A apreensão pela Polícia Federal de uma lista de supostos beneficiados pela Odebrechet, com cerca de 200 nomes de políticos de 18 siglas, somada às delações prometidas por funcionários da empresa, instauraram um clima de tensão nos bastidores do Congresso Nacional.
Os poucos parlamentares que falaram publicamente sobre o assunto sinalizaram que a investigação da Lava Jato com foco na Odebrechet, uma das maiores doadoras de campanhas eleitorais no país, pode até afetar o jogo de forças em Brasília, hoje integralmente voltado para o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Durante sessão plenária esvaziada em função da proximidade do feriado da Páscoa, o deputado federal Leo de Brito (PT-AC) abordou o assunto do alto da tribuna, nesta quarta-feira (23). O petista aproveitou para lembrar que na lista – ainda não há uma conclusão da PF se os pagamentos são ilícitos – estão dezenas de políticos filiados a legendas da oposição. “Estes mesmos que ficam aqui dizendo que são os arautos da moralidade”, disse Leo de Brito.
Em conversa com jornalistas, o líder da bancada do Psol na Câmara dos Deputados, Ivan Valente (RJ), avaliava o impacto dos novos desdobramentos da Lava Jato. “Parece que ela caminha para uma investigação mais ampla, envolvendo todas as esferas, municípios e estados também. Não só União. Criou-se um clima de tensão”, afirmou Valente.
Já o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que já é réu da Lava Jato e também aparece na lista da Odebrechet, minimizou o assunto. Ele negou ter recebido propina e disse que pediu dinheiro à empreiteira apenas para as campanhas eleitorais do PMDB. Os valores, completa ele, foram todos declarados à Justiça Eleitoral. “Não houve caixa dois”, reforçou Cunha, acrescentando não se lembrar para quem exatamente pediu recursos dentro da Odebrechet.
Cunha também deu risada sobre o apelido que recebeu na lista da empresa (“caranguejo”) e disse que não sabe explicar o motivo da referência. Questionado sobre se acreditava que a “lista da Odebrechet” poderia modificar a relação de forças dentro da Casa, com potencial para afetar o processo de impeachment contra a presidente Dilma, Cunha disse que “não”. “Não acredito nisso. Estou tão habituado à lista disso, lista daquilo. Nada modifica nada”, respondeu ele.
Processo de impeachment
Adversário da presidente Dilma, o presidente da Casa disse ainda que “a cada dia que passa” as posições contrárias à gestão petista “só crescem”. À frente da Câmara dos Deputados, Cunha tem dado celeridade ao processo de impeachment.
Com apoio da oposição, o peemedebista tem aberto sessões plenárias diárias para que o prazo de defesa da presidente Dilma – até dez sessões plenárias (deliberativas ou não) – corra de forma ininterrupta nos dias úteis.
A comissão especial do impeachment, instalada na semana passada, só volta a se reunir na terça-feira da semana que vem, no final da tarde. Já o parecer do grupo deve chegar para votação no plenário na segunda semana de abril. Para a oposição, há pressa. O grupo tenta aproveitar o atual cenário de extremo desgaste do governo federal.
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