O corte promovido pelo governo federal no orçamento do Judiciário e do Ministério Público Federal, em especial nos valores destinados ao aumento de salários, abriu uma crise entre os poderes e deve resultar em ações judiciais. Ao promover o corte, o Ministério do Planejamento informou que o orçamento de 2015 seria impactado em R$ 16,9 bilhões caso as propostas de aumento fossem contempladas. O valor diz respeito aos pedidos de reajuste não só do Judiciário e do Ministério Público, mas também do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Defensoria Pública da União. Devido a isso, mesmo sem explicitar o valor efetivamente cortado para cada uma das instituições ligadas à Justiça, o Planejamento informou que não contemplaria a "maioria" dos pedidos de reajuste.
"Tais propostas, em sua maioria, não puderam ser contempladas no projeto de lei orçamentária ora encaminhado em razão do cenário econômico atual, no qual o Brasil necessita manter um quadro de responsabilidade fiscal que permita continuar gerando resultados primários compatíveis com a redução na dívida pública em relação ao PIB", disse o ministério ao justificar a redução.
Somente no caso do Supremo Tribunal Federal (STF), o corte chegou a R$ 149,3 milhões. Os valores cortados do Supremo impedem o aumento dos salários da maioria dos servidores e magistrados do Judiciário, bem como o reajuste no subsídio dos ministros do STF, que queriam um salto dos atuais R$ 29,4 mil para R$ 35,9 mil em 2015.
Reação
Para o ministro do STF Celso de Mello, o corte promovido pelo Executivo, pelo menos em relação ao Judiciário e ao Ministério Público, é inconstitucional. Segundo ele, o orçamento deveria ser enviado ao Legislativo exatamente como formulado inicialmente. Eventuais cortes só seriam possíveis na hora de deputados e senadores votarem o orçamento do ano que vem. "O Supremo apresenta uma proposta, mas é insuscetível de corte unilateral por parte do Poder Executivo. O único árbitro constitucionalmente qualificado é o Congresso Nacional", disse.
Devido aos cortes, o Supremo enviou um ofício ao Ministério Público Federal, comunicando a situação. A reportagem apurou que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está discutindo com outros procuradores o envio de uma ação ao STF para garantir o envio dos orçamentos originais ao Congresso. A posição de Janot seria a mesma de Celso de Mello: ele entende que cortes só podem ser feitos por deputados e senadores, não pelo Executivo no momento de enviar a proposta ao Congresso.
Além do Ministério Público, três associações de magistrados a Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil), AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e a Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho) também estudam o envio de uma ação ao Supremo. Segundo o presidente da Ajufe, Antônio César Bochenek, o corte "fere a independência do Judiciário". Ele ainda comentou que, em outros anos, quando situação semelhante aconteceu, o Ministério Público apresentou ações e o Executivo foi obrigado a acrescentar os valores pleiteados pelo Judiciário na proposta orçamentária.
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