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PM João Dias Ferreira | Reprodução
PM João Dias Ferreira| Foto: Reprodução

O policial militar e ex-militante do PCdoB João Dias Ferreira em entrevista ao GLOBO reafirmou acusações que fez contra o ministro do Esporte, Orlando Silva. Segundo ele, um dos contratos assinados com o ministério tinha como objetivo bancar a campanha do presidente Lula ao 2º turno no Distrito Federal em 2006. ferreira disse ainda que o ministro tem uma equipe encarregada de arrecadar recursos de ONGs para receber dinheiro do Ministério do Esporte.

Confira os principais trechos da entrevista:

Você acusou o ministro do Esporte, Orlando Silva, de ser um bandido. Qual o crime que ele cometeu ?

João Dias Ferreira - Inicialmente eu retruquei o que ele falou e vou repetir, ele ter me chamado de criminoso e bandido. Preciso deixar claro que ele está equivocado. Em pouco tempo não sou eu que vou ser visto como criminoso. Bandido é ele e a quadrilha dele. Ele sabe por quê. Isso ainda não está formalizado juridicamente, mas ele não tem por onde correr. Nesse primeiro momento é natural que ele utilize a presunção da inocência, mas o funil, o quebra-cabeça foi montado.

O que ele fez de errado?

Não foi nem ele. Na verdade, foi o PCdoB que fez errado ao indicar ele para qualquer cargo no ministério. Todos lembram que, antes dele ser secretário-executivo, ele foi diretor. E como diretor já teve escândalo em São Paulo, dentro do Ministério do Esporte. E ele, mesmo assim, foi promovido a secretário-executivo. A maior falha foi o PCdoB ter colocado ele e ele ter tomado a iniciativa de ser o arrecadador oficial. Tudo bem velado, porém, oficial do PCdoB nacional e para todos os estados.

O fato de ser arrecadador não é, em si, um crime. Qual foi o erro que ele cometeu como arrecadador ?

Foram justamente os métodos adotados. Quais foram os métodos? Capacitação de entidades. O que é isso ? É fazer uma triagem e ver se as entidades localizadas estão aptas a participar do programa Segundo Tempo. Essa captação de entidades era feita por uma equipe. A maioria tem dificuldade financeira. Eles analisavam se a entidade tinha condições jurídicas, documentais e te cobrava entre 10% e 20%, dependendo do número de alunos, do valor financeiro e da capacidade da entidade.

Dez a vinte por cento de comissão?

De comissão num contrato feito. Nosso contrato nós temos. Está na 10ª Vara da Justiça Federal. O nosso é de 1% porque me recusei a pagar. Eles rasgaram o processo de 10% e fizeram um de 1%. Neguei a pagar porque, quando me apresentaram o projeto pronto, que ia ser protocolado no ministério, no cronograma de desembolso, eu perguntei cadê os valores que estariam previstos. A imagem que eles passam é que estaria tudo por conta do ministério.

Você assinou outros contratos como esse?

Esse foi o primeiro. Na segunda-feira, na coletiva, o ministro alegou que o contrato estava errado. Como é que estava errado se, depois que encerrou este, ele fez um outro conosco? Hoje é muito interessante dizer, na coletiva : "esse aqui é um bandido, um criminoso". Pera aí, de uma hora para outra ?

Quantos contratos você assinou com ele?

Dois contratos e os dois assinados por Orlando Silva. Um deles como secretário-executivo e o outro como ministro.

Como ministro foi assinado quando?

Como ministro foi assinado 7 de outubro de 2006 em plena campanha. Vou te dar uma notícia que eu estava segurando: o objetivo do segundo projeto era bancar a campanha do presidente Lula do 2º turno no Distrito Federal. Foi assinado no dia 7 de outubro de 2006, em pleno segundo turno.

No valor de quanto?

Inicialmente de R$ 1 milhão.

Quem te falou que esse dinheiro era para bancar a campanha do ex-presidente ?

Foi o Orlando Silva.

Como foi essa conversa?

