaganda, de Marcos Valério, sem garantias dos serviços contratados. Ele teria recebido cerca de R$ 300 mil. Na época, comprou o apartamento por cerca de R$ 400 mil. João Francisco diz que Pizzolato ocupava funções de gerente e diretor e teria como comprar o imóvel.
O aposentado Alexandre Teixeira é outro defensor do ex-diretor do BB, de quem é amigo desde os anos 1980. Conhecido como Terremoto, Alexandre planejou com Pizzolato cada minúcia da fuga. No início, o objetivo era simular a morte de Pizzolato, “uma maluquice”, como reconhece hoje o próprio Terremoto.
A primeira parte do plano chegou a ser executada, conta a jornalista Fernanda Odilla no livro “Pizzolato, não existe plano infalível”. Em 24 de abril de 2009, o ex-diretor do BB foi a um cartório no Rio registrar seus desejos póstumos. Levou Terremoto e a mulher do amigo, Martha, para assinarem, como testemunhas, as três páginas de testamento.
No documento, Pizzolato dispensou velório, enterro e missa de sétimo dia. Pedia ainda que suas cinzas fossem jogadas no mar. Como não poderia levantar suspeitas, registrou o destino de seus bens. No fim das contas, a “morte” de Pizzolato não aconteceu.
Pizzolato e a mulher trazem de volta algo que haviam levado para Itália: a mágoa com o PT. “Eles lutaram pelo PT e agora o que se vê é o próprio governo do PT trabalhando a todo custo para extradição dele”, afirma João Francisco Haas.