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Nas diretrizes do programa de Dilma Rousseff, aprovado em fevereiro no 4º Congresso Nacional do PT, os petistas propõem exatamente o contrário do que é sugerido pelo PMDB: expandir as universidades públicas gratuitas | Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr
Nas diretrizes do programa de Dilma Rousseff, aprovado em fevereiro no 4º Congresso Nacional do PT, os petistas propõem exatamente o contrário do que é sugerido pelo PMDB: expandir as universidades públicas gratuitas| Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Brasília - Principal aliado do PT na campanha de Dilma Rousseff à Pre­­­sidência, o PMDB apresentará propostas para o programa de governo que colidem com o que os petistas pregam. No capítulo da educação, o PMDB aconselha Dilma a instituir "progressivamente" a cobrança de mensalidade nas universidades públicas federais, caso seja eleita presidente. O partido escalado para ocupar a vaga de vice na chapa acha que o governo deve cobrar prestação dos alunos "cuja renda familiar anual seja superior a 150 salários mínimos" – R$ 76.500 nos valores atuais.

"Essa proposta é inconstitucional", avaliou o jurista Dalmo de Abreu Dallari, ao destacar que o artigo 206 (inciso IV) da Constituição Federal garante a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. Para Dallari, a sugestão é "puramente demagógica" e não tem futuro. "Trata-se de expressão de egoísmo e insensibilidade social", afirmou.

Nas diretrizes do programa de Dilma, aprovado no 4.º Congresso do PT, em fevereiro, os petistas propõem exatamente o contrário. Diz o texto que, para ter educação de qualidade e constituir uma sociedade do conhecimento, será necessário "aprofundar o processo de expansão das universidades públicas". Desde 2003, o número de vagas nas universidades federais subiu de 113 mil para 228 mil, segundo o Ministério da Educação.

A comissão que redige a plataforma a ser entregue a Dilma já produziu vários textos. Num deles, chegou a sugerir o "fim da gratuidade do ensino superior", sem nenhum parâmetro de renda familiar, mas a ideia foi vetada, sob a alegação de que a campanha de Dilma seria acusada de "privatista". A última versão do documento, intitulado "Um caminho para o Brasil", encontrou a fórmula dos 150 salários mínimos após muitos cálculos.

Mesmo assim, antevendo mais polêmica, o PMDB cortou o trecho que propunha o fim das cotas raciais nas universidades. En­­­caixou, no entanto, um tópico que prevê o pagamento de uma poupança, na conclusão do ensino médio, para as crianças beneficiadas pelo Bolsa Família.

Choque de gestão

Para arrepio do PT e do governo, o programa do PMDB também bate na tecla do "verdadeiro choque de gestão" para reconstruir o Estado. Vendido como marca registrada dos tucanos, o termo "choque de gestão" é abominado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Cada vez que a gente contrata mais, há sempre pessoas que fa­­­zem duras críticas de que o Estado está inchando, de que é preciso que tenha um choque de gestão no país, e vai por aí afora", lamentou Lula, durante cerimônia de sanção de um projeto de lei que cria varas da Justiça Federal, em agosto. "O que as pessoas não se dão conta é que, se tudo funcionar como um relógio, o custo do país será infinitamente menor."

Depois de o PT pregar um Estado forte, o PMDB agora propõe metas para os servidores. Embalado pelo slogan do partido – Há muito Brasil pela frente –, o programa sustenta que é preciso "desenvolver as práticas de avaliação, de cobrança e de incentivo da qualidade do desempenho do Estado".

Uma versão anterior, produzida pelo ex-ministro Mangabeira Unger, ignorava a vocação do PMDB de se manter no poder e disputar espaços no governo. O texto de Mangabeira descrevia "ilhas de profissionalismo administrativo no serviço público" flutuando em "oceano de discricionariedade política". Para ele, o antídoto era e ainda é "organizar as carreiras de Estado e colocá-las no lugar da grande maioria de cargos comissionados, de indicação política". Esse trecho, porém, não consta da última redação.

No capítulo dedicado à economia, o PMDB defende com todas as letras a manutenção da política de metas de inflação, câmbio flutuante e "compromisso com a responsabilidade e realismo fiscais". Detalhe: o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, está na comissão responsável pelo programa de governo, que só deverá ficar pronto no final deste mês. A plataforma será apresentada na convenção nacional do PMDB, em 12 de junho.

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