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Dilma Rousseff comanda as mudanças nos Transportes com rédea curta | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Dilma Rousseff comanda as mudanças nos Transportes com rédea curta| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Rede ferroviária

Mensaleiro negociava liberação de terrenos

O deputado Valdemar Costa Neto (PR) atuou em órgãos públicos para conseguir a liberação, nos últimos dois anos, de terrenos da antiga Rede Ferroviária Federal (RFFSA), em São Paulo, pleiteados por prefeituras sob sua influência no interior paulista. Ele foi reverenciado por prefeitos e por parlamentares como o responsável por ter viabilizado a obtenção dos terrenos. O deputado participou, inclusive, de reuniões com chefes do Executivo, secretários e vereadores para tratar do assunto.

Em algumas delas, estava acompanhado Frederico Dias, que se apresentava como assessor do Dnit, afastado do órgão após se tornar público que ele nunca havia sido nomeado. A antiga RFFSA foi extinta em 2007, e os imóveis ficaram sob a responsabilidade da Inventariança da Extinta Rede Ferroviária, ligada ao Ministério dos Transportes, feudo do PR.

Agência Estado

Nos bastidores

Lula tenta pacificar aliados

Empenhado em domar até mesmo o PT para dar "tranquilidade" ao governo de Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está aproveitando a série de viagens que iniciou pelo país para tentar pacificar a base aliada. Nos últimos dias, Lula recebeu telefonemas de políticos do PR, que reclamaram do método empregado por Dilma na "faxina" promovida no Ministério dos Transportes, no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e na Valec, empresa que cuida das ferrovias.

Aos mais íntimos, o ex-presidente não escondeu a preocupação com os desdobramentos das demissões que atingiram o PR. Seu receio – e também do PT – é que Dilma fique muito mais dependente do PMDB no Congresso, de agora em diante, se não agir para repactuar os insatisfeitos. Por esse raciocínio, a "fatura" cobrada pelo PMDB, que também perdeu cargos na composição do governo, pode ser muito alta.

Agora, ministros próximos de Lula se movimentam para que o diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot – afastado em meio às denúncias –, ganhe outra cadeira no governo. Pagot saiu de férias logo que estourou o escândalo e, apesar de ser considerado um "homem-bomba", combinou com os articuladores políticos do Planalto que não jogaria mais lenha na fogueira ao depor na Câmara e no Senado. Cumpriu o prometido, mas Dilma já disse que ele não retornará ao posto.

Agência Estado

Depois de completar a limpa no Ministério dos Transportes e fazer as substituições dos cargos vagos na cúpula do setor, o que deve acontecer até o fim deste mês, o governo federal desencadeará uma devassa de alcance idêntico – ou maior – nas superintendências estaduais do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit). Em todo o país, o Dnit tem 23 superintendências e pelo menos 15 delas, dois terços do total, apresentam problemas como corrupção, superfaturamento de obras, fraude em licitações e tráfico de influência.

Não há data para o início dessa "faxina" nas superintendências – ou reestruturação, como prefere chamar a presidente Dilma Rousseff –, mas já se sabe que deve ocorrer na sequência, em agosto, logo após o fim do recesso do Congresso e que poucos superintendentes sobreviverão.

As denúncias mais graves atingem os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, alvos de investigações no Tribunal de Contas da União (TCU), Ministério Público, Controladoria Geral da União (CGU) e Polícia Federal.

Com a cabeça a prêmio, o superintendente de Mato Grosso, Nilton de Britto, antecipou-se aos fatos e colocou o cargo à disposição, em encontro com o ministro Paulo Sérgio Passos esta semana. Mas ele condicionou sua saída à do diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, que entrou de férias para não receber a ordem de afastamento da presidente Dilma Rousseff.

Britto explicou que é amigo de Pagot de longa data, trabalhou com ele no governo de Blairo Maggi (hoje senador do PR) até 2005 e em 2008 atuou em cargo de direção do Dnit em Brasília, assumindo a Superintendência em dezembro passado.

"Se ele [Pagot] sair eu saio junto", disse Britto. Mas há outros motivos: Britto é acusado de favorecer a empresa do irmão, o engenheiro Milton de Britto, em contratos com o órgão de cerca de mais de R$ 20 milhões nos últimos dois anos. Ele nega a acusação.

O ministro Paulo Sérgio Passos confirmou que os ajustes alcançarão as superintendências estaduais do Dnit, mas informou, pela assessoria, que só tratará do caso numa segunda fase, após o preenchimento dos cargos de direção vagos na pasta e na estatal.

A escolha dos novos superintendentes será discutida com o futuro diretor-geral do órgão, antes de ser submetida a Dilma. Passos usará interlocutores para convencer os superintendentes a colocarem os cargos à disposição, como fez Britto.

Mas, por enquanto, na indefinição, os superintendentes em apuros ainda tentam ganhar tempo. "Continuamos trabalhando normalmente e aguardando as instruções da sede, em Brasília, e do Ministério dos Transportes", informou o superintendente do Paraná, José da Silva Tiago, cotado para sair por ser ligado a Pagot e enfrentar denúncias de irregularidades em obras, como o trecho da BR-376 que corta Maringá. Ele disse que as recomendações do TCU foram atendidas e que nenhum dos relatórios de fiscalização resultou em condenação até agora.

Por orientação de Dilma, que comanda as mudanças com rédea curta, duas premissas vão nortear a troca de guarda nas superintendências. Uma é a existência de irregularidades graves em obras no estado. A outra é o grau de ligação do superintendente com o núcleo da pasta investigado por suspeita de irregularidades. Os que estiverem nas duas situações têm chance zero de ficar no cargo.

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