A declaração do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) de que será difícil a presidente Dilma Rousseff resistir até o fim do mandato, se mantiver a baixa popularidade, foi considerada “desastrosa” no Palácio do Planalto e fortalece a corrente que acusa o vice de estar conspirando para derrubá-la. No entanto, em entrevista à TV Globo, o ministro Edinho Silva, da Comunicação Social, disse que a fala do vice-presidente foi utilizada “fora de contexto” e que o vice é “extremamente leal” à presidente.
“Essa expressão, ela fora de contexto, ela pode ser mal interpretada, mas no contexto fica claro o objetivo do vice-presidente Michel Temer, que é unificar o governo na busca da melhoria da popularidade”, comentou o ministro. Para Edinho, Temer tem sido “extremamente leal” à presidente Dilma Rousseff e uma liderança política “extremamente importante”.
O relator do Orçamento da União de 2015 e de várias propostas de interesse do governo no Senado, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse que o vice-presidente foi “verdadeiro” e falou o “óbvio” ao relatar as dificuldades do governo da presidente Dilma Rouseff. Jucá adotou o discurso do PMDB de que as declarações de Temer foram pinçadas de um contexto, mas acrescentou que esse contexto é de que há uma crise econômica grave e que o governo não aguenta continuar sangrando nos próximos três anos e meio, caso Dilma não faça mudanças.
“Temer fez um diagnóstico do problema e não foi uma frase isolada. Mas ele está falando o óbvio: o governo não aguenta sangrar três anos. O governo tem que mudar procedimentos ou vai ficar mais difícil. A situação econômica é grave, e o governo tem que reagir. Ele foi verdadeiro e fez uma reflexão importante”, disse Jucá, que costuma dizer que é da ala “independente” do PMDB
Em encontro na noite desta quinta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que Dilma se reaproxime do PMDB e reconstrua sua relação com Temer para garantir a governabilidade.
O vice-presidente teve sua atuação no comando da articulação política questionada depois de declarar, no auge da crise política, no início de agosto, que “alguém” precisava reunificar o país. A partir daí, Dilma tomou para si os contatos com políticos e as negociações com o Congresso.
O vice-presidente também não foi consultado sobre a decisão do governo, que recuou três dias depois, de recriar a CPMF. Apesar de Temer ter ficado sabendo dos planos do governo pela imprensa, Dilma o telefonou para pedir ajuda com a aprovação da medida no Congresso, onde a proposta sofreu forte reação. Na ocasião, Temer deixou claro que não teria condições de trabalhar o Congresso nos termos em que a proposta foi apresentada.
‘ÁGUA FRIA NA FERVURA’
Nesta quinta-feira, Lula recomendou ainda à presidente Dilma Rousseff que abafe as divergências internas sobre a política econômica. O risco do ministro Joaquim Levy (Fazenda) deixar o cargo tem afetado negativamente o mercado e provocou a alta do dólar nesta quinta-feira.
O ex-presidente tem defendido que se coloque “água fria na fervura” tanto em relação à queda de braço entre os grupos de Levy e do ministro Nelson Barbosa (Planejamento) quanto às desconfianças em relação à fidelidade do PMDB.
Mesmo assim, Lula defende que o governo afrouxe o ajuste fiscal, liberando crédito para aquecer a economia. Essa é a política que foi implementada no governo do ex-presidente e no primeiro mandato de Dilma pelo então ministro da Fazenda Guido Mantega. Levy é contra.
“Ele (Levy) não concorda com a condução da economia no passado recente. Como não pode criticar, porque vai abrir uma guerra com o Mantega, que era um ministro querido, apoiado pela presidente, ele (Levy) fica com um certo incômodo”, disse um auxiliar de Dilma.