Dilma cumprimenta a presidente empossada do Chile, Michelle Bachelet: petista começou o dia tentando minimizar a crise com a base; terminou com dura derrota na Câmara| Foto: Maglio Perez/ Reuters

Temer tenta costurar acordo, mas perde o controle do partido

Não foi apenas a presidente Dilma Rousseff que sofreu ontem uma dura derrota. O vice-presidente Michel Temer, presidente nacional licenciado do PMDB, perdeu o controle que imaginava ter sobre o partido. Principal articulador do apaziguamento da legenda na Câmara, foi criticado por correligionários nos bastidores. E ficou falando no vazio.

Na manhã de ontem, Temer se reuniu no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência, com o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e com o líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ). Mais tarde, junto com Alves, se encontrou com a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti.

Procurava convencer o partido a não se rebelar contra o Planalto. Chegou a dar declarações otimistas. "A presidente [Dilma] foi clara ao dizer que o PMDB só dá alegrias. E só dá alegrias mesmo: apoia o governo, ajuda o governo, de modo que a presidente foi muito explícita em relação à frase que formalizou", disse ontem à tarde.

Mas o próprio Henrique Eduardo Alves "traiu" Temer ao incluir na pauta da Câmara, mais tarde, a votação do requerimento para criar a comissão de investigação da Petrobras. O sentimento da base do PMDB é de que Temer não se importa com o partido e só pensa em si mesmo: quer se lançar novamente a vice de Dilma.

Das agências

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Em visita ao Chile, a presidente Dilma Rousseff procurou ontem minimizar a crise do Planalto com a base aliada no Congresso – especialmente com o PMDB, o maior partido da coalizão governista. Disse que está satisfeita com a relação com os parlamentares peemedebistas. "O PMDB só me dá alegrias", disse, em entrevista antes de participar da posse da presidente eleita do Chile, Michelle Bachelet. Apesar disso, horas mais tarde Dilma sofreu uma dura derrota na Câmara dos Deputados imposta por aliados: a criação de uma comissão de deputados para investigar no exterior denúncias de corrupção envolvendo a Petrobras.

Ao final da votação, 267 parlamentares apoiaram o requerimento para criar a comissão, 28 se manifestaram contrários e 15 se abstiveram. A aprovação contou com apoio maciço de partidos da base: PMDB, PR, PTB e PSC orientaram suas bancadas a votar contra os interesses do Planalto.

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Propina holandesa

A comissão externa vai acompanhar, na Holanda, as investigações de um suposto esquema de pagamento de propina da empresa holandesa SBM Offshore a funcionários e intermediários da Petrobras, em negócios envolvendo o fretamento de plataformas.

O governo passou o dia tentando convencer os deputados insatisfeitos a não aprovarem a investigação. O Planalto prometeu levar ao Congresso Nacional ministros para explicarem as medidas que estão sendo adotadas para apurar o caso.

Deputados petistas argumentaram que o Ministério Público holandês ainda não decidiu se há elementos para abrir uma investigação formal. "Há um grave erro político porque nós poderemos prejudicar a Petrobras e colocar a Petrobras, no plano internacional, sobre uma suspeição que ainda não existe", declarou o líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (SP).

Falou mais alto, no entanto, o descontentamento da base aliada com o Planalto. Na lista de reclamações, constam acusações de que o governo beneficia deputados do PT, contingenciamento de emendas parlamentares (vitais para os congressistas em ano eleitoral) e a indefinição na reforma ministerial conduzida pela presidente Dilma Rousseff.

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O Planalto designou ontem o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, para tentar esvaziar pessoalmente o Blocão de partidos insatisfeitos. Um dia antes, Dilma havia se comprometido pessoalmente a fazer campanha para candidatos peemedebistas em estados onde o PT também terá concorrentes ao governo estadual. Chegou a sinalizar que em seis estados (Maranhão, Goiás, Alagoas, Paraíba, Tocantins e Rondônia) o PT poderia até desistir da candidatura. Nada deu certo e a derrota na Câmara sinalizou que a insatisfação da base é maior do que o Planalto avaliava.