A cinco meses das eleições, o PMDB escolheu ontem por aclamação o paulista Michel Temer como candidato à presidência da Câmara dos Deputados. Dos 96 deputados federais do partido, apenas dois não manifestaram apoio à decisão, os paranaenses Osmar Serraglio e Hermes Parcianello. Ausente da reunião, Serraglio garantiu que concorrerá contra Temer, mesmo sem o apoio da legenda.
O encontro foi uma demonstração de força e uma tentativa de expor união. Marcaram presença os quatro ministros peemedebistas Geddel Vieira Lima (Integração Nacional), José Gomes Temporão (Saúde), Reinhold Stephanes (Agricultura) e Edison Lobão (Minas e Energia) , o ex-presidente e senador José Sarney e o atual presidente da Casa, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Todos enfatizaram o crescimento de quase 30% do partido nas últimas eleições.
"Nunca vi uma unidade tão absoluta", disse Temer, que já ocupou o cargo por dois biênios seguidos e é o atual presidente nacional do PMDB. Entre as propostas, afirmou que pretende fortalecer a liberdade do Poder Legislativo e diminuir a produção de novas leis. "Vamos acabar com essa história de leis a todo tempo, isso não resolve nada."
O clima de festa foi interrompido por um discurso da deputada capixaba Rita Camata. Ela chegou a anunciar que participaria de uma disputa interna pela candidatura, mas voltou atrás. "A forma como estamos vendo esse procedimento não condiz com a realidade política e com o próprio PMDB."
A parlamentar questionou os esforços dos aliados de Temer por uma eleição sem adversários. "Isso não se faz por abaixo-assinados", reclamou. O encontro de ontem ocorreu graças a uma lista com 87 assinaturas em apoio ao paulista. "É algo constrangedor, todo mundo se vê obrigado a assinar."
Rita conversou com Serraglio um dia antes da reunião. Os dois dissidentes não têm como reverter a situação. O paranaense não compareceu à votação porque tinha compromissos em Curitiba.
Ele já havia anunciado o descontentamento como o processo de escolha do partido há dois meses, quando enviou uma carta aos 96 deputados peemedebistas. "Por enquanto só posso dizer que mantenho minha candidatura, que é uma oposição à forma como as coisas vêm sendo tratadas. É algo que não engrandece o nosso partido."
O adiantamento da decisão peemedebista é uma maneira de conter um possível racha interno provocado por Serraglio e Rita e, principalmente, uma resposta ao avanço de Ciro Nogueira (PP-PI). O piauiense faz campanha corpo a corpo desde o começo do ano e tem a simpatia do "baixo clero", grupo de quase 300 deputados com pouco poder de decisão no Congresso. O temor é de um novo episódio como o de Severino Cavalcanti (PP-PE), eleito graças à divisão entre dois candidatos petistas em 2005.
A idéia de se lançar sem o apoio do partido é prevista no regimento interno da Câmara. Serraglio já se aproveitou da regra em 2006, quando venceu a disputa eleitoral pela primeira-secretaria sem fazer parte da chapa oficial do PMDB. "Nada me impede de conquistar uma boa quantidade de votos, inclusive entre a oposição."
Por outro lado, porém, o parlamentar não conta nem com o apoio da maioria dos sete deputados do partido no Paraná. Além de Parcianello, ele deve receber votos de Marcelo Almeida e Moacir Micheletto. Já Rodrigo Rocha Loures será um dos coordenadores da campanha de Temer.
"Senti falta do Serraglio na reunião. Ele deveria ter participado da disputa interna para mostrar a todos o que pretendia", disse Rocha Loures. "Por toda a crise econômica que enfrentamos, 2009 será um ano difícil e por isso será necessário, além de união, um nome como Michel Temer para administrar a Câmara."
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