Temendo uma derrota na análise da medida provisória que endurece o acesso a benefícios previdenciários, a presidente Dilma Rousseff decidiu entregar dois postos do segundo escalão a setores fiéis ao governo em partidos da base que se dividiram na votação da primeira etapa do ajuste fiscal.
Para aprovar na Câmara a MP 664, que torna mais rígido o pagamento da pensão por morte e do auxílio-doença, Dilma deve tirar a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) do PT e entregá-la a um indicado do PP. E deve manter a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sob a influência do PTB.
Com o gesto, Dilma decidiu privilegiar o setor do PP que votou com o governo na semana passada ao aprovar a MP 665, que entre outros pontos dificulta o recebimento do seguro-desemprego e do abono salarial. Na ocasião, 18 dos 39 votantes do PP se manifestaram contrários ao governo. No PTB, houve 11 votos contra o ajuste entre os 24 presentes.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo na sexta-feira, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) disse que os parlamentares que apoiaram o governo teriam preferência na distribuição dos cargos do segundo escalão. “É evidente que quem vota com governo terá preferência”, disse.
Em outro gesto à base, Dilma convidou o ministro do Trabalho, Manoel Dias, do PDT, partido que votou em bloco contra a MP 665, para retornar de Joinville ontem de carona no Airbus presidencial, após o enterro do senador Luiz Henrique (PMDB-SC).
As dificuldades previstas para a MP 664 pela Câmara foram debatidas ontem em reuniões coordenadas pelo vice-presidente Michel Temer. Embora o grosso do impacto fiscal esteja na proposta aprovada pela Casa e agora em discussão no Senado, a avaliação do Planalto é que temas previdenciários têm forte apelo entre os deputados. O líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), alegou a existência de uma cláusula pétrea no estatuto do partido e disse ontem haver “muita dificuldade” para votar a MP 664.
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