Parlamentares de diversos partidos confirmaram na quinta-feira a negociação iniciada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), para tentar evitar a cassação de deputados do PL e do PTB. A tentativa de acordo, que repercutiu mal na Câmara, prevê que o presidente do PL retire a representação contra o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), evitando a sua cassação, e em troca o petebista não represente contra parlamentares do PL.
O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), confirmou que o PL fez uma consulta informal sobre a possibilidade de retirar a representação e sustar o processo contra Jefferson em andamento no Conselho de Ética desde o mês passado. Segundo um líder da base aliada, apesar do interesse de Valdemar, a proposta de acordão enfrenta a resistência de dois líderes: o do PL, Sandro Mabel (PL-GO), e o do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
Para Jefferson, o acordo seria vantajoso, porque, como o processo já foi aberto, ele não pode mais renunciar ao mandato e evitar sua cassação e a conseqüente perda do direito de se candidatar nos próximos oito anos. O PL, em troca, ganharia a desistência de Jefferson de representar contra Valdemar, Sandro Mabel e Carlos Rodrigues (PL-RJ). Semana passada, Jefferson anunciou que faria representação contra esses três e mais o deputado José Dirceu (PT-SP), mas ainda não fez.
Na quinta-feira houve um recuo por parte dos interessados, mas a negociação não está totalmente abortada. A assessoria de imprensa da Câmara informou que Severino não se manifestará "sobre hipótese". Mas explicou que caberá ao presidente analisar o eventual pedido de retirada da representação, pois tanto o regimento interno quanto o código de ética são omissos.
O presidente do PL, por meio da assessoria de imprensa, limitou-se a dizer que "até o momento não tomou qualquer iniciativa formal na direção da retirada da representação". Mabel negou categoricamente o acordo com o PTB e até a consulta informal à Mesa da Câmara. "Nós não negociamos com gente da estirpe de Jefferson".
Integrantes do Conselho de Ética reagiram com indignação à tentativa de sustar o trabalho. O relator do processo contra Jefferson, Jairo Carneiro (PFL-BA), disse que o fim dessas investigações poderá provocar "um levante cívico". "A sustação maquinada por interesses escusos botaria em dramática e insustentável posição detentores do poder constituído no Legislativo e no Executivo e exporia a nação a um julgamento de consternação e condenação de sua credibilidade.
O deputado Orlando Fantazzini (PT-SP) disse que a retirada da representação significará a desmoralização do Congresso. "Isso é uma aberração. Seria a desmoralização do Congresso. A Câmara iria para o descrédito total. A Casa pagaria o preço pela atitude de poucos". O deputado Chico Alencar (PT-RJ) classificou a negociação de ilegítima e vergonhosa. "Não vamos aceitar essa mutreta".