Reeleito por 80% dos convencionais do PMDB para um novo mandato à frente do partido, o deputado Michel Temer (SP) saiu da convenção nacional de ontem fortalecido para defender o que disse considerar seu "projeto principal" nos próximos dois anos: viabilizar uma candidatura do partido à Presidência da República em 2010, com apoio dos outros partidos da coalizão do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
" Estamos numa coalizão governamental que pode se transformar em coalizão eleitoral. Como maior partido, o PMDB tem o direito de lançar o candidato " , afirmou Temer.
O resultado da convenção mostra o fracasso da tentativa de boicote do grupo liderado pelos senadores Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, e José Sarney (AP). Dos 558 convencionais do partido com direito a voto, 457 compareceram à convenção realizada em Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Como alguns deles têm direito a mais de um voto, foram dados, ao todo, 602 votos: 598 aprovando o diretório encabeçado por Temer, dois nulos e dois em branco. Todos os estados estavam representados, mesmo os do grupo de Renan e Sarney. Dos 14 convencionais de Alagoas, um compareceu (Joaquim Beltrão). Do Amapá, quatro dos seis convencionais participaram. O Pará do deputado Jader Barbalho foi onde o boicote mais funcionou: votaram apenas 4 dos 35 representantes do estado. Roraima do líder do governo no Senado, Romero Jucá, enviou dois dos seus quatro convencionais. Do Maranhão, compareceram sete dos 17 com direito a votar. E Rondônia, do líder do PMDB, Valdir Raupp, estava quase totalmente presente: dos 11 convencionais, faltou apenas um.
" Não defendi o boicote " , disse Renan após a convenção. Minimizou eventuais consequências da atual divisão que permaneceu no partido. " Foi uma disputa partidária normal no Brasil " .
Com a demonstração de força, o grupo representado pela bancada pemedebista da Câmara dos Deputados e pela ala " neolulista " , aglutinado em torno de Temer, saiu fortalecido para reivindicar de Lula mais um ministério - além da pasta da Integração Nacional, para a qual deve ser confirmado o deputado Geddel Vieira Lima (BA). " Qualquer participação do PMDB no governo vai levar em conta o tamanho do partido " , disse Temer.
A definição da reforma ministerial deve ocorrer entre hoje e amanhã, em encontro do presidente reeleito do PMDB com Lula. A bancada da Câmara reivindica o ministério do Turismo ou o da Agricultura. O nome cotado é o do deputado Eunício Guimarães (CE). Os deputados consideram pouco um ministério para contemplar uma bancada de 92 parlamentares, já que os senadores são representados por duas vagas na Esplanada: Comunicações, com Hélio Costa, e Minas e Energia, com Silas Rondeau, indicado por Sarney, além de diretorias de estatais e cargos nos Estados.
Renan, Sarney e a maior parte da bancada de senadores apoiaram a candidatura de Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que desistiu da disputa a seis dias da convenção, por falta de votos. Saiu acusando o governo de ter interferido a favor de Temer. O episódio gerou uma crise entre Senado e Câmara. Renan defendeu esvaziamento da convenção, alegando que Temer não representava a unidade do partido e sim a " divisão " .
Mas os senadores, com a renúncia de Jobim, foram aderindo a Temer. Seis dos 20 participam do diretório eleito ontem e dois, da Executiva Nacional: Joaquim Roriz (DF) e Gerson Camata (ES).
O ex-governador Anthony Garotinho (RJ) acabou sendo incluído na executiva, depois de muito constrangimento. O governador do Rio, Sérgio Cabral, que apoiou Jobim e compareceu à convenção, reivindicava para si a vaga do Estado na executiva e tentou vetar a participação do ex-governador. Na tentativa de pacificar, o líder do partido na Câmara, Henrique Alves, cedeu a vaga do seu estado, Rio Grande do Norte, já que ele vai ocupar uma vaga como líder. O representante de Garotinho na executiva seria o deputado Geraldo Pudim. Mas a cúpula do partido avaliou que um veto a Garotinho seria inexplicável, já que o ex-governador apoiou Temer. Na convenção, Garotinho fez um discurso moderado. Disse que o partido " não faltará " ao presidente Lula. Ele considerou prematuro discutir candidatura em 2010.
Embora Renan e Sarney não tenham conseguido frustrar a reeleição de Temer, os pemedebistas foram unânimes em defender a unidade partidária. A maior preocupação era dos governadores. " No day after, temos que ajudar Michel a fechar as feridas " , disse o governador Paulo Hartung (ES). Segundo ele, os governadores podem ajudar, porque não participaram diretamente dessa disputa eleitoral.
Além de Hartung e Cabral, participaram da convenção os governadores André Puccinelli (MS) e Marcelo Miranda (TO). Eduardo Braga (AM) não pôde ir por causa de uma infecção. Luiz Henrique (SC) viajou para a Alemanha. E Roberto Requião (PR) enviou representantes.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), esteve na convenção e, em discurso, disse que será " eternamente grato " ao PMDB pelo apoio à sua eleição. " Quando o PMDB, que tem a maior bancada, apoiou o candidato do segundo maior partido, mostrou sua capacidade de fazer alianças " , disse. Na véspera, o ex-ministro José Dirceu afirmou, em Brasília, que o candidato do governo à sucessão de Lula em 2010 poderá ser um não petista. Segundo Temer, a declaração é " coincidente " com o que tem defendido: um candidato do PMDB com apoio da coalizão.
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