Foi através de um encontro que a gente teve informalmente. Essa informação, inicialmente, ela é bem complexa. Esse projeto da associação, eles montaram de uma hora para outra. Eles tinham os dados da Associação João Dias de Kung Fu e Fitness. Eles montaram o processo e, mesmo com todos os problemas que envolveu o primeiro processo, eles disseram que gostaram muito e que a comunidade queria a continuidade. Mas tinha algumas observações: eles pagariam 20% no ato, que era para poder colaborar com a campanha do presidente Lula no DF. Resumindo: nós não fizemos, contrariando mais uma vez o interesse do PCdoB. Eles aprovaram o projeto esperando receber de imediato R$ 200 mil e nós não repassamos.

Você recebeu o dinheiro e não repassou?

É. Ele queria que repassasse para campanha.

De que forma?

Existia um esquema, conforme foi revelado pelo Fantástico. Aquilo ali é colocado em todos os estados em que o programa Segundo Tempo se encontra. Aquela estrutura logística, aquela operação. Eles oferecerem para você até a empresa que vai ganhar a licitação. Eles dizem que não necessita de licitação. E nós contrariamos da seguinte forma: abrimos licitação com publicação no Diário Oficial da União, não repassamos o dinheiro e ignoramos eles.

Você falou que o ministro tinha recebido dinheiro no ministério.

Essa versão não é minha. Tem uma outra pessoa, que eu não posso responder por ela, que afirmou isso. Agora, qual é o meu conhecimento ? Sempre tive conhecimento, através do Fredo. Nós éramos próximos, ele coordenava a captação do Orlando em Brasília para isso. Eu posso te dar hoje dois nomes dessa equipe. Quando o Orlando assumiu o ministério, ele convidou o Fredo. Ele foi para linha de frente através de um escritório que ele tinha no Liberty Mall, hoje é a sede do partido. E a partir daí, ele começou um trabalho. Ele chamou um tal Hilton. Ele já tinha sido funcionário do ministério e foi demitido por supostas irregularidades na gestão anterior do Orlando. Quem coordenou isso foi Fernando Borges. Ele veio do PCdoB de São Paulo. Teve a missão de ser arrecadador do partido e do Orlando. Quem me passou essas informações? O Fredo. Esses dois e o Fredo fizeram uma composição para captar para o Orlando.

Como?

Numa forma mais profissional. Essa forma evolui tanto em Brasília que eles fizeram convênios no Rio de Janeiro e Santa Catarina. No Rio de Janeiro foi o Viva Rio, para 50 mil crianças. Em Santa Catarina foi o projeto Contato, que tem por trás dele o ex-secretário de Esporte Educacional João Guizone. Até hoje essas entidades receberam milhões mesmo não prestando conta anual. Houve outras diversas entidades em Brasília. Posso citar algumas. A Liga de Futebol Society recebeu R$ 2 milhões, a ONG Instituto Novo Horizonte recebeu R$ 3 milhões, a Fundação Tony Matos. Todas elas entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões.

O que essas entidades fizeram com o dinheiro ?

Aí é o que está muito interessante. Essas entidades sequer praticamente tiveram alunos. Duvido se tiveram mais de 100 alunos. Algumas nem alunos teve (sic). E não foram denunciadas pelo ministério. Pelo contrário, foram até acobertadas. Esses são três exemplos de dezenas e até centenas de entidades no Brasil todo. Inclusive, por incrível que pareça, a Novo Horizonte renovou.

Você falou em vídeos. Você tem vídeos com o ministro Orlando Silva ?

Na verdade há um equívoco. Existem áudios.

Áudios de quem?

São dois áudios em duas ocasiões distintas. Em uma delas, eu tive uma discussão com os captadores do Orlando Silva. Houve uma matéria em um veículo de comunicação e o ministério jogou a culpa para cima de nossa instituição. Então eu fiz uma visita não muito feliz e gravei. E deixei muito claro nessa gravação: acusei as pessoas de serem os captadores do Orlando Silva, que não me colocassem nesse rolo, que era problema dele. Caso contrário eu denunciaria. Em nenhum momento nenhum deles me denunciou para se defender.

Quando foi essa conversa?

No início de 2008.

Tinha testemunhas?

Algumas pessoas presenciaram.

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