A 11ª Parada do Orgulho GLBT de São Paulo transformou a Avenida Paulista e ruas próximas em verdadeiras pistas de dança para um público estimado em mais de 3 milhões de pessoas. Na tarde deste domingo (10), os organizadores do evento elevaram a estimativa de público que antes era de 3,3 milhões para 3,5 milhões.

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Os 23 trios elétricos que compõem a parada tocaram em volume alto batidas eletrônicas e hits de bandas como Erasure, Pet Shop Boys e New Order. Sucessos de Xuxa e do Balão Mágico provocaram euforia em milhares de participantes na passagem do trio elétrico Trash 80's, que relembra sucessos dos anos 80.

Por volta das 15h30, vias próximas Avenida Paulista, principalmente na altura do Masp, estavam praticamente intransitáveis tal era o volume de participantes. A Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo elevou na tarde deste domingo a estimativa de público. De acordo com André Guimarães, um dos organizadores, passarão pelo evento durante todo o domingo 3,5 milhões de pessoas.

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"Tem mais gente do que no ano passado", afirmou ele, acrescentando que 3,5 milhões deve ser o número fechado de público da Parada Gay deste ano. O Centro de Operações da Polícia Militar informou que neste ano não vai divulgar estimativas de público.

Socorro e tumulto

Apesar de não possuírem uma estimativa de atendimentos, o posto do Corpo de Bombeiros no Masp prestou socorro a dezenas de pessoas que tiveram queda de pressão em razão do calor.

Uma briga entre participantes da Parada provocou empurra-empurra por volta das 15h na frente do Masp, ponto de partida dos trios elétricos rumo à Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo. O tumulto foi controlado e não houve feridos.

'Foi bonito'

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A ministra do Turismo, Marta Suplicy, elogiou a 11ª edição do evento. "Foi lindo, tranqüilo, muito bonito como sempre", disse Marta, ao descer do trio elétrico e se retirar do evento por volta das 15h30.

Muito à vontade, a ex-prefeita de São Paulo chegou a tirar os sapatos e acenava com entusiasmo para a multidão. No caminho, muitas pessoas fantasiadas de super-heróis, chapeuzinho vermelho e até de poodle, que foi a roupa que mais chamou a atenção da ministra.

Cinco mil fotos

Quem seguiu os trios no chão viu máquinas fotográficas e celulares em punho para fotografar fantasias e superproduções. As drag queens fizeram sucesso. "Durante algumas horas nos tornamos celebridades. Parece que somos estrelas de novela. Participo da parada de São Paulo desde o início e acho que o assédio cresceu", afirmou Sissi Girl, de 36 anos, no meio da roda de pessoas vorazes por fotografias.

A drag queen profissional, que ficou quase uma hora produzindo o visual e cinco meses bordando o vestido, conta que em dia de parada chega a tirar, em média, cinco mil fotos.

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Fé multicolorida

Com uma estola estilizada com as cores do arco-íris, Gelson, pastor há três anos, foi à 11ª Parada do Orgulho GLBT com o namorado, que o ajudava a divulgar a igreja. "Queremos dar visibilidade à Igreja da Comunidade Metropolitana. Muita gente não sabe que Deus não discrimina", afirmou. O pastor aproveitou a multidão para tentar atrair fiéis para a instituição cristã definida como "igreja inclusiva".

Fantasiado de "Bento 24", José Roberto Fernandes, de 56 anos, conta que fez da parada oportunidade para um alerta. Entretanto, o figurino adotado certamente chocaria a comunidade católica. Nas mãos, levou um cálice que, além de fichas brancas que simbolizam hóstias, também possui preservativos. Por onde passava, provocava a atenção do público que o cercava para fotografá-lo.

"Faço um alerta à hipocrisia da Igreja Católica que proíbe a camisinha. Não é um protesto, mas uma homenagem e um alerta à igreja", afirmou ele, que se disse católico praticante. Apesar da orientação da Igreja que proíbe homossexuais de comungar, José Roberto afirmou que participa da Eucaristia.

Protesto

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Toni Reis, de 43 anos, e David Harrad, de 49 anos, foram à Parada Gay neste domingo (10) vestidos de noivos para protestar. Juntos há 18 anos, eles vestiram smoking e gravata borboleta rosa para pedir a liberação dos casamentos homossexuais. Há três anos, o inglês David correu o risco de ser deportado, mas um registro em cartório que constatou a união estável entre os dois permitiu que ele ficasse no país e seguisse ao lado de Toni.

"Somos noivos e estamos esperando há 18 anos a aprovação da lei", disse Toni logo que chegou ao evento que começará logo mais à tarde na Avenida Paulista, região central de São Paulo.

300 mil turistas

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), ao declarar aberta a Parada na manhã deste domingo (10), lembrou que é o evento que atrai o maior número de turistas a São Paulo. No ano passado, foram 200 mil pessoas e a expectativa é de que este ano chegue a 300 mil, de acordo com a previsão da São Paulo Turismo (SPTuris).

O investimento do governo municipal na festa foi de R$ 400 milhões, segundo Kassab. "A Parada merece esse investimento", comentou. O evento é o segundo que traz mais retorno financeiro à cidade, atrás apenas da corrida de Fórmula 1. Em 2006, o GP do Brasil trouxe R$ 150 milhões aos cofres municipais contra R$ 136 milhões da Parada.

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Questionado por um jornalista, caso fosse gay, se Kassab assumiria a orientação sexual em uma campanha eleitoral, o prefeito disse que isso "é uma questão íntima". "Eu não sou. E é uma questão de foro íntimo de cada um". Kassab é um dos possíveis candidatos à prefeitura de São Paulo em 2008.

O prefeito anunciou que o evento fará uma compensação ambiental. Durante todo o percurso da Parada será medida a quantidade de CO2 emitida pelos trios elétricos que acompanham a caminhada. Depois, a organização do evento se comprometeu a plantar árvores para balancear o efeito da poluição.

Respeito e cidadania

O presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT, Nelson Matias Pereira, disse que o objetivo do evento é garantir direitos para os homossexuais. "A gente não quer que nenhum cidadão perca a vida por causa da orientação sexual", afirmou.

O secretário estadual de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, pediu que os gays procurem a polícia para denunciar os crimes cometidos contra eles. "A política de segurança incluiu a proteção a todo cidadão", falou durante a abertura do evento.

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O presidente da Associação Brasileira GLT, Toni Reis, lembrou que muitos homossexuais já sofreram agressões por causa da opção sexual, 20% de acordo com uma pesquisa da associação. Ele pediu que a homofobia seja considerada crime no país. "Hoje é um dia de comemoração e de respeito", disse.

Para Marta Suplicy a situação está melhorando no país. "Mudou o sentimento da nação em relação ao cidadão homossexual. É difícil você conseguir que alguém se posicione claramente homofóbico. As pessoas sabem que é politicamente incorreto", afirmou a ministra.

Além dessas autoridades, estiveram presentes na abertura do evento o ministro dos Esportes. Orlando Silva, o secretário da coordenação das subprefeituras, Andrea Matarazzo e o presidente da SPTuris, Caio Luiz de Carvalho.